The Film Handbook#192: Sergei Einsenstein

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Sergei Eisenstein
Nascimento: 23/01/1898, Riga, Latvia, URSS
Morte: 11/02/1948, Moscou, URSS
Carreira (como diretor): 1924-1946

Há muito tempo considerado um dos mais importantes artistas cinematográficos que o mundo já conheceu, Sergei Mikhailovich Eisenstein foi um gigante entre os realizadores e teóricos, suas contribuições ao cinema definidas pelo seu enorme intelecto e comprometimento com a arte política. Ainda assim, sua influência no desenvolvimento do cinema comercial parece ter sido negligenciada com o passar dos anos.

A vida e pensamento de Eisenstein estão inextrincavelmente associados com a sociedade em que viveu. Quando jovem, ele parecia seguir seu pai na carreira de engenheiro de obras, mas após servir o Exército Vermelho, encontrou trabalho como cenógrafo para o teatro. Estudando sob os auspícios de Meyerhold, tornar-se-ia crescentemente interessado em criar uma forma revolucionária de drama proletário no qual as massas, em oposição ao indivíduo, fossem o herói. Logo encontraria sucesso enquanto diretor teatral intrépido e iconoclasta e, em 1924, passaria ao cinema com Stachka/A Greve>1. De fato, inspirado pela atmosfera de excitação intelectual inflamada pela Revolução Soviética, ele realizou sua própria teoria do cinema, obtida da influência de várias fontes, incluindo a dialética marxista, as ideias de Pavlov sobre atração e estimulação, Freud e a arte construtivista. Sua teoria, ela própria centrada grandemente na ideia quase científica de montagem, de acordo com a qual o sentido do filme surgiria, enquanto equação matemática, da colisão de imagens reunidas juntas. Em A Greve, o final alterna planos do massacre dos trabalhadores grevistas pela polícia tzarista com planos documentais da morte de um touro em um abatedouro. O efeito, embora poderoso em atingir o ponto em questão, é enfraquecido pelo matadouro não ser integrado ao enredo. Além do que tal artificio é contrariado pelo dinamismo do incansável ritmo do filme, fortes imagens realistas e caricaturas amargas da burguesia; A Greve é tanto vibrante propaganda (o cine-punho de Eisenstein servindo como resposta ao objetivo cine-olho de Vertov) quanto seu melhor filme.

A seguir voltaria sua atenção, em Bronenosets Potemkin/O Encouraçado Potemkin>2 a recriação de um motim da tripulação de um navio russo em 1905 contra as suas aterradoras condições. Mais famoso pela sequencia da Escadaria de Odessa, na qual civis inocentes são brutalmente massacrados pela milícia tzarista, o filme oferece evidências tanto dos continuados experimentos de Eisenstein com a montagem quanto de seu interesse na tipagem, de acordo com a qual, os personagens são representados não por atores profissionais mas amadores, cuja aparência física considerava apropriada para o arquétipo (mais que o estereótipo) que representavam. O filme foi um grande sucesso internacional, e Eisenstein desenvolveu sua arte em linhas semelhantes tanto em Oktyabr/Outubro>3, uma história da revolução de 1917 marcada pela reconstrução épica do tomada do Palácio de Inverno quanto em Staroye e Novoye/A Linha Geral>4, no qual lida com os esforços de uma camponesa de estabelecer uma fazenda coletiva em sua vila. Os alicerces teóricos de cada filme, no entanto, tornaram-se crescentemente acadêmicos: em Outubro os efeitos de montagem identificando Kerenski com Napoleão e um pavão para significar orgulho e vaidade, são frequentemente simplórios, enquanto A Linha Geral encontra Eisenstein aparentemente mais interessado nos reluzentes e virtualmente abstratos maquinários agrícolas em movimento, que nas pessoas que os operam.

