Filme do Dia: Venice 70: Future Reloaded (2013), Vários


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Venice 70: Future Reloaded (EUA, 2013). Direção: Karim Ainouz (O Homem Que Desarmava Bombas); John Akomfrah (Three Degrees of Proximity to Disaster); Hala Alabdalla; Catherine Breillat, Júlio Bressane, Rama Burshtein, Antonio Capuano, Peter Ho-Sun Chan (The Future Was in Their Eyes); Isabel Croixet; Amiel Courtin-Wilson, Jan Civkovik (I Was a Child); Claire Denis; Lav Diaz (The Firefly), Atom Egoyan (Butterfly), Aleksei Fedorchenko (Atavism); Davide Ferrario (Lighthouse), James Franco (The Future of Cinema); Lluis Galter; Haile Gerima; Alexey German Jr. (5000 Days Ahead), Amos Gitai, Monte Hellman (Vive L’Amour); Hong Sang-soo (50:50); Benoît Jacquot, Jia Zhang-ke; Semih Kaplanoglu (Devran), Shekhar Kapur, Marlen Khutsiev (In Perpetuum Infinituum); Abbas Kiarostami; Kim Ki-duk (My Mother); Yorgos Lanthimos (Necktie); Pablo Larraín; Tobias Lindholm (The Hit); Guido Lombardi (Senza Fine); Jazmín López; Milcho Manchevski (Thursday); Samuel Maoz; Pietro Marcello; Franco Maresco (L’Ultimo Leone); Brillante Mendoza (The Camera); Salvatore Mereu (Transumanza); Celina Murga; Amir Naderi (Don’t Give Up); Shirin Neshat, Ermanno Olmi (La Moviola); Nicolás Pereda; Franco Piavoli; Giuseppe Piccioni; Michele Placido (Yorick’s Speech); Edgar Reitz; João Pedro Rodrigues (Alegoria della Prudenza); Walter Salles; Paul Schrader & Andrew Wonder; Ulrich Seidl (Hakuna Matata); Todd Solondz; Sono Sion (My Future is Cinema’s Future); Jean-Marie Straub (Silent Film); Tusi Tamasese (Sound…and Image); Tariq Teguia (Le Cinema); Pablo Trapero (The Cinema is All Around); Athina Rachel Tsangari (24 Frames per Century); Shinya Tsukamoto & Kounosuke Tsukamoto (Abandoned Monster); Teresa Villaverde (Amapola); Wang Bing; Apichatpong Weerasethakul; Yonfan (Ritmo); Krzysztof Zanussi. Rot. Original: Lav Diaz (The Firefly); Samuel Maoz; Celina Murga; Gabriela Amaral Almeida; Athina Rachel Tsangari & Matt Johnson (24 Frames per Century). Fotografia: Ali Olcay Gözkaya (O Homem Que Desarmava Bombas); Dewald Aukema (Three Degrees of Proximity to Disaster); Hala Alabdalla & Alexandre Dupouey; Daniel Kedem; Lav Diaz (The Firefly), Robert Scarborough (Butterfly), Igor Petrov (Atavism); Bradford Young; Maxim Drozdov (5000 Days Ahead); Yu Lik-wai; Vladimir Osherov (In Perpetuum Infinituum); Thimios Bakatakis (Necktie; 24 Frames per Century); Thobias Hochstein; Vincenzo Condorelli (L’Ultimo Leone); Dante Mendoza (The Camera); Massimo Foletti (Transumanza); Fernando Lockett; Alejandro Coronado; Francesca Amitrano; Alberto Bellezzia; Wang Bing & Li Peifeng; Wang Yu (Ritmo); Piotr Niemyjski  Música: Bachar Kalifé; Leon Ko (The Future Was in Their Eyes); Vincenzi Vandella; Fabio Barovero (Lighthouse); Stefano Falivene; Cristian Echeverría; Igor Vasilev Novogradska (Thursday), Valerio Faggioni; Wolfgang Thaler & Ed Lachmann (Ratuna Matata); Federico Cesca; Tim Prebble (Sound...and Image).  Montagem: John Kadocsa (O Homem Que Desarmava Bombas); Graham Taylor (Three Degrees of Proximity to Disaster); Aurore Mréjen; Derek Hui (The Future Was in Their Eyes), Carla Sospedra; Roman Vazhenin (Atavism), Cristina Sardo (Lighthouse), Krystian Ramlogan, Sergei Ivanov (5000 Days Ahead); Zhou Jingjing; Yorgos Mavropsaridis (Necktie); Juan Cristóbal Meza; Adam Nielsen (The Hit); Peter Mostert (Thursday); Arik Lahav Leibovich; Sara Fgaier; Maxine S.Torre (The Camera). Paola Freddi (Transumanza); Amir Naderi (Don’t Give Up): Luca Severi & Serena De Marzi (Yorick’s Speech); Justin Sharp; Tusi Tamasese (Sound…and Image); Matt Johnson (24 Frames per Century). Dir. De arte: Leonid Pertsev (In Perpetuum Infinituum); Dante Mendoza (The Camera). Figurinos: Charlotte Walter (Necktie); Laura Sheim; Vassilia Rozana (24 Frames per Century). Com: Clemens Schick (O Homem Que Desarmava Bombas); Oleg Yagodin, Vera Tsivtkis, Sergei Rovin, Ekaterina Sokolova, Julia Bespalova, Aiexei Fedorchenko (Atavism); Isabelle Ingold; Shannyn Sossamon, Tygh Runyan (Vive L’Amour); Moon Sori, Kim Euisung, Seo Younghwa (50:50);  Tian Yuan, Qin Hao; Heeraz Marfatia, Bakul Sharma, Anish Patel; Mikhail Pakhomenko, Vladislav Vetrov (In Perpetuum Infinituum); Shahed Sherafat, Amir Hossein Mohammad nejad, Mani Sherafat;  Jessica Hoare, Mia Jenkins, Callum May, Spike White, Macy Young (Necktie); Pilou Asbaek, Dar Salim Dop (The Hit); Guido Lombardi, Roberta Seretiello (Senza Fine); Moni Moshonov, Ruth Rasiuk; Bernardo Greco (L’Ultimo Leone); Victorio Romero, Bessy Padilla (The Camera); Luisa Pardo, Gabino Rodríguez; Shota Sometani (My Future is Cinema’s Future); Pouoa Malae Lialia’I, Lena Rivers (Sound…and Image); Evangelia Randou (24 Frames per Century); Alexandre Pinto (Amapola)

