The Film Handbook#135: George Cukor

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George Cukor
Nascimento: 07/07/1899, Nova York, Nova York, EUA
Morte: 24/11/1983, Hollywood, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1930-1981

Apesar de frequentemente ser considerado como adaptador de obras teatrais e literárias, e por seu talento único na lida com as estrelas femininas,  George Dewey Cukor foi um dos melhores diretores hollywoodianos. Nunca inovador, sempre fiel ao material de origem, feliz dentro do sistema de estúdios, ele criou um corpo de trabalho de enorme engenhosidade e elegância.

Já estabelecido como diretor de talento no teatro nova-iorquino, Cukor foi para Hollywood em 1929 como diretor de diálogos para Sem Novidades no Front/All Quiet on the Western Front, de Lewis Milestone. Ele iniciou sua carreira como diretor com versões cinematográficas de peças, mais notoriamente The Royal Family of Broadway, uma comédia baseada nos Barrymores. De forma mais memorável, dois filmes realizados em 1932 - Hollywood/What Price Hollywood?>1 e Vítimas do Divórcio/A Bill of Divorcement - estabeleceram seu estilo futuro: o primeiro sobre as tristes realidades humanas por trás da fachada glamorosa da indústria do cinema, revelou seu interesse na ilusão e na interpretação de papéis; o último foi o primeiro dos dez filmes que realizaria com Katharine Hepburn, apresentando mulheres invulgarmente fortes, inteligentes e independentes.

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A quase lendária Garbo em estado de espírito melancólico em A Dama das Camélias de Cukor

Ao filmar clássicos como David Copperfield (com W.C. Fields brilhantemente escalado como Micawber) e A Dama das Camélias/Camille (com Garbo), a sofisticação visual de Cukor e sua facilidade com atores e diálogos literários se tornou evidente. Sua obsessão com formas variadas de teatralidade foi o foco de uma série de dramas-comédias mais modernas: Vivendo em Dúvida/Sylvia Scarlett>2, uma sedutora comédia romântica sobre um grupo de saltimbancos cockneys, observa Hepburn posando como rapaz metade do filme; As Mulheres/The Women>3 (realizado por Cukor após ser demitido de ...E O Vento Levou) é estrelado por um elenco completamente feminino e maquiavélico que se merecem enquanto se encontram em um rancho em resposta ao iminente divórcio de uma do grupo; Boêmio Encantador/Holiday e Núpcias de Escândalo/The Philadelphia Story>4 descrevem a ruína das ilusões perversas de famílias da elite pela chegada de não conformistas sensatos. Mesmo retendo os diálogos sofisticados das peças originais, Cukor evita o efeito do arco de proscênio com astutas posições de câmera e longos e fluidos planos; novamente prova o abismo entre imagens pública e privada. Ainda que ao apresentar as desilusões e mentiras do  mundo, nunca tenha sido cínico: como Renoir, seus personagens possuem suas razões, sendo observados com simpatia não sentimental.

O tema da falsa aparência ganha conotações mais sinistras em O Fogo Sagrado/Keeper of the Flame (um herói americano morto é descoberto como tendo sido um fascista) e Á Meia-Luz/Gaslight>5 (uma mulher é posta em risco pela encenação de eventos de seu marido ladrão de joias que sugerem ela se encontrar insana). Após a guerra, no entanto, uma colaboração com os roteiristas Ruth Gordon e Garson Kanin levou-o a uma série de brilhantes comédias sobre as decepções e manipulações efetuadas pela guerra dos sexos. Em A Costela de Adão/Adam's Rib>6, Hepburn e Tracy são advogados casados, em posições opostas em um caso de assassinato, transformando o tribunal em um teatro, enquanto sua vida doméstica testemunha uma reversão dos papéis tradicionais; em Nascida Ontem/Born Yersterday - uma atualização da história de Pigmalião - a "loura burra" escaldada de Judy Holliday é tão astuciosamente inteligente que triunfa com facilidade sobre a grosseria de seu amante rufião, de modos chauvinistas.