Em 1929 Eisenstein viajou para a Europa e América, onde seus planos de filmar A Tragédia Americana de Dreiser para a Paramount nunca foram além do estágio do roteiro. Outro projeto, Que Viva México! permaneceu incompleto, com Upton Sinclair retirando seu apoio financeiro e cancelando a produção. Abatido, Eisenstein retornou para casa, somente para vivenciar futuros desapontamentos, tais como o abandono da produção de seu primeiro filme sonoro (Bezhin Lug/O Prado de Bejin, baseado em uma história de Turgueniev) sobre o regime stalinista. Somente em 1938, dez anos após Outubro, ele finalmente realizaria outro longa-metragem. Mas Aleksandr Nevskiy/Alexandre Nevski>5 apresentava uma mudança em seu estilo. Um épico histórico servindo enquanto alegoria da agressão nazista e do heroísmo soviético, fazia uso de atores profissionais, música de Prokofiev, montagem significativamente menos "intelectual" e um estilo visual mais convencional. Foi também em grande parte maçante, ainda que a cena da batalha de Alexandre Nevski contra os cavaleiros invasores teutônicos em um banco de gelo tenha capturado a imaginação do mundo.

O último filme de Eisenstein, Ivan Groznyy/Ivã, o Terrível, em duas partes, observou-o se distanciando ainda mais de método original. Uma narrativa lenta e barroca da batalha de um tirano contra a inveja e a intriga, seu tom é ambíguo. Embora possa certamente ser visto como um comentário sobre Stálin, aplaudimos seu objetivo de unir a Rússia contra os inimigos internos e externos ou deploramos o banho de sangue dos meios empreendidos para conseguir este fim? Qual seja o intento, a montagem cede espaço ao pictórico ornamental e a tipagem naturalista é sobrepujada por interpretações de olhos revirando e maneirismo operístico e posturas que chegam mesmo ao kitsch; ainda que, os cenários monumentais e uma cena de banquete na qual, por uma única vez na carreira do diretor, explodem cores berrantes com a dança dos cossacos, retém seu fascínio.

Um terceiro episódio de Ivan foi planejado, mas somente algumas cenas filmadas. Na verdade, a segunda parte foi censurada por Stálin e lançada somente dez anos após a morte do diretor. As façanhas de Eisenstein são impressionantes e ambiciosas mas, em última instância, limitadas: como descobriu em seus últimos anos a montagem, apesar de interessante na teoria, era demasiado cerebral e repetitiva enquanto método a ser posto em prática ao passo que, por toda a devoção inicial da Revolução ao povo, seus filmes também frequentemente surgem enquanto fria propaganda sem alma.

Cronologia
Um intelectual formidável, Eisenstein foi influenciado por todas as áreas da experiência humana: cinematograficamente, Griffith, Lev Kulechov e Dziga Vertov. Também admirava Sternberg, que assumiu Uma Tragédia Americana e Disney. Ele influenciou muitos realizadores revolucionários soviéticos, notavelmente Vsevolod Pudovkin, apesar da poética de Dovjenko hoje parecer mais atraente. As ramificações estético-políticas do seu conceito de montagem foram assimiladas por certos membros da vanguarda esquerdista dos anos 60, inclusive Godard; Woody Allen prestou seu tributo em A Última Noite de Boris Gruschenko e De Palma plagiou Potemkin em Os Intocáveis.

Leituras Futuras
Eisenstein (Londres, 1973), de Yon Barna, Signs and Meaning in the Cinema (Londres, 1969), de Peter Wollen; os escritos de Eisenstein podem ser encontrados em The Film Sense (Nova York, 1942) [No Brasil, O Sentido do Filme, Rio de Janeiro, 1990], Film Form (Nova York, 1949) [No Brasil: A Forma do Filme, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990], Film Essays (Londres, 1969) e Notes of a Film Director (Nova York, 1970). 

Destaques
1. A Greve, URSS, 1924, com os membros do teatro Proletkult

2. O Encouraçado Potemkin, URSS, 1925 c/Alexander Antonov, Grigori Alexandrov, Teatro do Proletkult

3. Outubro, URSS, 1928 c/V. Nikandrov, Boris Lipanov, N. Popov

4. A Linha Geral [O Velho e o Novo], URSS, 1927-9 c/Marfa Lapkina, Vasya Buzenkov, Kostya Vasiliev

5. Alexander Nevski, URSS, 1938 c/Nikolai Cherkassov, Nikolai Okhlopkov, Dmitri Orlov

6. Ivã, O Terrível, URSS, 1944-6 c/Nikolai Cherkassov, Serafima Birman, Ludmila Tselikovskaya

Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 94-6.

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