The Film Handbook#199: John Cassavetes

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John Cassavetes
Nascimento: 09/12/1929, Nova York, NY, EUA
Morte: 03/02/1989, Los Angeles, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1958-1986

Os notáveis, algumas vezes enfurecidos, frequentemente brilhantes filmes de John Cassavetes ocupam uma posição única no cinema americano. De baixo orçamento, parcialmente improvisados, inspirados pelos documentários cinema verité e próximos do cinema underground, atingiram, apesar disso, frequentemente  um público amplo e profundamente apreciador.

Após estudar teatro, o jovem Cassavetes rapidamente se destacou como um ator de rara crueza e intensidade, frequentemente aparecendo em filmes sobre uma juventude insatisfeita e rebelde tais como Rua do Crime/Crime in the Streets e Um Homem Tem Três Metros de Altura/Edge of the City. Comandando uma oficina de atores, trabalhou para transformar seu experimento de improvisação em seu filme de estréia. O resultado, Shadows>1, levou três anos para ser completado e foi parcialmente financiado  por suas interpretações na série televisiva Johnny Staccato, sendo um divisor de águas no cinema americano. Sobre os efeitos do racismo em uma já carregada relação de dois homens negros com a irmã deles, dois dos quais se passam por brancos, o filme é impressionante por seu estilo aparentemente desarticulado e sem forma e interpretações naturalísticas. O enredo era mínimo, o estado de espírito e a veracidade emocional tudo.

O sucesso limitado, mais prestigioso, de Shadows levou-o a dois  relativamente convencionais filmes de estúdio, Canção da Esperança/Too Late Blues e Minha Esperança é Você/ A Child is Waiting. Embora ambos exibissem excelentes interpretações, o próprio Cassavetes as considerou experiências frustrantes e retornou a atuação (Os Assassinos/The Killers, Os Doze Condenados/The Dirty Dozen e O Bebê de Rosemary/Rosemary's Baby se encontram entre suas melhores performances nos anos 60) como meio de arranjar fundos para o independentemente produzido Faces. Aqui, câmera na mão, imagem granulada, montagem áspera e longas cenas semi-improvisadas, assim como interpretações behaviouristas, corporificaram o ideal de seu diretor-roteirista de um cinema de atores; ao mesmo tempo, a descrição vigorosa e em primeiro plano dos eventos fortuitos que levam a uma crise conjugal, sugerem uma visão nada sentimental da vida familiar.

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John Cassavetes claramente animado pela música de Charles Mingus para Shadows, sua estreia como diretor e um marco no moderno cinema americano


Assim como Cassavetes retornava obsessivamente às banais, mais reveladores minúcias das relações familiares e de amizade, ao mesmo tempo se cercava de uma simpática e talentosa "família" de intérpretes: em Os Maridos/Husbands>2, atuando ao lado dos amigos Ben Gazzara e Peter Falk, explorou a neurose da menopausa masculina em uma narrativa que três homens reagem a morte de um colega voando impulsivamente para Londres, para um final de semana escapista de introspecção bêbada; em Uma Mulher sob Influência>3, a mulher suburbana que aos poucos enlouquece por sua existência rotineira é intensamente encarnada pela esposa do próprio diretor, Gena Rowlands. De modo diverso, Assim Falou o Amor/Minnie and Moskowitz foi um olhar surpreendentemente otimista e semi-cômico do tortuoso enamoramento de dois excêntricos cansados de solidão, porém A Morte de um Bookmaker Chinês/The Killing of a Chinese Bookmaker - foi um flerte maluco com o cinema noir, completo com uma segura cena de assassinato e Noite de Estreia/Opening Night foram histórias mais perturbadoras de ansiedade e insegurança.

Ainda devotado a explorar à arte da interpretação naturalista, Cassavetes se tornou simultaneamente crescentemente interessado com a teatralidade. Gloria>4, no entanto, foi um atípico thriller  de ritmo criminal, no qual uma gangster de saias - Rowlands novamente - corre para defender o filho precoce de um amigo morto, do linchamento. Repleto de profundos e sutis toques idiossincráticos a confundirem  os tradicionalmente excludentes estereótipos da mulher Mãe/Puta, foi subversivamente feminista, enquanto de suas empolgantes tomadas aéreas de Nova York ao tocante final algo onírico em um cemitério, mescla realismo com fantasia  com soberbo efeito estilístico.

Estranho e ambicioso Amantes/Love Streams>5 foi o conto de uma fraterna interdependência que somente revela seus personagens centrais serem irmãos ao longo do filme, combinando um naturalismo  nervoso com opulenta teatralidade (notavelmente em uma sequencia musical surrealisticamente operística) para sintetizar, de passagem, as obsessões temáticas e de estilo do diretor.  Uma vez mais, enfatizou a psicologia e os relacionamentos sobre a narrativa. Por fim, importunado pela doença, Cassavetes assumiu a direção de Problemas em Dobro/Big Trouble, um pastiche cômico de Pacto de Sangue/Double Indemnity relativamente comercial, notável principalmente por suas interpretações fortes e humor simplório; até mesmo às tarefas para as quais claramente sentia pouca afeição se beneficiavam de sua astuta e desafiadora direção de atores e de sua recusa ao conformismo.

Acusações de indulgente amadorismo erraram o alvo: Cassavetes prezava seu status de independente. Sua carreira foi uma incansável exploração das formas nas quais interpretar, inspirado e baseado no comportamento cotidiano, pode iluminar os cantos mais escuros da experiência humana. Para este fim, histórias destituídas de grandes eventos e trabalho de câmera eram postos inteiramente a serviço de seus atores que, por sua vez, habilitavam o diretor a revelar sua simpatia pelos solitários e perdedores.

Cronologia

O estilo de Cassavetes emergiu do Método, do documentário e da florescência de um cinema "alternativo" que produziu figuras como Warhol, Godard e Jacques Rivette. Seu pessimismo pode ser comparado ao de Bergman e Antonioni; diretores tão diversos quanto Altman, Loach e Scorsese parecem marcados por seu estilo naturalista. Curiosamente, Cassavetes e Peter Falk estrelaram Mikey and Nicky, de Elaine May, que parece bastante com um filme de Cassavetes.

Leituras Futuras
American Film Now (Nova York, 1979), de James Monaco e Hollywood Renaissance (Nova York, 1977), de Diane Jacobs

Destaques
1. Shadows, EUA, 1960 c/Lelia Goldoni, Ben Carruthers, Hugh Hurd

2. Os Maridos, EUA, 1970 c/Ben Gazzara, Peter Falk, Cassavetes

3. Uma Mulher Sob Influência, EUA, 1974 c/Gena Rowlands, Peter Falk, Katherine Cassavetes

4. Gloria, EUA, 1980, c/Gena Rowlands, John Adames, Buck Henry

5. Amantes, EUA, 1984 c/Gena Rowlands, Cassavetes, Seymour Cassel

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres, Longman, 1989, pp. 46-8.

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