Filme do Dia: Filhas do Vento (2004), Joel Zito Araújo
Filhas do Vento
(Brasil, 2004). Direção: Joel Zito Araújo. Rot. Original: Joel Zito Araújo
& Di Moretti. Fotografia: Jacob Solitrenick. Música: Marcus Viana.
Montagem: Isabel Monteiro de Castro. Dir. de arte: Andréa Velloso. Com: Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Léa
Garcia, Thaís Araújo, Maria Ceiça, Danielle Ornelas, Rocco Pitanga, Jonas
Bloch, Mônica Freitas, Zózimo Bobul.
Num pequeno vilarejo
de Minas Gerais, Cida (Araújo) e Ju (Freitas) não mais se falam depois que uma
delas foi falsamente acusada pelo pai (Gonçalves) de se encontrar furtivamente
com o noivo da irmã, Marquinhos (Pitanga). Trata-se do empurrão final para que
Cida tente e consiga ser vitoriosa na sua carreira de atriz, retornando a
cidade com a morte do pai somente para se deparar com alguns conflitos e
fantasmas do passado, entre eles a sua inimizada com a irmã (Garcia), assim
como a revolta da filha (Ceiça).
O que poderia se
prestar como um belo tributo a duas veteranas e pioneiras atrizes negras
brasileiras, Garcia (lembrada, sobretudo por sua simpática participação em Orfeu do Carnaval) e Souza (lembrada
antes de tudo pela versão cinematográfica de Sinha Moça), provoca um efeito quase oposto. Amparado pelas
memórias de Ruth de Souza, colhidas a partir do interessante documentário que
realizou para a TV no qual enfocava atrizes negras brasileiras, A Negação do Brasil (2000), Araújo
realiza um filme constrangedor em sua imperícia em elementos básicos como o
desenvolvimento da narrativa, que se torna crescentemente confusa e
descentrada, sobretudo a partir de sua segunda metade. Porém, as qualidades
negativas vão além, espraiando-se para interpretações deslocadas e
inconvincentes, uma trilha musical equivocada e em vários momentos
contra-producente em termos dramáticos, além de personagens francamente
desnecessários. Ao se deslocar do registro documental para o ficcional talvez
seu realizador tenha pensado que automaticamente se enquadraria com relativo
conforto no universo dramático como se dera no documental. Ledo engano. O único
tema que de fato pode selar uma continuidade com a produção anterior, a questão
da exclusão do negro no universo do audiovisual brasileiro é aqui tratado como
comentário de passagem. O pior é quando o tom equivocado e superficial de
comentários de passagem toma conta do que pretensamente seria o clímax
dramático do filme, o momento em que a filha de Cida se revolta contra tudo que
a mãe representa num almoço que sucede a morte do avô, resvalando para o humor
involuntário. Aqui, como em todo o restante do filme, a péssima direção de
atores nada consegue extrair, tampouco de atores veteranos e talentosos como o
caso de Gonçalves ou da própria Ruth de
Souza. Falta sutileza e essa falta de sutileza se espraia das interpretações para
o já comentado uso da música e também para os canhestros e óbvios diálogos e
situações, como o momento em que apenas se espera que Gonçalves caia morto,
numa evidente alusão a O Poderoso Chefão.
Talvez um dos piores defeitos do filme seja, certamente visando o mercado, não
assumir e elaborar de fato o drama de suas duas personagens maduras e levá-lo a
fundo, fazendo-o ser vivido inclusive pelas duas atrizes veteranas ao invés de
apostar na facilidade com que desnuda os
corpos das jovens atrizes do elenco. O estilo de melodrama televisivo almejado visual
e dramaticamente pelo filme fica aquém de seu próprio modelo. Riofilme. 85
minutos.
Frustrante este filme.
ResponderExcluirConcordo, é péssimo. muito ruim!
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