Filme do Dia: A Comilança (1973), Marco Ferreri
A
Comilança (La Grand Bouffe,
Itália/França, 1973). Direção: Marco Ferreri. Rot. Original: Marco Ferreri,
Rafael Azcona & Francis Blanche. Fotografia: Mario Vulpiani. Música:
Philippe Sarde. Montagem: Claudine Merlin & Gina Pignier. Dir. de arte:
Michel de Broin. Cenografia: Claude Suné. Figurinos: Gitt Magrini. Com:
Marcello Mastroianni, Ugo Tognazzi, Michel Piccoli, Philippe Noiret, Andréa
Ferréol, Solange Blondeau, Florence Giorgetti, Michèle Alexandre.
Grupo de amigos formado por Ugo (Tognazzi), Marcello
(Mastroianni), Michel (Piccoli) e Philippe (Noiret) se unem em uma casa para um
final de semana gastronômico que resulta na inexplicável auto-destruição dos
quatro pelos excessos de comida, o mesmo não acontecendo com as prostitutas que
o acompanham, que partem antes das mortes e de Andrea (Ferreol), que sobrevive
a todos, com seu insaciável desejo por sexo e comida.
Mais famoso filme de Ferreri, que deixa em aberto
possibilidades de interpretação tanto freudianas – do eterno conflito entre
Eros e Tânatos - quanto marxistas – a comida enquanto metáfora para a
apropriação pela burguesia até o limite de sua própria autodestruição. O
resultado final, no entanto, radical em sua opção pela fábula que não pretende
compartilhar estritamente das convenções de verossimilhança ou da elaboração de
um perfil psicológico denso ou muito menos das motivações dos personagens
enquanto base para uma narrativa centrada em ações convencionais, nem consegue
ser poético como a metáfora apresentada em Pocilga
(1967), de Pasolini, nem um comentário cômico e irônico que abertamente escarnece a paralisia da
burguesia e de seu estilo de vida como certos filmes de Buñuel, notadamente O Anjo Exterminador (1962). O papel de
mulher devoradora vivida por Ferreol evoca as matronas dos filmes de Fellini,
sem a visão nostálgica e sentimental do mesmo e o cineasta saúda sua infinita
sede de vida representada por sua glutonaria e furor sexual. Há certo momento, no entanto, sua estratégia
de “chocar o burguês” se torna um tanto quanto repetitiva, mesmo contando com
um elenco tão afinado (todos os cinco atores principais vivendo personagens que
possuem seus próprios nomes, característica de um certo cinema autoral europeu
da época). Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Capitolina Produzioni
Cinematográfica/Films 66/Mara Films. 125 minutos.
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