The Film Handbook#113: Paul Mazursky

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Paul Mazurksy
Nascimento: 25/04/1930, Brooklyn, Nova York, EUA
Morte: 30/06/2014, Beverly Grove, Los Angeles, EUA
Carreira (como diretor): 1969-2006

Superficialmente, os filmes de Paul (originalmente Irwin) Mazursky parecem operar firmemente dentro do cinema hollywoodiano de maior apelo comercial: sátiras leves, com nenhum estilo visual discernível; eles, no entanto, revelam uma rara afeição por seus personagens e uma delicada consciência da busca de companheirismo em um mundo obcecado por status e independência.

Após iniciar como ator (aparecendo em Medo e Desejo/Fear and Desire de Kubrick e Sementes da Violência/Blackboard Jungle de Richard Brooks), Mazursky se tornou um cômico de boate e depois roteirista de comédias para a TV. Desesperado com o modo que seu roteiro para a sátira hippie  O Abilolado Endoidou/I Love You, Alice B.Toklas havia sido tratado, passou a dirigir seus próprios roteiros com Bob&Carol&Ted&Alice>1, uma sátira inspirada nas tentativas de liberação sexual do  Instituto Esalen em meio aos cidadãos endinheirados da Califórnia contemporânea. O tema e uma cena final descrevendo o ménage-à-quatre podem ter assegurado o enorme sucesso comercial do filme, mas a investigação sutil de Mazursky sobre decepção, ingenuidade e culpa transcendem a moda, recusando-se a condenar ou desculpar seus absurdamente sérios e bem intencionados formadores de consciência e, ao final, favorecendo o casamento monogâmico sobre a infidelidade, sem cair no moralismo fácil. Genuinamente divertido, e mais preocupado com os personagens que com o enredo, o filme destacou Mazursky como um observador de rara sensibilidade, mesmo que ultrapassada, dos códigos morais modernos.

Algo indulgente, o ambicioso e em parte autobiográfico Um Doido Genial/Alex in the Wonderland (sobre um realizador obcecado por Fellini sofrendo de bloqueio criativo) foi um fracasso completo e Mazursky voltou a examinar as relações humanas em Amantes em Veneza/Blume in Love, sobre um incurável romântico desesperado por reconquistar a esposa que o abandonou por um outro homem. Ainda mais tocante foi Harry, o Amigo de Tonto>2 no qual um homem velho, despejado de sua casa em Nova York, viaja com seu gato através do país para visitar seus filhos e netos; uma análise pungente e irônica da solidão, sonhos destruídos e as alegrias e dores da vida familiar, o poder sutil do filme consistindo em sua observação não sentimental das minúcias do comportamento cotidiano, e de uma hábil mistura de cenas cômicas e sérias. Novamente, a despeito dos problemas de comunicação observados, o tom de Mazursky foi afirmativo, uma celebração do companheirismo e da dignidade individual.

Filme após filme o diretor-roteirista revelou sua habilidade em observar uma relação ou conflito de todos os lados. Após Próxima Parada: Bairro Boêmio/Next Stop Greenwich Village (uma história de uma  boêmia pretensiosa que havia marcado sua juventude, ele lidou com os efeitos posteriores ao divórcio em Uma Mulher Descasada/An Unmarried Woman>3 que, a despeito de seu fraco final, é um retrato honesto e afetuoso de uma forçada solidão que a levará a independência. Mazursky nunca se esquiva de suas mágoas, nem tampouco ela é tratada de forma paternalista: o filme do início ao final admite sua obstinação e fragilidade. Ainda mais pouco convencional, porém menos bem sucedido foi Willie&Phil (um excêntrico ménage-à-trois inspirado pelo Jules e Jim - Uma Mulher para Dois/Jules et Jim, de Truffaut, e Tempestade, uma atualização do clássico de Shakespeare na qual um arquiteto de Nova York se refugia em uma ilha grega para enfrentar a crise da meia-idade.

A atitude imparcial de Mazursky abraçou a política em Moscou em Nova York/Moscow on the Hudson>4: um saxofonista russo, cansado das filas para comer e da burocracia parte para a Bloomingdale's, somente para descobrir que a vida americana envolve desigualdade racial, consumismo desenfreado e assaltantes. Em um final equivocadamente observado por alguns críticos como pró-Reagan, com um herói desanimado e maltratado reanimado por colegas americanos não WASP vociferando sua fé na constituição americana (mais que na realidade), Mazursky proclama sua própria crença na riqueza e união dos homens. Igualmente incompreendido, ainda que mais óbvio em sua sátira foi Um Vagabundo na Alta Roda/Down and Out in Beverly Hills, uma refilmagem de Boudu Salvo das Águas de Renoir no qual um vagabundo espalha o caos entre uma família  noveau riche que o abriga. Batendo em alvos demasiado óbvios (obsessões com sexo, dinheiro e status), difere do original ao ter um vagabundo que cede, mais que abandona, as seduções da riqueza: de forma típica, Mazursky nem condena nem desculpa a escolha de seu herói um dia subversivo, mas reconhece-a como inevitável na América contemporânea.

Luar Sobre Parador/Moon Over Parador, no entanto, persuadido a ser um duplo de um ditador sul-americano, foi demasiado farsesco para divertir. Apesar de Mazursky  não possuir um estilo próprio, sua surpreendente afeição por suas criações e sua recusa em permitir que o enredo se sobreponha aos personagens identificam-no como um diretor de comédias moderno de rara vivacidade. Artisticamente conservador ele, entretanto, pode ser valorizado por sua humanidade e sua habilidade em tratar temas sérios com uma engenhosidade que é edificante, mas raramente sentimental.

Cronologia
As sátiras sutis de Mazursky sobre os estilos de vida contemporâneos ecoam distantemente as de Lubitsch, Leisen, Renoir, Rohmer, Forman, Woody Allen e a carreira inicial de Ritchie. Ele próprio tem prestado seu tributo a Fellini (que aparece em Um Doido Genial) e Truffaut (Willie & Phil).

Leituras Futuras
American Film Now (Nova York, 1979), de James Monaco e Hollywood Renaissance (Nova York, 1977), de Diane Jacobs

Destaques
1.Bob&Carol&Ted&Alice, EUA, 1969, c/Robert Culp, Natalie Wood, Elliott Gould, Dyan Cannon

2. Harry, o Amigo de Tonto, EUA, 1974 c/Art Carney, Ellen Burstyn, Larry Hagman

3. Uma Mulher Descasada, EUA, 1978 c/Jill Clyburgh, Michael Murphy, Alan Bates

4. Moscou em Nova York, EUA, 1984 c/Robin Williams, Maria Conchita Alonso, Cleavant Derricks

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 193-4.

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