Filme do Dia: Banditi a Orgosolo (1961), Vittorio De Seta


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Banditi a Orgosolo (Itália, 1961). Direção: Vittorio De Seta. Rot. Original: Vittorio De Seta & Vera Gherarducci. Fotografia: Vittorio De Seta, Marcello Gallinelli & Luciano Tovoli. Música: Valentino Bucci. Montagem: Jolanda Benvenuti. Figurinos: Marilú Carteny. Com: Michele Cossu, Pepeddu Cossu, Vittorina Pisano.
Pastor de ovelhas que vive numa pobre região da Sardenha chamada Orgosolo, Michele (Michele Cossu) sofre uma reviravolta na sua vida quando um grupo de criminosos se hospeda temporariamente em sua choupana com um bando de porcos roubados. Com a polícia em seu encalço, Michele prefere partir com o irmão mais novo, Pepeddu (Pepeddu Cossu) para um outro local carregando seu rebanho. Quando se encontram próximos de lá chegar, o irmão começa a passar mal e o rebanho todo não aguenta a sacrificada trajetória. Michele retorna a cidade e sabe que a sua situação é crítica, pois além da polícia, ele deve pagar o que empenhou no rebanho ou perderá a própria casa. Desesperado, aprisiona um outro camponês e leva o rebanho dele consigo.
Pungente narrativa com esplendorosa fotografia em preto-e-branco que apenas realça o realismo pseudo-documental que deve certamente muito a A Terra Treme (1948), de Visconti. Como em Visconti, trata-se da utilização soberba de um elenco amador com papéis próximos aos da vida real e vivenciando dramas em que um destino perverso se coloca como obstáculo para uma vida mais digna de personagens destituídos de educação formal e dinheiro. Ao contrário de Visconti, no entanto, Michele não é um intelectual orgânico que irá expressar o ideário marxista do realizador de modo quase didático. A sua saída pouco resignada, ainda que violenta, no entanto, contrapõe-se ao retorno a humilhação tanto do protagonista de Visconti quanto ao Fabiano de Vidas Secas (1963), de Nélson Pereira dos Santos, outro filme com o qual podem ser traçados vários paralelos. Como no filme de dos Santos, trata-se de um indíviduo que por um lado sofre brutalmente com a própria ordem instituída pelo Estado e por outro tem que sobreviver igualmente às intempéries da natureza. Seco e ainda mais destituído de sentimentalismo que Vidas Secas, seu maior trunfo é apresentar, de maneira pouco didática ou esquemática, o modo como os próprios valores sociais associados com a justiça se encontram longe da universalidade que advocam, podendo inclusive gerar a própria criminalidade ao contrário de coibi-la. Longa-metragem de estréia do realizador. Titanus. 98 minutos.

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