Filme do Dia: Império dos Sonhos (2006), David Lynch
Império dos Sonhos (Inland Empire, EUA/França/Polônia, 2006). Direção, Rot. Original,
Fotografia e Montagem: David Lynch. Dir. de arte:
Christina Ann Wilson, Christine Wilson & Wojciech Wolniak. Cenografia:
Melanie Rein. Figurinos: Karen Baird & Heidi Bivens. Com: Laura Dern,
Justin Theroux, Jeremy Irons, Harry Dean Stanton, Grace Zabriskie, Diane Ladd, William H. Macy, Julia Ormond.
Nikki Grace (Dern)
recebe uma proposta de atuar em um filme ao lado de Devon Berk (Theroux) como
sendo provável reaquecimento em sua carreira. Trata-se de uma refilmagem de uma
produção polonesa nunca concluída que se afirma ter sido vítima de uma maldição
que levou ao assassinato dos dois atores principais. A partir do momento em que
recebe a visita (ou a visita da mesma já é um fruto de sua alucinação?) de uma
estranha senhora (Zabriskie), Nikki passa a vivenciar uma realidade paralela.
É curioso o modo como
Lynch se dirige até um terço de sua longa narrativa centrado de forma
predominantemente realista em temas típicos de gêneros como o noir e cria uma expectativa em cima da
relação do filme dentro do filme e do casal protagonista e o possível conflito
com o marido da atriz. Porém todas essas expectativas são literalmente
desconstruídas quando o realizador envereda por seu próprio universo que
consegue expressar em termos formais uma representação da psicose onde outras
produções, haviam ficado mais próximas
de se restringirem ao conteúdo (Spider
e Uma Mente Brilhante). Certamente há
uma certa dose de liberdade criativa que o realizador não conquistaria caso
estivesse meramente preso às amarras dos grandes estúdios norte-americanos,
constituindo-se praticamente em um caso à parte no cenário contemporâneo. O que
isso pode significar de concreto? Sem dúvida uma grande dose de autocondescendência
que se dá ao luxo de brincar com a possibilidade de dois falsos finais ou de
inserções de pastiches musicais de videoclipe hilariantes em meio aos momentos
mais angustiantes (evocativos, a seu modo, da obra de Godard nos anos 60), mas
também excelentes achados visuais. Nesse último quesito se encontra, por
exemplo, a sinistra sequência da estranha senhora, em que a simples proximidade
da câmera ou a textura da imagem em DV transposta para a película apenas vem a
acentuar, de seu rosto em contraposição ao fundo que é a casa da protagonista.
Em meio a tanto delírio a relação do filme dentro do filme, que já havia sido
motivo de uma típica sequência em que não se sabe ao certo se tratar do filme
ou do filme dentro do filme, somente volta a ser parcialmente recuperada em seu
final. Enquanto longeva representação em termos formais de um universo
psicótico o filme certamente é bem mais sucedido do que outras produções como Estorvo e Barton Fink. Studio Canal/Fundacja Kultury/Cameraimage
Festival/Absurda/Assymetrical Prod./Inland Empire Prod. para Absurda. 180
minutos.
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