Com curtas tão curtos e em tão grande quantidade, fica difícil, inclusive, depurar aqueles que trazem algo a lhe despertar atenção por algum motivo. Do de Ainouz, com o mesmo ator de seu  Praia do Futuro (de costas a maior parte do tempo, é bem verdade), chama a atenção pela beleza da imagem, a partir de um terreno não muito definido entre o sólido e o aquoso. Do de Breillat fica uma impressão algo mal-humorada e egotista, pois a própria cineasta observa um grupo de jovens que oscila entre ir assistir a algum filme dela ou algo mais “leve”. A experimentação de Bressane entre filmes de arquivos pessoais (incluindo imagens de Veneza, algo também presente no curta de Isabel Croixet e, algo deslocadamente, do próprio realizador no tapete vermelho do Festival de Veneza) e esboços de encenação idem. Já o de Burshtein parece fazer uma alusão galhofeira ao célebre The Big Swallow,mas finda com uma motivação bastante distinta para o homem não abrir sua boca, a vergonha dos próprios dentes, conseguindo reunir possibilidades de interpretação variadas, incluindo a do próprio voyeurismo invasivo que significa filmar alguém. Ho-Sun Chan brinca com a ideia de um futuro do pretérito, assinalando o ano de nascimento e morte de grandes realizadores, cronologia organizada a partir das perdas mais recentes para as mais distantes (Bergman, Antonioni, Edward Yang, Billy Wilder, Kubrick, Kurosawa, King Hu, Fellini, Satyajit Ray, David Lean, Capra, Cassavetes, Tarkovski, Welles, Truffaut, Hitchcock, Renoir, Chaplin, Rossellini, Visconti, Lang, Bruce Lee, Ozu, Mu Fei, Griffith, Eisenstein, Méliès, Irmãos Lumière). Se a ideia remete a um tributo pessoal, já que finda com Yours Sincerely na letra do realizador seguido por sua assinatura e possui algum apelo em relação ao projeto como um todo, fica prejudicado pelo tom bastante similiar ao das homenagens anuais aos falecidos pela Academia de Hollywood, algo ainda mais ressaltado pela insossa trilha incidental que foi utilizada.  Também faz-se digno de nota a inclusão de alguns realizadores orientais que habitualmente não se encontrariam talvez em um panteão semelhante (King Hu, Mu Fei) e até a inusitada presença de Bruce Lee, que dirigiu somente um filme em vida. Um homem de rosto sulcado e unhas sujas toca na gaita Amazing Grace em uma rua da Austrália para o câmera de Courtin-Wilson. Num dos curtas mais interessantes, I Was a Child, virtuosos movimentos de câmera nos levam do presente ao passado, em algo que se pressupõe ter alguma dimensão autobiográfica, mas igualmente fazendo uso de passagens de um conto de Salinger e deixam espaço para a ambiguidade – a figura que discute com um homem é mãe da narradora e de sua irmã bebê ou se tratra da própria? The Firefly parece trazer consigo a expectativa entre o documentário e a ficção do Primeiro Cinema, mas que acaba por sinalizar para a linha do cinema-ensaio, a partir do breve acompanhamento de um idoso anônimo da perspectiva de uma janela. James Franco, a partir de comentários de Coppola ao início (imagens de arquivo), visualiza o que seria uma produção audiovisual realizada por toda e qualquer pessoa e não mais profissionais e o resultado, entre enigmático e o videoclip, contando com a presença do próprio Franco a assistir as imagens, não parece muito diverso do que é produzido pela indústria. Difícil algum outro curta bater a fotografia e a criação de situação evocativa de um longa-metragem, quase a pedir que algo mais se desenrole que o soviético 5000 Days Ahead. A voz inconfundível de Jeanne Moreau nos guia pelo curta de Amos Gitai, que pretende ser um poema visual, a partir de fotos fixas do próprio Gitai à beira mar. Se o de Benoît Jacquot poderia se encontrar próximo dos screen tests de Warhol, com um plano de uma bela garota a olhar fixamente para uma câmera igualmente fixa, Hong Sang-soo consegue criar uma situação interessante e mesmo algo densa e cômica ao mesmo tempo de tão pouco tempo com seu 50:50. Jia Zhang-Ke parece apostar que alguns dos filmes da Quinta Geração, de realizadores como Chen Kaige (Terra Amarela) terão a mesma perenidade de clássicos como Primavera numa Pequena Cidade (1948), de Mu Fei. Assim como Black Snow (1990), de Fei Xie e The Godess (1934), de Wu Yonggang, reforçando ainda mais o paralelo. Os espectadores assistem tais cenas em shoppings futuristas ou dos seus celulares numa dinâmica visual talvez mais familiar aos filmes de Wong Kar-wai. Embora o plano único com imagem fixa de uma paisagem não muito visível de uma floresta repleta de cigarras a iluminar a composição de uma forma próxima aos riscos dos filmes em má conservação em Devran sugira a proximidade com o universo mitológico que irrompe nos filmes de Apichatpong Weerasethakul, trata-se de um realizador turco. Uma orgia de cores e sensualidade ao limite de construir abstrações a partir de imagens do cotidiano deformadas no curta de Kapur. Kiarostami faz um curta-referência a L’Arrouser Arosé, dos Lumière, melhor referenciado (mais que apenas reverenciado) por um cineasta experimental como Malcolm Le Grice (After Lumière: L’Arrouser Arosé). Kim Ki-Duk presta um singelo e comovente tributo a sua própria mãe que, mesmo com grande dificuldade de locomoção devido a idade avançada, sai para comprar repolhos para preparar para o filho. Necktie chama atenção por ser um dos mais visualmente esplendorosos, pela música de Bach e também por seus créditos “finais” que atestam o grande cuidado de produção e a quantidade de envolvidos, surgindo durante frações de segundo e virtualmente impossibilitando sua leitura. Transumanza, um tributo a Vittorio De Seta, reconstrói a possibilidade do lugar-comum do jovem que não mais quer se render ao trabalho pesado de camponês, com o celular ao lado, para apresentar a continuidade – inclusive da miséria – do que fora o velho que o acompanha, outrora criança no filme de De Seta (Banditi a Orgosolo). Talvez seja o curta que melhor equilibre qualidade técnica-estética da imagem e profundidade retórica. A partir de cenas de Outubro e, sobretudo, O Encouraçado Potemkin, Shirin Neshat faz com que, na célebre sequencia da Escadaria de Odessa, a mãe que teve sua criança massacrada consiga ter ascendência sobre os soldados, a partir de uma trucagem com reversão da imagem. Walter Salles revisita o tema epistolar (Central do Brasil) como forma de expressar afeto, através da carta de uma mãe para uma filha e de uma ficção criada a partir de fotografias de anônimos, recurso evocativo de Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos), ainda que utilizado aqui com maior sensibilidade. Um dos curtas mais longas, como é o dirigido por Solondz, com mais de 3 minutos, conta surpreendentemente somente com uma tela com pretenso programa que direcionará aos estudantes vários módulos a serem estudados por acadêmicos de cinema na China. Num desses módulos, uma pesquisa elenca filmes seminais da história do cinema a serem estudados através de seus “signos e sistemas” (O Triunfo da Vontade, Rocky, A Noviça Rebelde, Forrest Gump, A Paixão de Cristo, Transformers). Tudo é apresentado com o timbre metálico de um programa de áudio, o que torna ainda mais nonsense as referências a opção de introdução anal dos dados opcional e a ser consultada junto ao professor. Straub, com seu Silent Film, faz uma colagem de ideias (e literalmente de textos igualmente) citando  Renoir, e Jacques Becker com plano fixo que se detem sobre um livro aberto e alguns trechos de anotações do próprio punho de Straub se sobrepondo a alguns trechos desse. Exista ainda quem resolva, sem muita cerimônia, fazer um auto-tributo, como Zanussi, que em seu curta apresenta duas crianças retirando de uma lata de lixo o seu filme premiado em Veneza em 1984 (e caído no esquecimento?). Não se trata da versão mais completa, já que alguns curtas (como o de Bertolucci) não se encontram disponíveis por questões vinculadas a direitos autorais. 120 minutos.


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