Filme do Dia: Minha Mãe (2015), Nanni Moretti

 


Minha Mãe (Mia Madre, Itália/França/Alemanha, 2015). Direção: Nanni Moretti. Rot. Original: Nanni Moretti, Francesco Piccolo & Valia Santella, partindo do argumento de Moretti, Santella, Gaia Manzini & Chiara Valerio. Fotografia: Arnaldo Catinari. Montagem: Clelio Benevento. Dir. de arte: Paola Bizzari. Cenografia: Mina Petrara. Figurinos: Valentina Taviani. Com: Margherita Buy, John Torturro, Julia Lazzarini, Nanni Moretti, Beatrice Mancini, Steffano Abbati, Francesco Aquaroli, Enrico Ianiello, Pietro Ragusa.

Margherita (Buy), dirige um filme com um ator norte-americano, Barry (Torturro), e cujas decisões de produção lhe provocam extrema tensão, acrescida do internamento de sua mãe, Ada (Lazzarini), no hospital há bastante tempo, revezando-se com o irmão, Giovanni (Moretti), nos cuidados dela.

Repleto de pequenos comentários (auto)irônicos, ao mesmo tempo que o filme observa com certa compassividade distanciada, a crise de sua protagonista, tampouco deixa de demarcar que seu produto, o filme dentro do filme, possui menos a ver com a realidade, do que com a realidade grandemente filtrada pelos olhos de quem acredita que seja a realidade – Margherita, a determinado momento, dá um carão em quem havia selecionado os extras, por não encontrar nos tipos selecionados para representar trabalhadores, completos de penduricalhos e acessórios, o que ela acredita que seriam trabalhadores, recebendo como resposta que são uma representação fidedigna deles; não há como não punirmos pelo assistente diante da demanda sugerida. Discretamente assentado em vai e vens temporais, que por vezes se adiantam para a recepção do público pela crítica, por vezes tampouco deixam de ser um espelhamento das tensões de Margherita, o filme vai se equilibrando nesse traçado entre o drama pessoal, que envolve a mãe no hospital, e o drama da situação de se encontrar no cargo principal da execução de um filme, no qual não falta uma referência ao menos a passagem de Truffaut pela representação do filme dentro do filme (Noite Americana), quando o ator indaga da diretora qual bigode usar. Ou ainda quando tem um ator principal que vive esquecendo suas falas, com bem mais recorrência que a Valentina Cortese do filme do realizador francês. Não se pode dizer que o filme consiga extrair muita coisa além do trivial das duas situações. Moretti, aliás, é alguém que pune pelo trivial como eixo recorrente de sua filmografia, seja no drama ou na comédia. E isso vale até para a cena que poderia render o ápice dramático de um outro filme, mas que aqui se detém em acompanhar o sentimento de derrota de Margherita pelo acúmulo da impossibilidade de fazer com que os outros reajam a partir de sua vontade, seja o atrapalhado ator de seu filme, ou a mãe que não possui forças de andar até o banheiro. Deslocando, de forma interessante, tal momento, de acordo com o mesmo princípio, para uma efusiva comemoração de Barry no set de filmagem, na qual ele e uma membra da produção efetuam de improviso uma dança. Assim, como fragmento algo trivial, fica a reflexão de Margherita, papel escrito especialmente para a atriz, mantendo inclusive seu nome, sobre o desaparecimento do acúmulo de conhecimento reunido por sua mãe ao longo da vida, que agora some – ainda que aqui, existam pequenos indícios de contrapesos, entre o estudante que a visita acidentalmente no dia de sua morte, e o interesse, que não se sabe se será continuado, da sua filha, neta da falecida. Parece algo também que acena para o mais genérico, espécie de lástima sobre toda uma cultura erudita que se perde e do qual Margherita (como, por extensão, o próprio cineasta) já foram testemunhas em sua própria geração. E, no final, a dor não apenas da perda, mas também de se saber destituída da energia afetiva vital que a fez tão importante para os que conviveram com ela, de sua mãe. Sem que isso, felizmente, signifique um momento de ruptura, como seria facilmente vítima em um produto hollywoodiano que lidasse com tema equivalente. Há bastante música presente, mas não original. Sache Film/Fandango/Le Pact/Canal+/Cine+/Cinémage 8/Cofinova 10/Films Boutique/Palatine Étoile 11/WDR-Arte para 01 Distribution. 107 minutos.

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