Filme do Dia: Los Dioses Rotos (2008), Ernesto Daranas

 


Los Dioses Rotos (Cuba/México, 2008). Direção e Rot. Original: Ernesto Daranas. Fotografia: Rigoberto Senarega. Música: Magda Rosa Galván & Juan Antonio Leyva. Montagem: Pedro Suarez. Figurinos: Vladimir Cuenca. Com: Silva Aguila, Carlos Ever Fonseca, Yoel Infante, Mario Limonta, Hector Noas, Daisy Quintana, Isabel Santos, Patricio Wood.

Laura (Aguilla), pesquisadora que escreve uma tese sobre Yarini, malandro histórico que viveu nas ruas de San Isidro, em Havana, há mais de um século, envolve-se numa paixão pelo jovem e atraente Alberto (Fonseca), que havia trabalhado para o mafioso chefe de uma rede de prostituição, Rosendo (Noas) e sido amante da atual mulher de Rosendo, Sandra, com quem havia divido um passado de pobreza. A tensão entre Rosendo e Alberto se vê atenuada quando Laura aparece ao lado de Roberto, o que faz despertar os ciúmes furiosos de Sandra. Essa volta a se encontrar furtivamente com Alberto, mas os dois são surpreendidos por Rosendo, que mata Alberto e é morto por esse, com a ajuda de Sandra.

Drama passional cubano que revisita influências importantes cubanas, sobretudo a melodramática, inserindo-a numa intriga de suspense que apresenta demasiados personagens e situações ao mesmo tempo, numa montagem vertiginosa, sobretudo em sua primeira metade. Sugere paralelos entre a história do malandro histórico e sua reencarnação atual, seja ao contrapor numa montagem paralela a aula que Laura ministra sobre o mesmo na universidade enquanto acompanhamos as ações do protagonista contemporâneo - mesmo que em parte tal relação se perca já que a personagem que mais se aproxima de Yarini não é Alberto, mas sim Rosendo - seja através de uma subtrama da busca de um lenço que pretensamente teria pertencido a Yarini. São igualmente os paralelos que se traçam entre uma professora mais velha, que perdeu tudo na sua paixão por Alberto, Isabel, e sua evidente reencarnação mais jovem, a própria Laura, que inicia distante como toda pesquisadora, mas acaba sendo tragada cada vez mais por seu tema. Para as mulheres o envolvimento sempre significará de alguma forma dilapidação, seja moral (Laura), seja econômica (Isabel), seja afetiva (Sandra), ainda que curiosamente sejam os homens que morram. As mulheres de Alberto, no entanto, parecem apenas sobreviver a ele. Laura pode até fazer troça do modo pudico e distanciado que se aproxima de seu ambiente, chamando a si própria de redentora, a figura feminina que iria redimir o mundo do pecado tal qual a Virgem, mas o filme parece apostar na descoberta de uma camada ainda inexplorada de si que segue o caminho oposto e, como no caso das duas outras mulheres, somente aflorará ao encontro com Alberto, vivido por um ator com estampa de modelo, mas sem grande expressividade, o que talvez tampouco importe, no sentido de que o drama diz mais respeito às mulheres, com os homens ficando sobretudo a ação. As interpretações podem ser desiguais, mas o filme parece criar algo diferente a partir do mesmo. Seu enredo, por mais clichê que possa sugerir, ganha coloração e ritmo própios, que o distancia do vulgar. Mesmo com uma trama tão explosiva e envolvendo tantos personagens, que parece mal caber no que é apresentado, ainda existem momentos francamente supérfluos, como o do ritual de santeria na praia, que não pode ser explicado por outra motivação que não a erótica. Ou ainda a visita de Sandra ao avô no asilo. Aliás, a introdução de referências culturais nacionais como a da santeria apenas surgem como pitadas de exotismo, no sentido de que não possuem nenhum função maior ou pelo menos mais evidente no enredo, mesmo que associada aos protocolos de um filme de ação, como fez Nélson Pereira com seu O Amuleto de Ogum. Não há como negar, goste-se ou não do filme, o virtuosismo com que a narrativa é contada, e o modo como Daranas tira partido da elipse, como no momento em que a referência ao ciúme e a culpa pela morte de Alberto sobreposta a imagem de Sandra parece apontar para uma confissão dela, quando na verdade se trata de Laura. Altavista para o ICAIC. 92 minutos.

 

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso