Filme do Dia: O Talentoso Ripley (1999), Anthony Minghella

 


O Talentoso Ripley (The Talented Ripley, EUA, 1999). Direção: Anthony Minghella. Rot. Adaptado: Anthony Minguella, baseado no romance de Patricia Highsmith. Fotografia: John Seale. Música: Gabriel Yared. Montagem: Walter Murch. Dir. de arte: Roy Walker, John Fenner & Stefano Ortolani. Cenografia: Bruno Cesari. Figurinos: Gary Jones & Ann Roth. Com: Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Jude Law, Cate Blanchett, Philipp Seymour Hoffman, Jack Davenport, James Hebhorn, Sergio Rubini, Philipp Baker Hall.

Tom Ripley (Damon) é convidado pelo milionário Herbert Greenleaf (Rebhom) para trazer seu filho playboy de volta da Itália para os EUA. Na viagem ele conhece a jovem Meredith Logue (Blanchett) e se apresenta como o próprio Dickie. Ele finge ter sido um colega de Dickie (Law) em Princenton e logo conquista a confiança desse quando acredita que Ripley também é fã de jazz, convidando-o a dividir a residência em que convive com a namorada Marge (Paltrow). Ripley encontra-se fascinado pelo mundo de luxo e sofisticação de Greenleaf e passa a idolatrá-lo, também desejando-o sexualmente. Passa a então a ser um “agente duplo”, deixando em suspenso sobre o retorno desse ou não, enquanto gasta o dinheiro com o casal amigo. Ripley sabe que Silvana (Rocca), nativa que aparece morta no mar, era amante de Dickie. Esse lhe conta que ela estava grávida dele e o motivo de sua morte foi esse. Ripley se prontifica a assumir por ele a gravidez. Quando percebe que Greenleaf  já se encontra cansado dele, depois da descoberta de um novo amigo, Freddie (Hoffman), Ripley faz de tudo para permanecer mais tempo no convívio dos novos amigos. Greenleaf convida-o para um passeio de barco à dois em San Remo e ele acaba reagindo  impulsivamente as grosserias do mesmo, ferindo-o com o remo. A reação furiosa de Greenleaf faz com que Ripley o assassine. Porém, devido a semelhança física entre ambos, os funcionários do hotel acreditam ser ele Dickie, e  passa a assumir a personalidade do amigo. Para Marge e seu amigo Peter (Davenport) ele afirma que Dickie foi para Roma, abandonando-os. Para Meredith, ele continua fazendo-se passar pelo falecido. Sua situação complica-se quando Freddie decide visitar Dickie, e desconfia de tudo, sendo assassinado por Ripley. Ripley consegue fazer a polícia imaginar que o crime de Freddie fora cometido por Dickie e que, posteriormente, esse praticara o suicídio. Marge, no entanto, descobre com ele os anéis que foram de Dickie e dos quais não se separava e passa a ter certeza de que Ripley o assassinou. Sua desconfiança não é compartilhada pelo pai de Dickie, que passa  a ter Ripley como filho, legando-lhe a herança do mesmo. O mesmo pensa o investigador particular de Herbert, MacCarron (Hall). Vivendo agora um relacionamento amoroso com Peter, Ripley novamente vê-se enrascado em meio a sua lua-de-mel com Peter, quando Meredith o encontra no navio, matando Peter.

Refilmando o romance que já fora adaptado pelas telas com virtuosismo por René Clément em O Sol por Testemunha (1960), Minghella conseguiu realizar um filme atraente, ao que muito deve um bom senso de atmosfera e diálogos elaborados. Muito da atmosfera deve-se, por sua vez, a elaborada produção visual do filme, bastante semelhante ao filme anterior do cineasta, O Paciente Inglês, porém utilizada aqui como elemento de apoio mais discreto e menos irritantemente dirigida para uma pretensa aura “artística”. Como assumido produto de um artesão o filme mostra sua força, seja na elaboração do suspense, na inserção ao mundo cínico e amoral do anti-herói Ripley, em seu momento de iniciação no mundo do crime, com quem acabamos por, no final das contas, nos identificar ou na ambígua relação homo-erótica desse com Dickie. Entre seus melhores momentos, no entanto, encontram-se menos a progressivamente rocambolesca narrativa que a mais lenta primeira metade do filme, que consiste em descrever a amizade dos três e a iniciação de Ripley na arte de bon vivant, menos dependente dos caprichos da lógica narrativa do thriller convencional e mais dramaticamente densa. Wenders também dirigiu uma boa adaptação de Highsmith, com seu O Amigo Americano (1976), com o personagem já maduro. Fazem parte da trilha sonora alguns clássicos do cool jazz como My Funny Valentine. Timnick Films/Mirage Enterprises/Miramax/Paramount. 139 minutos.

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