Nos filmes baseados em Nova York escritos por Kanin & Gordon, Cukor passou a combinar cenas de estúdio com locações; Nasce uma Estrela/A Star is Born>7 foi uma mudança para as cores e o CinemaScope. Seu primeiro musical (um melodrama maduro não muito distinto em seu tema de Hollywood e traçando a morte trágica de um ídolo das matinês enquanto sua esposa-cantora ascende ao estrelato) confirmava a crescente confiança visual de Cukor. Trabalhando com o diretor de fotografia George Hoyningen-Heune, utilizou a cor de forma sutil para sugerir atmosfera e temperamento, e quebrou as extensões longínquas da tela ampla com diagonais dramáticas. Ainda mais impressionante, em A Encruzilhada dos Destinos/Bhowani Junction>8, sobre uma indígena cujo amor de sua vida é arruinado pela confusão sobre sua identidade racial, ele atreveu-se no Expressionismo (a fumaça vermelha da locomotiva cobre o quadro quando ela mata um bêbado em autodefesa) e habilmente organizou grandes multidões para evocar uma nação em tumulto com a retirada britânica.

Apesar de se afastar cada vez mais dos dramas domésticos que haviam lhe angariado sua reputação, Cukor permaneceu fiel a sua visão da vida como teatro. Até mesmo seu único western, O Pistoleiro e a Bela Aventureira/Heller in Pinker Tights>9, segue uma trupe teatral ao redor de um Oeste sem lei (seu clímax traz a vida imitando a arte: um pistoleiro consegue escapa da lei assumindo o papel de Mazeppa). No entanto, durante os anos 60 e 70 Cukor - um diretor clássico e no velho estilo - frequentemente foi menos feliz com material inadequado. Escalações inapropriadas de elenco, especialmente, prejudicaram Minha Bela Dama/My Fair Lady (Audrey Hepburn como Elza Dollitle), Justine (filme originalmente a ser chamado The Alexandria Quartet a partir do romance de Lawrence Durrell e que Cukor assumiu das mãos de Joseph Strick) e Viagens com a Minha Tia/Travels with My Aunt. Dois filmes para televisão, com Katharine Hepburn (Amor Entre Ruínas/Love Among the Ruins e O Coração Não Envelhece/The Corn is Green) apresentava sua continuada maestria com material mais intimista, mas Ricas e Famosas/Rich and Famous - uma refilmagem de Uma Velha Amizade/Old Acquaintance filmada quando ele tinha 82 anos - foi um testamento indigno de uma carreira notável.

Por alguns anos o mais velho diretor em atividade nos Estados Unidos, Cukor foi digno de nota por sua sutil sofisticação, sua direção de atores e uma habilidade para entreter sem subestimar o público. Sua visão da vida como o melhor desempenho deu origem a uma mescla perfeita entre forma e conteúdo, marca de qualquer realizador maior.

Cronologia
O interesse de Cukor na teatralidade e nas interpretações pode ser comparado com o de Renoir, Jacques Rivette, Kazan, Penn e Cassavetes.

Leituras Futuras
George Cukor (Londres, 1976), de Carlos Clarens; On Cukor (Nova York, 1972), de Gavin Lambert é uma longa entrevista em formato de livro.



Destaque
1. Hollywood, EUA, 1932 c/Constance Bennett, Lowell Sherman, Gregory Ratoff

2. Vivendo em Dúvida, EUA, 1936 c/Cary Grant, Katharine Hepburn, Edmund Gwenn

3. As Mulheres, EUA, 1939 c/Norma Shearer, Joan Crawford, Rosalind Russell

4. Núpcias de Escândalo, EUA, 1940 c/Katharine Hepburn, Cary Grant, James Stewart

5. Á Meia-Noite, EUA, 1944 c/Ingrid Bergman, Charles Boyer, Joseph Cotten

6. A Costela de Adão, EUA, 1949 c/Spencer Tracy, Katharine Hepburn, Judy Holliday

7. Nasce uma Estrela, EUA, 1954 c/Judy Garland, James Mason, Jack Carson

8. A Encruzilha dos Destinos, EUA, 1956 c/Ava Gardner, Stewart Granger, Bill Travers

9. O Pistoleiro e a Bela Aventureira, EUA, 1960 c/Sophia Loren, Anthony Quinn, Steve Forrest

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 67-9.


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