Filme do Dia: Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum (2013), Ethan Coen & Joel Coen
Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum (Inside Llewyn Davis, EUA/Reino
Unido/França, 2013). Direção Rot.
Original e Montagem: Ethan Coen & Joel Coen. Fotografia: Bruno Delbonnel.
Dir. de arte: Jess Gonchor & Deborah Jensen. Cenografia: Susan Bode. Figurinos: Mary Zophres. Com: Oscar
Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake, Ethan Phillips, Robin Bartlett, Max
Casella, Jerry Grayson, Jeanine Serralles, John Goodman, Garrett Hedlund, F.
Murray Abraham.
1961. Llewyn Davis (Isaac) está tentando se firmar, sem
grande sucesso, na cena folk nova-iorquina. Ele se apresenta em um clube do
gênero, busca dormida na casa de vários amigos e da irmã, Joy (Serralles),
tenta arrancar algum trocado do arrecadador de direitos Mel Novikoff (Grayson),
sabe que talvez seja o pai do filho de uma cantora folk que começa a fazer
sucesso, Jean (Mulligan), viaja para Chicago com o excêntrico Roland Turner
(Goodman) e seu motorista ou valete como Turner o chama, Johnny Five (Hedlund),
encontra-se com o empresário Bud Grossman (Abraham), tenta partir em um navio
cargueiro e reencontra o pai debilitado em um asilo.
É magistral, para além de toda e qualquer qualidade do
filme, o domínio na técnica de contar uma história nesse filme, onde se
acompanha uma semana de um aspirante (malfadado, por sinal) a cantor folk. O
fracasso desse projeto se torna ainda mais acentuado quando se observa
discretamente na penumbra e fundo da cena um Bob Dylan emergindo para a
celebridade ao final. E o quão importante é essa tomada de posição, a muitas
milhas distante do Sonho Americano. E a inaptidão de Davis para ser quem se
espera que seja – como irmão, cantor ou amante – comanda o filme, de forma ora
engraçada, ora pungente, ora amarga (construção essa bem mais densa que a
apresentada por personagens contemporâneos igualmente descendentes de um certo
anti-heroísmo woodyalleano tais como a protagonista de Frances Ha). O filme, mesmo virtuoso em vários aspectos, de
ocasionais movimentos de câmera – tais como o que segue o gato ao início –
fotografia deslumbrantemente vaporosa, reforçando uma sensação algo onírica,
algo passada, não se deixa sufocar por eles, nem tampouco pela sua
circularidade narrativa, mais discreta e menos empostada enquanto efeito que as
de Tarantino. É a trajetória errante de seu protagonista, juntamente com a
cidade de Nova York e, talvez, sobretudo a belíssima trilha de canções de
clássicos do folk (apenas uma canção original que é creditada a Timberlake,
também no elenco) que importam. E o nonsense
da vida que importa, como se Llewyn Davis fosse um parente não tão distante de Barton Fink. Ou melhor, o estranhamento
que essa causa em alguém demasiado sensível para ter que lidar com tantas
demandas, representada em momentos como o do atropelamento de um animal ou no
flagrante de Turner tendo convulsões no banheiro pela dose de heroína ou ainda
da prisão de seu motorista logo após. Aliás a cena da viagem, com o mesmo
Hedlund, que ainda por cima cita um dos poetas beatniks, faz uma evidente
alusão a Na Estrada. Grande Prêmio
do Júri em Cannes. CBS Films/Studiocanal/ACE para CBS Films. 104 minutos.
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