O Dicionário Biográfico de Cinema#73: Ida Lupino

Ida Lupino (1918-95), n. Brixton, Londres.

1950: Outrage [O Mundo é Culpado]; Never Fear [Quem Ama não Teme]. 1951: Hard, Fast and Beautiful [Laços de Sangue]. 1953: The Bigamist [O Bígamo]; The Hitchhiker [O Mundo Odeia-me]. 1966: The Trouble with Angels [Anjos Rebeldes].

Ida Lupino não trabalhou por quinze anos. Nem parecia inclinada a sair para tributos. Certamente foi convidada, pois era uma diretora de verdadeira personalidade; seus filmes são tão duros e acelerados quanto os de Samuel Fuller. Foi uma pioneira para as mulheres, especialmente porque esculpiu seu próprio território ao invés de esperar ser convidada para. Mas seus próprios filmes não obscureceriam a atriz Ida Lupino. Ela aprendeu como interpretar papéis rotineiros e interpretá-los bem. Porém, houve umas poucas ocasiões em que teve papéis fora do comum, e então foi fascinante. 

Por exemplo, quando sua personagem se torna desagradável e louca em They Drive by Night [Dentro da Noite] (40, Raoul Walsh), não há nada a fazer senão sentar e assistir uma impressionante explosão emocional. Em The Hard Way [É Difícil Ser Feliz] (42, Vincent Sherman), quando a irmã mais forte dirige Joan Leslie ao mundo do espetáculo, ela sente um filme desconhecido para os outros intérpretes. Ela é o diabo, tão forte que temos que nos dar conta de quão frequentemente, em sua carreira, manteve os freios. Nas primeiras poucas cenas de Road House [A Taverna do Caminho] (48, Jean Negulesco), podemos encontrar a mulher de Jim Thompson - ardente, perigosa, impaciente, implacável. Mas então percebeu que havia somente uma imitação de roteiro e atores triviais para trabalha-lo. Decidiu se comportar e o filme desce a ladeira. "Se somente", você diz tão frequentemente com Ida Lupino. Se somente ela e Gloria Grahame houvessem interpretado as perversas irmãs - elas se pareciam e eram ambas muito estranhas para filmes calmos. 

A filha do comediante Stanley Lupino, acrescentou a herança familiar de vaudeville, um treinamento formal na RADA. Estava na margem da indústria de cinema britânico quando o visitante Allan Dwan lhe ofereceu um pequeno papel em Her First Affaire (33). Fez muitos mais filmes e a Paramount a contratou (possuía apenas 15 anos) com a ideia dela atuando em Alice no País das Maravilhas. Não vingou, mas ela apareceu em Come On, Marines! [Fuzileiros da Fuzarca] (34, Henry Hathaway); Paris in Spring [Primavera em Paris] (35, Lewis Milestone); Smart Girl [Bonita e Ladina] (35, Aubrey Scottio*); Peter Ibbetson (35, Hathaway); e Anything Goes [Fuzarca a Bordo] (36, Milestone). Sua carreira esmoreceu, mas se arranjou novamente com The Gay Desperado [O Mundo é Meu] (36, Rouben Mamoulian), mas derrapou outra vez com Sea Devils [Heróis do Mar] (37, Ben Stoloff) e Artists and Models [Artistas e Modelos] (37, Walsh). Esteve mesmo sem trabalho por um tempo, mas retornou com The Lone Wolfe Spy Hunt [Álibi Nupcial] (39, Peter Godfrey), The Adventures of Sherlock Holmes [Sherlock Holmes] (39, Alfred Werker), e The Light that Failed [A Luz Que Se Apaga] (39, William Wellman).

Os Warners então a contrataram com o interesse marcado por filmes de gangster e ela floresceu em Dentro da Noite e High Sierra [Seu Último Refúgio], assim como a história baseada em Jack London, The Sea Wolfe [O Lobo do Mar] (41, Michael Curtiz). Uma variedade de papéis bons e duros no que ela pareceia mais sábia que sua idade poderia sugerir: Out of the Fog [Quando a Noite Cai] (41, Anatole Litvak), Ladies in Retirement [Mistério de uma Mulher] (41, Charles Vidor); Moontide [Brumas] (42, Archie Mayo); É Difícil Ser Feliz; Forever and a Day [Para Sempre e um Dia] (43, Frank Lloyd et al); Our Time [Viveremos Outra Vez] (44, Sherman); Devotion [Devoção] (46, Curtis Bernhardt), interpretando Emily Brontë; The Man I Love [Meu Único Amor] (46, Walsh), com sua grande abertura, e então o brega sentimental de Deep Valley [O Vale do Destino] (47, Negulesco); Escape Me Never [Quero-te Junto a Mim] (47, Godfrey); e A Taverna do Caminho, no qual acalma a platéia com uma performance rouca de várias canções. Sua imagem pública era atrevida e mandona, e em Across the River and Into the Trees [Do Outro Lado do Rio, Entre as Árvores], de Hemingway, a heroína italiana havia copiado o modo de falar de Lupíno. 

Findo seu período com os Warners, e com o seu primeiro marido, o ator Louis Hayward, casou-se com o executivo da Columbia Collier Young, e passou a escrever, dirigir e produzir. Produziu Not Wanted [Mãe Solteira] (49, Elmer Clifton), e dirigiu Quem Ama não Teme e O Mundo é Culpado, dois filmes menores, mas interessantes. Interpretou uma mulher cega em On Dangerous Ground [Cinzas Que Queimam] (51, Nicholas Ray), e supostamente dirigiu algo quando Ray esteve adoentado. Como atriz, trabalhou em Woman in Hiding [Entre o Amor e a Morte] (49, Michael Nelson); Beware, My Lovely [Escravo de Si Mesmo] (52, Harry Horner); Private Hell 36 [Dinheiro Maldito] (54, Don Siegel); The Big Knife [A Grande Chantagem] (55, Robert Aldrich); Women's Prison [Mulheres Condenadas] (55, Lewis Seiler); While the City Sleeps [No Silêncio de uma Cidade] (56, Fritz Lang); e Strange Intruder [Um Estranho em Minha Vida] (56, Irving Rapper).

Ela se provou uma competente diretora de filmes de segunda linha, e uma descoberta pioneira de temas feministas. Portanto O Bígamo é não apenas melodrama, mas uma crítica da vulnerabilidade da mulher. Casada novamente, dessa vez com o ator Howard Duff, voltou-se para a TV, mas dirigiu uma vez mais, em 1966, com Trouble with Angels [Anjos Rebeldes] - que reuniu Rosalind Russell, Hayley Mills e Gipsy Rose Lee em um convento, demonstrando que a idiossincrasia ainda não estava morta. Ela dirigiu para a TV, e foi fenomenal como a mulher de um homem, de quem se encontra farta em Junior Bonner [Dez Segundos de Perigo] (72, Sam Peckinpah). Também apareceu em The Devil's Rain [A Chuva do Diabo] (75, Robert Fuest); The Food of the Gods [A Fúria das Feras Atômicas] (76, Bert I. Gordon); e My Boys Are Good Boys (78, Bethel Buckalew).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, pp. 1644-46.

 

(*) Grafado incorretamente o nome do realizador Aubrey Scotto (1895-1953).

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