Filme do Dia: Mãe Só Há Uma (2016), Anna Muylaert


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Mãe Só Há Uma (Brasil, 2016). Direção e Rot. Original: Anna Muylaert. Fotografia: Barbara Alvareza. Música: Berna Ceppas. Montagem: Helio Villela.  Dir. de arte: Thales Junqueira. Figurinos: Diogo Costa. Com: Naomi Nero, Daniel Botelho, Daniela Nefussi, Matheus Nachtergaele, Laís Dias, Luciana Paes, Helena Albergaria, Luciano Bortoluzzi.

Pierre (Nero), 17 anos, é um adolescente como tantos outros. Vive com sua mãe Aracy (Nefussi) e a irmã Jaqueline (Dias), em um ambiente de classe média baixa. Cultua um visual andrógino, ainda que seja tirando selfies no banheiro e faz parte de uma banda de rock de garagem.  Certo dia, seu mundo e da sua família como um todo sofrem uma reviravolta. Sua mãe é presa, acusada de tê-lo roubado na maternidade, assim como sua irmã. E seu nome original é Felipe. Sua mãe e pai biológicos, de classe social privilegiada, Glória (Nefussi) e Matheus (Nachtergaele), assim como Joca (Botelho),  seu irmão pré-adolescente tem um primeiro – e tenso – encontro com ele em um restaurante, mediados pela assistente social  Sueli (Albergaria). A situação não melhorará quando Pierre/Felipe tem que se separar de Jaqueline, e chocar a todos, sobretudo o pai, quando decide de vez abraçar o uso de roupas femininas.

Embora o filme aponte para a transitoriedade de identidades no cenário contemporâneo como seu ponto nevrálgico, algo já posto antes mesmo do cerne dramático tomar conta da narrativa, na postura ambígua de seu personagem, em última instância também apresenta os limites de se lidar com mudanças e adequações tão súbitas e radicais. Torna-se o momento então, diante de uma crise de identidade tão mais vigorosa de usar como moeda de troca a sua própria androginia (somando ao estranhamento social de Que Horas Ela Volta? à dimensão de gênero, tão ou mais cara às sensibilidades contemporâneas). Corajosamente, Muylaert aposta novamente na presença quase maciça de atores não profissionais (até então) para papéis de grande destaque, ou ainda de modesta carreira cinematográfica, como Nefussi, que bravamente vive o papel das duas mães, justificando uma vez mais o título algo precário do filme. Precário ou muito bem afinado com a dramaturgia de Muylaert, próxima do melodrama e do fait diver e como em seu filme anterior sinalizando, talvez de forma mais modesta aqui, para uma catarse em que as diferenças comecem a ceder, a partir do primeiro gesto conciliatório do novo irmão, certamente impressionado com a explosão desse ao afirmar que havia tido sua vida roubada não uma única vez, mas sim duas? Apesar da habitualmente segura direção de atores e ritmo dinâmico, não se chega a construir com maior solidez o ponto de vista do outro personagem fundamental, o do “recém-irmão” Joca, algo esboçado de forma um tanto canhestramente, chegando a soar inorgânica com relação ao restante do filme, como quando observamos uma ligação sua do celular ou sua tentativa frustrada de flerte na escola e com seu súbito final se fica com a impressão de não se aprofundar elementos que o filme acena, tal como o anterior, preferindo esvaziá-los em saídas de apelo relativamente fácil. Dezenove Som e Imagem/Africa Filmes. 82 minutos.

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