Filme do Dia: Quo Vadis? (1913), Enrico Guazzoni

 


Quo Vadis (Itália, 1913). Direção: Enrico Guazzoni. Rot. Adaptado: Enrico Guazzoni, a partir do romance de Henryk Sienkiewicz. Fotografia: Eugenio Baava & Alessandro Bona.  Montagem: Enrico Guazzoni. Dir. de arte: Enrico Guazzoni & Camilo Innocenti. Figurinos: Enrico Guazzoni. Com: Amleto Novelli, Gustavo Serena, Amelia Cattaneo, Carlo Cattaneo, Lea Giunchi, Augusto Mastripietri, Cesare Moltini, Olga Brandini, Giovanni Gizzi.

Vinícius (Novelli) apaixona-se perdidamente por Lígia. Ela é sequestrada por Petronius (Serena), melhor amigo de Vinícius, para satisfazer o amigo, mas durante o sequestro os soldados são acuados e Lígia não chega a ser entregue a Vinícius. Petronius se enamora, por sua vez, da escrava grega Eunice  (Cattaneo). A paixão por  Lígia faz com que Vinícius se converte ao cristianismo, justamente no momento em que o Imperador Nero (Cattaneo), decide tocar fogo em Roma e perversamente cantar para sua população em meio ao terror coletivo. Refugiados nas catacumbas, Pedro (Mastripietri) se torna uma figura de destaque dentre os cristãos. Quando foge da cidade, depara-se com uma aparição de Cristo que o faz retornar. O oportunista filósofo Chilon se faz passar por convertido, mas logo os denuncia aos romanos. Quando observa os corpos queimando, arrepende-se e se converte, antes de ser preso e executado.  Eunice e Petronius, condenados, cometem o suicídio em uma última festa.

O sustentáculo visual do filme de Guazzoni, tido como o primeiro dessa extensão na história do cinema, é o que norteava o cinema europeu de então, centrado na disposição dos atores em cena e uso da profundidade de campo mais que da montagem, tal como no cinema norte-americano. A disposição do elenco em cena, geralmente próximo da câmera o suficiente para que se observe as reações dos atores com maior precisão, também ocorre por vezes à distância, como no caso de Lígia sendo levada pelos soldados de Nero e despedindo-se da família, situação que se prefere dar maior ênfase visual ao pedido do escravo Ursus, que voluntariamente pede para acompanha-la, o que também já havia sido ressaltado pela cartela e que apenas observamos já ao final da cena. Já com relação à profundidade de campo, a determinado momento, ocorre como que uma abertura por encanto a essa, a partir do momento em que uma tela é afastada e se observa um pátio de onde corre a criança que vem abraçar Vinícius. Um elemento não muito diverso do cinema norte-americano, é o das interpretações, com seus exageros dramáticos, aqui provavelmente ainda mais salientes, como Vinicius bufando ao saber que Lígia, motivo de seu amor, foi raptada sobre a ordem de Petronius, algo antecipadores do que no Expressionismo seria trabalhado de forma mais calculada em filmes como O Gabinete do Dr. Caligari (1919). Com seus cenários monumentais e grande número de extras – um deles aparentemente morto por um dos leões quando da filmagem – é curioso que Guazzoni acumule tantas funções (diretor, roteirista, montador, diretor de arte e figurinista), algo que será associado na história do cinema menos a produções grandiosas como essa, que através de similares como Cabíria influenciariam grandemente Griffith e seu Intolerância, que as de perfil mais autoral. É certo que o filme possui câmera fixa praticamente do início ao final, mas movimentos até relativamente acentuados da mesma ocorrem na cena da arena romana. Se é verdade que o filme demonstra um avanço enorme em termos de ambição narrativa das que se encontravam presentes poucos anos antes, tais como em A Tempestade (1908), de Percy Stow, ainda se encontra bastante distante da clareza e redundância erigida pela narrativa clássica. Aqui se aproxima mais da estrutura que autonomiza as cenas (A Vida e Paixão de Jesus Cristo, Christoph Colomb, A Tempestade dentre vários) que de uma articulação orgânica que avance a partir dos designios dos personagens principais e seus opositores como se tornaria habitual na narrativa clássica.  Tratava-se dos anos de ouro dos épicos italianos, e o próprio Guazzoni já dirigira vários como Gerusalemme Liberata  (1911 e 1913) ou Marcantonio e Cleopatra (1913). Tendo sido publicado em 1895, o romance já seria adaptado para o cinema em 1902, sendo sua versão hoje mais lembrada a de 1951, dirigida por Mervin LeRoy ainda que, guardadas as devidas proporções, é mais que provável que esse filme tenha feito mais impacto quando de seu lançamento  que qualquer outra versão.  Società Italiana Cines. 101 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar