Filme do Dia: Permanent Residence (2009), Scud






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Permanent Residence (Yong Jiu Ji Liu, Hong Kong, 2009). Direção e Rot. Original: Scud. Fotografia: Herman Yau. Música: Teddy Robin Kwan. Montagem: Kwok-Wing Leung. Dir. de arte: Ron Heung. Com: Sean Li, Osman Hung, Jackie Chow, Yu Hong Lau, Zi Li Wei, Woon Ling Hau, Yui Yu Chung, Hoi Kai Luk.

Após um passado pobre, em que foi criado e amado mais pela avó que propriamente por sua mãe, Ivan (Li) parte da província para Hong Kong, tornando-se um bem sucedido no ramo da tecnologia em jogos. Um dia, em um programa de entrevistas é indagado de supetão pelo outro entrevistado, Josh (Chow) se ele é gay. Confuso com a pergunta inesperada, ele tergiversa. Pouco depois conhece numa sauna, Windson (Hung), jovem por quem se sente atraído mas que, ao perceber seu encanto por ele, afirma ser hétero. Ivan reencontra Josh em um bar gay e eles fazem sexo e mantém uma proximidade, porém ele continua obcecado por Windson, que não resiste aos encontros e a proximidade de Ivan, sempre deixando claro que o amor que possui por ele não se estende para o campo do sexo. Ivan perde sua avó. Ainda abalado, três dias após sua morte, Windson diz que quer se afastar dele. Quando Ivan pensa em pular do alto de seu apartamento, recebe uma ligação de Josh, afirmando que estará indo visitá-lo. Ivan propõe então que ele vá visitar Josh, em Israel. É o que faz, mas sua viagem é interrompida com a notícia que a mãe de Windson, a quem fez tratar por um dos melhaores oncologistas do país, encontra-se em estado terminal. Windson fica grandemente grato a ele. Tempos depois, com Ivan morando na Austrália e agora na carreira de cineasta, visita-o para lhe pagar o jantar que sua mãe afirmara que ele devia a Ivan. Quando deixa Ivan, suicida-se dirigindo sua moto contra o mar.

Inicialmente, o que apontava ser uma singela narrativa voltada para o passado, algo próxima da cinebiografia de Pasolini Un Mondo d’Amore,  resvala para o kitsch e o sentimental de forma quase grotesca, explorando de forma praticamente inédita no cinema de Hong Kong a nudez frontal masculina com a mesma obsessão de seu personagem, aliás, alter-ego do cineasta. Porém, essa ousadia não apenas se conforma ao voyeurismo habitual de corpos masculinos jovens e atraentes presentes na produção de filmes com a temática gay universalmente (a exemplo do cinema queer francês), como a “relação” gay não chega de fato a sê-lo, sendo antes uma fantasia do protagonista vinculada à ambiguidade do amigo. Se ao início da aproximação entre os dois havia muitos elementos que sugeriam uma imaturidade emocional de ambos, ressaltada na banda sonora por melosas canções, afastando-se de vez da singeleza inicial, essa persistência ao longo de parte da trajetória de vida de ambos aponta para a ênfase numa solidão de dimensão narcisista-masoquista em que afeto e sexo não chegam a se conjugar de fato. Que o personagem que fora o grande amor de sua vida – ao menos até onde se acompanha a história e o epilogo que ocorre no futuro, ainda o observa solitário como sempre, não desmentindo a hipótese – se autodestrua, sem nunca se vincular afetivamente as mulheres com as quais se envolveu, e das quais não se tem acesso pela narrativa, que parte evidentemente do ponto de vista do alter-ego do cineasta, chegando esse, a determinado momento a comentar sobre os dois outros títulos que conformam uma trilogia e que se seguirão a esse, mas tampouco consiga assumir nada em relação a Ivan também é bastante sintomático. Não se trata, como em O Segredo de Brokeback Mountain, de um amor concretizado e mútuo, mas impedido pelas convenções sociais de sua época. Antes de uma fantasia em que as distinções de classe e cultura – Windson a todo momento se diminui diante do amigo – também são elementos a reforçarem ainda mais certa vacuidade que nunca será  completada por tolas canções sentimentais ou banhos abraçados em constante e perverso senso de “coito interrompido” ou, melhor dizendo, nem mesmo iniciado. Destaque para a dispensável apresentação futura dos personagens, incluindo a morte do próprio Ivan. Artwalker para Golden Scene. 115 minutos.

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