O Dicionário Biográfico de Cinema#276: Ermanno Olmi

 


Ermanno Olmi, n. Bergamo, Itália, 1931(*)

1959: Il Tempo si è Fermato [O Tempo Parou], 1961: Il Posto [O Posto]. 1962: I Fidanzati [Os Noivos]. 1964: E Venne un Uomo. 1968: Un Certo Giorno. 1969: I Recuperanti. 1971: Durante l'Estate. 1974: La Circonstanza. 1978: L'Albero degli Zoccoli [A Árvore dos Tamancos]; Camina, Camina. 1987: Lunga Vita alla Signora. 1988: La Leggenda del Santo Bevitore [A Lenda do Santo Beberrão]. 1993: Il Segreto del Bosco Vecchio [O Segredo do Bosque Velho]. 1994: Genesi: La Creazione e Il Diluvio [Gênesis]. 1999: Il Denaro non Esiste (co-dirigido com Alberto Rondalli). 2000: Il Mestieri delle Armi [O Objetivo das Armas]. 2003: Cantando Dietro i Paraventi [Cantando por Detrás das Cortinas]. 2005: Tickets. 2007: Centochiodi. 2009: Terra Madre; Il Premio; Rupi del Vino. 2011: Il Villagio di Cartone [A Aldeia de Cartão].

A vida desinteressante de um atendente - como a do jovem em O Posto - levou Olmi a uma obra mais criativa. Tendo trabalhado como ator e produtor teatral, realizou documentários industriais, no final dos anos 50, antes de seu primeiro longa, o estudo de um veterano e um jovem vivendo juntos no isolamento por conta de um projeto de barragem deles. 

Olmi é um diretor de uma veia reticente, elíptica e detalhada, que não é uma característica italiana. Igualmente, não é fácil fixá-lo junto ao neorrealismo, a despeito de sua preferência por cenários reais, gente comum e trama rarefeita. Ainda que tenha admitido um débito a De Sica, sua quase mística ternura pelas pessoas é mais impressionante que o sentimento de De Sica, e o elemento mais intrigante em seus filmes parece mais próximo do olhar abstrato de um Antonioni. 

Em O Tempo Parou, elementos da gentileza humana e de observação documental da obra residem em uma gradual destilação das relações entre os dois homens. No seu melhor - em Os Noivos - consegue uma maestria sutil da aparente simplicidade visual para sugerir emoções complexas. O tema do filme é bastante simples - a separação de um casal  por conta do emprego que o homem deve assumir. Porém a filmagem dele sugere maravilhosamente o sentimento de separação e melancolia, através da concentração em cenas em ruas e interiores comuns e o uso do silêncio natural. O verdadeiro tema de Olmi é o estado mental tornado manifesto no modo de observar a realidade banal. Os Noivos é uma narrativa ostensivamente neutra que, subitamente nos damos conta, é tão subjetiva que chega a ser quase alucinatória.

A qualidade está presente, também, em O Posto (que é, no geral, mais próximo do sentimento neorrealista) e Durante l'Estate - o primeiro, signo promissor da comédia em Olmi, com uma nota de crítica social chaplinesca. E uma defesa dos excêntricos que tende para a excentricidade.

E Venne un Uomo [A Man Named John], é uma história de vida demasiado obediente e vaga do Papa João XXIII, enquanto os outros filmes foram realizados para a televisão italiana. I Recuperanti repetia a relação de O Tempo Parou. Desta vez, os dois homens recuperam ferragens de campos de batalha. Além do relacionamento em evolução entre eles, Olmi está comentando sobre como as feridas de guerra se curam. A observação é clara, simpática e divertida, mas Olmi ainda parece passivo, demasiado enraízado em um humanismo louvável, mas lugar-comum: "Estou interessado em 'produzir" ideias. E em termos de distribuir ideias, parece-me que o cinema é o meio mais útil de nossos tempos. Então faço filmes porque desejo falar a realidade dos tempos nos quais vivo; em outras palavras desejo expressar ideias e propô-las a o maior número de pessoas. A única medida para mim,  o único ponto de referência, o único denominador comum é o Homem." Há uma sugestão de burocrata evangélico sobre isto, uma sensibilidade convencional desmentida pela sutileza do estilo de Olmi. Visualmente, não está longe de ser austero; no entanto, isto sugere  uma intensidade da qual ele aparece tímido. Uma interrogação paira sobre Olmi, como se ele precisasse de algum sopro de paixão ou surrealismo para libertá-lo das aspirações de realismo. 

Sua obra-prima é A Árvore dos Tamancos, um épico camponês ambientado na Lombardia do final do século XIX, ainda que feito com uma afeição inata pelo comum e por uma atitude humilde. A rotina diária mistura sem esforço em uma perspectiva espiritual, em que um filme de três horas é como um panorama religioso, uma mistura de Breughel e neorrealismo. Desde então, Olmi tem trabalhado menos frequentemente. Mas ele é seu próprio homem, um devoto católico, câmera e montador, assim como diretor, determinado a uma visão desestressada da vida.

Sua versão do Gênesis é um devaneio, com uma narrativa lida por Paul Scofield, enquanto seu último filme parece ser uma história sobre o impacto inovador da artilharia.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 1971-73.





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