Filme do Dia: Jackie Curtis, Superstar (2004), Craig Highberger
Jackie Curtis, Superstar (Superstar in a Housedress, EUA, 2004).
Direção, Rot. Original, Fotografia, Montagem: Craig Highberger. Música: Paul
Serrato.
Esse documentário que acompanha a
trajetória de Jackie Curtis (1947-85), um dos superstars de Andy Warhol é mais interessante enquanto testemunho
de uma época do que propriamente algo de maior reflexividade sobre a obra de
Curtis, que além de ator, também foi dramaturgo, poeta e modelo fotográfico.
Bastante didático enquanto cinema documental segue em trilha linear desde o
surgimento do tímido garoto que passou a fazer parte do grupo teatral La Mama
E.T.C., da vanguarda nova-iorquina até sua morte por overdose. No ínterim, suas
aparições no cinema em Women in Revolt
e Flesh, produções de Andy Warhol
dirigidas por Paul Morrisey, que incluíam a participação de outras duas superstars que compunham o trio com
Jackie, Candy Darling e Holly Woodlawn, além do “galã” Joe Dallessandro, sua
audição vestido como mulher para uma peça de Busby Berkeley, sua apresentação
em peças como Glamour, Glory and Gold
(estréia de De Niro como ator) e Amerika Cleopatra,
sucessos de público e fracassos de crítica. Seu talento como poeta também foi
reconhecido, tendo uma poema seu - B-Girls inserido em uma coletânea organizada no final
da década de 1970. Seu tema, era a própria alegria e dor do estrelato, a exposição
de suas própria entranhas. Nesse sentido, talvez o que mais diferencie as
pessoas retratadas pelo filme e o mundo
profissional do entretenimento de hoje ou mesmo o daquela época venha a
ser uma quase não dissociação entre a fantasia e a realidade, ao contrário do
excessivo distanciamento que uma profissão mais reconhecida de ator sugere. Ao
se transformar numa superstar de Warhol, por exemplo, Jackie estava realizando
o sonho de se transformar na figura mítica feminina dos melodramas antigos tais
como Maria Montez ou Joan Crawford, apesar de também incorporar ícones
masculinos como James Dean. Ele é destacado como uma figura mais
intelectualizada e existencialista do grupo, enquanto Candy Darling, de traços
bem mais femininos, apenas vivia o próprio sonho de ser estrela com
deslumbramento. Porém, se essa faceta anti-industrial proporcionou a
possibilidade de produções com um nível de amadorismo desconcertante e
esteticamente instigantes, filmadas em poucas horas e improvisadas a partir de
uns poucos comentários do diretor, renderam pouco mais que uns trocados para os
atores, enquanto Warhol já era dono de considerável fortuna. O documentário se
estrutura a partir de muitas imagens de arquivo de Curtis – a anarquia e o
escracho no palco tornava Hair um mero
produto de apelo em cima da contra-cultura para a classe média como afirma um
dos depoentes – e de depoimentos de várias pessoas próximas a ele. Na longa
lista de depoentes se encontram desde Holly Woodlawn, a única remanescente das
superstars, Joe Dallesandro (num dos depoimentos mais negativos, até mesmo
irônico, com relação ao momento que participou, em contradição com a maioria
dos outros depoentes), Paul Morrisey, Sylvia Miles e Lily Tomlin. Sua estrutura
se aproxima bastante de Não Quero Apenas que Vocês me Amem (1993), a respeito de Fassbinder, embora esse último
apele menos para o sentimental ao tratar da morte do cineasta e vá além ao
acrescentar comentários estéticos sobre a obra de seu biografado. Highberger
Media Inc. 95 minutos.
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