Filme do Dia: Cidade sem Compaixão (1961), Gottfried Reinhardt
Cidade sem Compaixão (Town
Without Pity, EUA/Al.Ocidental/Suiça, 1961). Direção: Gottfried Reinhardt. Rot. Adaptado:
George Hurdalek, Jan Lusting & Silvia Reinhardt, baseado no romance The
Verdict de Erwin C. Dietrich. Fotografia: Kurt Hasse. Música: Dimitri
Tiomkin & Ned Washigton. Montagem: Walter Boos, Herman Haller & Werner
Preuss. Dir. de arte: Rolf Zehetbauer. Cenografia: Werner Achmann,
Friedhelm Boehm & Rolf Zehetbauer. Figurinos: Lilo Hagen. Com: Kirk Douglas, Barbara Rütting,
Christine Kaufmann, E.G. Marshall, Gerhard Lippert, Hans Nielsen, Ingrid van
Bergen, Robert Blake, Richard Jaeckel, Frank Sutton.
Numa pequena cidade alemã, a jovem Karin Steinhof
(Kaufmann), filha de uma influente família local, é estuprada por quatro
soldados americanos, logo após abandonar o namorado, Frank Borgmann (Lippert).
O Major Steve Garrett (Douglas), sagaz e experiente advogado, é contratado para
defender os soldados. A cidade toda se alarma com o crime e uma jornalista,
Inge Koerner (Rütting), passa a investigá-lo. Durante o extenuante julgamento,
Steve Garrett tenta convencer o pai da garota de que melhor será fazer um
acordo para que a poupe da tensão, alertando ao mesmo tempo que não conseguirá
a pena capital para os condenados, motivo pelo qual o pai insiste que sua filha
permaneça no julgamento. Com o rechaço da atitude do pai, Garrett perde
qualquer escrúpulo e consegue transtornar Inge ao ponto dela desmaiar no
tribunal, conseguindo manipular informações e desfazer a imagem santificada que
dela possuía o pai. As conseqüências logo se fazem sentir, criando um clima de
tensão crescente na residência dos Steinhof. Ridicularizada pelas pessoas da
cidade e sabendo que será condenada eternamente a ser lembrada pelo episódio,
Karin aceita fugir com o namorado Frank, mas ambos são pegues pela polícia, que
fora advertida pela mãe de Frank. Karin foge e se mata, jogando-se no rio.
Esse drama,
procura denunciar como as limitações da mentalidade provinciana, mais
que o próprio ato do estupro, são fundamentais para a auto-destruição da
protagonista. O resultado final, longe do satisfatório, evidencia que o filme se
torna presa, em última instância, da
mesma estrutura de escândalo que rodeia os fatos, reproduzindo a lógica de
qualquer tabloide sensacionalista, como o que a jornalista faz parte (embora
sua presença como narradora soe forçosa e longe de ser igualmente
satisfatória). Tal estrutura se reflete igualmente na trilha sonora. Nesse
sentido, segue o modelo de Anatomia de um Crime (1959), de Otto Preminger, também referente a um processo em que o estupro de uma bela garota é
o chamariz. Com todos seus defeitos, o filme consegue transcender a mera
estrutura de suspense que gera o processo, como caso individual (nesse sentido
a estrutura do filme de Preminger torna-o incomparavelmente mais excitante)
para enfocar, sobretudo, sua ressonância em um pequeno grupo social. Douglas
desempenha a boa consciência, porém longe de um romantismo leviano: quando sabe
da notícia da morte da garota pela jornalista, ao se preparar para abandonar a
cidade, vomita no banheiro e logo se recupera e afirma que esquecera a escova
de dentes. Gloria Film GmbH/Mirisch Co./OSWEG. 105 minutos.
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