Cartas Elizabeth Bishop#3
O carnaval foi semana passada, e eu estava decidida a assistir às escolas de samba - os grupos maravilhosos de dançarinos negros que desfilam e dançam a noite toda. Conseguimos credenciais na imprensa para ficarmos na tribuna de honra e descemos já bem tarde, armadas de garrafas térmicas com café gelado e sanduíches de Roquefort. (O samba dura a noite inteira normalmente, e sempre faz muito calor). Era para ter começado às sete, mas na verdade começou às dez, e em vez de ir até as três ou quatro a coisa só foi terminar às onze e meia do dia seguinte. Desistimos bem antes disso, é claro, antes de desfilarem as escolas "boas" deste ano. As pessoas estavam indignadas. As melhores são mesmo magníficas - centenas de negros cobertos de sedas e cetins - perucas brancas e trajes à Luís XV são muito comuns, ou então do período colonial brasileiro - com baterias maravilhosas. Agora também é comum usar luzes elétricas nas fantasias, e botões luminosos na frente. Mas não conseguimos esperar as escolas vencedoras. A única das boas que vimos tinha como enredo a Marinha brasileira, todos dançavam com réplicas de uniformes em cetim azul e branco, muitos chapéus de três bicos, espadas de prata, medalhas, etc. Um grupo de mulheres desfilaram com cruzadores prateados de bom tamanho na cabeça, com lampadazinhas nos mastros, é claro. A multidão e as pessoas que ficam nos arredores dela são simpáticas também - todos exaustos, com fantasias de todos os tipos, sentados no meio-fio ou estirados na grama. Um casal de negros muito jovem que vimos no caminho de volta ao carro estava com um menininho de uns dois anos com uma linda fantasia de palhaço de cetim dourado, com gola de filó, lantejoulas, etc. Já passava das duas da manhã;o menininho estava quase morto, é claro, mas quando a Lota disse que ele estava "bonito" ele sorriu e depois nos beijou as mãos, de modo muito galante. Eu realmente torço para que o Carnaval não acabe nunca - mas seria tão bom se eles respeitassem o horário mais um pouco!
(carta a Marianne Moore, 23/02/1958)
obs: Pelo que pude pesquisar, Elizabeth Bishop faz referência a primeira escola a se apresentar, a Unidos do Cabuçu, com o samba-enredo Aí Vem a Marinha e Seu Patrono, que infelizmente não consgui outra referência que o título e a letra:
(carta a Marianne Moore, 23/02/1958)
obs: Pelo que pude pesquisar, Elizabeth Bishop faz referência a primeira escola a se apresentar, a Unidos do Cabuçu, com o samba-enredo Aí Vem a Marinha e Seu Patrono, que infelizmente não consgui outra referência que o título e a letra:
No dia 13 de dezembro
Do ano de 1807
Nascia um grande membro
Homem bravo e de grande perfil
Que mais tarde veio a ser
O patrono da Marinha do Brasil
Joaquim Marques Lisboa, que é
O Marquês de Tamandaré
Herói da batalha do Riachuelo
Que foi um dos maiores feitos
Que reza a nossa história
Nela cobriram-se de imperecível glória
Filho de um segundo tenente
Honorário da Marinha Real
Nascido na província do Rio Grande
É um grande vulto na hierarquia
Da Marinha Imperial
No Brasil o criador
Da marinha de guerra a vapor
Das vidas alheias
Sempre foi um salvador
Possuidor de impoluta honradez
E elevou o nome do Brasil
Mais uma vez
Do ano de 1807
Nascia um grande membro
Homem bravo e de grande perfil
Que mais tarde veio a ser
O patrono da Marinha do Brasil
Joaquim Marques Lisboa, que é
O Marquês de Tamandaré
Herói da batalha do Riachuelo
Que foi um dos maiores feitos
Que reza a nossa história
Nela cobriram-se de imperecível glória
Filho de um segundo tenente
Honorário da Marinha Real
Nascido na província do Rio Grande
É um grande vulto na hierarquia
Da Marinha Imperial
No Brasil o criador
Da marinha de guerra a vapor
Das vidas alheias
Sempre foi um salvador
Possuidor de impoluta honradez
E elevou o nome do Brasil
Mais uma vez
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