Filme do Dia: O Povo Contra Larry Flynt (1996), Milos Forman
O Povo Contra Larry Flint (The People Vs. Larry
Flint, EUA, 1996). Direção:
Milos Forman. Rot. Original: Scott Alexander & Larry Karaszewski.
Fotografia: Phillippe Rousselot. Música: Thomas Newman. Montagem: Christopher
Tellefsen. Dir. de arte: Patrizia von Brandenstein, Shawn Hausman & James
Nedza. Cenografia: Maria Nay & Amy Wells. Figurinos: Arianne Phillips &
Theodor Pistek. Com: Woody Harrelson, Courtney Love, Edward Norton, Brett
Harrelson, Donna Hanover, James Cromwell, Crispin Glover, Vincent Schiavelli.
Larry
Flint (Harrelson), após comandar um clube de strip-tease surge com uma proposta
de revista de nudez mais agressiva que suas concorrentes, Hustler, que lhe causa várias reações e também uma motivação a
lutar pelas liberdades democráticas, através do advogado Alan Isaacman
(Norton). Unido a uma das meninas que trabalhou para sua revista, Althea
(Love), eles conseguem atingir uma venda expressiva com fotos da ex-primeira
dama, Jacqueline Onassis, nua. Com a celebridade nacional, Larry desperta a
atenção da irmã do então presidente Jimmy Carter, Ruth (Hanover), que o
converte em evangélico. Ele provoca uma mudança editorial na revista para se
adaptar a sua nova condição, porém um atentado contra sua vida que o deixa
paralítico, faz com que retorne a uma agressividade e a crescente paródia dos
valores conservadores, encarnados na figura do reverendo Jarry Falwell (Paul).
Com os problemas de saúde e dores crescentes, Flint se torna dependente de
morfina e outras drogas e Althea lhe segue. Após uma cirurgia, ele consegue se
livrar das dores e do vício, mas não Althea que, enfraquecida pela AIDS, morre
de overdose. Flint decide não revelar as fontes que lhe proporcionaram os
vídeos que incriminavam o comerciante de carros John DeLorean por tráfico de
drogas. Convence Alan a ir até o Supremo, após perder uma causa contra Falwell,
e vence a mesma.
Movendo-se
em território bastante codificado, inclusive pelo próprio Forman ao longo de
sua carreira, da luta pelos valores liberais que concretizaria o que melhor
poderia representar a América em sua faceta mais positiva, o filme pode então
se dedicar a seu tema, cuja polêmica e potencial agressividade associada ao
universo da pornografia se torna secundarizado enquanto emblemático dos ideais
referidos. Interpretados com a eficácia conhecida dos cacoetes do naturalismo
americano, o filme torna bastante fácil
a identificação com o carisma libertário de seu protagonista – espécie de
sucedâneo do Nicholson de Um Estranho noNinho – sendo que o próprio tormento pessoal vivido por ele, cujo ápice é a
morte da companheira, torna-se justificado pela vitória conseguida na justiça.
Aliás, preceitos cristãos servem como uma luva para a própria trajetória de um
personagem que após todos os excessos sexuais se vê confinado a uma cadeira de
rodas e todas as outras restrições associadas ao lado mais conservador e
totalitário da sociedade na qual vive. Dentre o farto manancial de clichês se
encontra o prólogo, em que dos dois irmãos filhos de um pai alcóolatra e pobre
(vividos pelos irmãos Woody e Brett), o pequeno Larry já antecipa sua fibra de
lutador, com ações e uma frase digna retrospectivamente do magnata que se
tornou. A suavização dada ao personagem de Flint serve a propósitos vários como
a de uma maior afinidade com os preceitos de herói contestador que o filme
pretende emular, assim como de facilitar a concisão do roteiro – ao invés, por
exemplo, de apresentar as três amantes,
tendo tido um filho com cada, que fazem parte da biografia de Flint; ou ainda,
deixando de fora o derrame provocado pelo excesso de drogas. Urso de Ouro no
Festival de Berim. Columbia Pictures/Filmhaus/Illusion Ent./Ixtlan/Phoenix
Pictures para Columbia Pictures. 129 minutos.
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