Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#34: Juan José Campanella
CAMPANELLA, JUAN JOSÉ (Argentina, 1959). Comercialmente o mais bem sucedido realizador da Argentina, Juan José Campanella possui experiência extensa dirigindo tanto filmes argentinos quanto episódios de séries norte-americanas. Ele nasceu em Buenos Aires e estudou engenharia na universidade, mas abandonou antes do último ano, em 1980. Fala que teve essa decisão quando assistiu All That Jazz [O Show Deve Continuar], no dia que suspostamente faria a matrícula na universidade. Já havia realizado um curta-metragem em 1979, Prioridad Nacional, quando viajou para Nova York para estudar cinema na Tisch School of Arts da New York University. Em 1984, com Fernando Castets, co-roteirizou e co-dirigiu seu segundo filme e primeiro longa Victoria 392. Marcou a primeira das cinco colaborações entre Campanella e o ator Eduardo Blanco. Dirigiu seu segundo e terceiro longas nos Estados Unidos, The Boy Who Cried Bitch (1991) e Love Walked In, um suspense noir baseado em um romance argentino, e estrelado por Terence Stamp e Denis Leary, mas nenhum deles obteve grandes impressões. Entre a realização dos dois filmes, Campanella começou a dirigir para a televisão, incluindo o The CBS Schoolbreak Special: Stand Up (1995), pelo qual foi indicado para um Prêmio Emmy na categoria "Daytime", em 1996. Também dirigiu seis episódios da série diurna Lifestories: Familiese in Crisis; notável por dois episódios "A Child Betrayed: The Calvin Mire Story" (1994) e "Someone Had to Be Benny" (1996), Campanella ganhou um Prêmio Emmy diurno por Excepcional Direção em um Especial Infantil.
O melodrama romântico El Mismo Amor, la Misma Lluvia [O Mesmo Amor, a Mesma Chuva, 1999], marcou seu retorno à Argentina para uma segunda colaboração com Castets, que co-escreveu o roteiro, e Blanco, que interpretou um coadjuvante. Este filme foi também a primeira das quatro colaborações (até aqui) com o ator Ricardo Darín, que aqui atua como um escritor de contos que vivencia tempos difíceis, durante os vinte problemáticos anos recentes da história argentina. O filme sintonizou com as plateias locais e também com a Associação dos Críticos de Cinema Argentinos, ganhando oito prêmios Condor de Prata (das 13 indicações), incluindo Melhor Filme, Diretor (compartilhado), Roteiro e Ator (Darín). O segundo filme com Darín, El Hijo de la Novia [O Filho da Noiva], que foi o filme mais popular do ano na Argentina, batendo Jurassic Park 3, e vindo a se tornar um dos mais bem sucedidos filmes da história argentina, ganhou oito Condores de Bronze, incluindo Melhor Filme, Diretor, Roteiro, Ator e Atriz Coadjuvante. Após seu lançamento local em agosto e sua aparição no Festival de Cinema Mundial de Montreal (onde ganhou o Prêmio Especial do Júri), foi lançado em mais de vinte países e ganhou numerosas honras, incluindo uma indicação ao Oscar de Filme em Língua Estrangeira.
Campanella voltou então aos Estados Unidos e passou a maior parte dos idos dos anos 2000, como um prolífico e bem pago diretor de episódios de TV em séries tais como Strangers with Candy (2000), The Guardian (2001), Law and Order: Criminal Intent [Lei & Ordem: Crimes Premeditados] (2002), e Dragnet (2003). Retornou a Argentina para realizar outro filme envolvendo Castets, Darín e Blanco, Luna de Avellaneda [Clube da Lua, 2004], um lastimável drama cômico que conta a história de um típico clube social operário, uma vez popular, vivenciando tempos difíceis, como resultado da crise econômica em voga no país. Uma vez mais o filme de Campanella encontrou guarida entre os críticos e platéias. Ainda que somente tenha ganho 3 dos 11 Condores de Prata que concorreu, foi o filme doméstico mais popular do ano. Depois disso, Campanella dirigiu sete episódios da série de tv hispano-argentina Vientos de Agua (2006); mais recentemente tem dirigido para prestigiadas séries de TV norte-americanas tais como 30 Rock [Um Maluco na TV] (2006), House [Dr. House] e Law and Order; Special Victims Unit (16 episódios de 2000 a 2009).
Em 2009 empreendeu sua quarta e mais conhecida colaboração com Ricardo Darín, El Secreto de sus Ojos [O Segredo dos Seus Olhos]. Uma co-produção hispano-argentina, estrelando Darín como um detetive obcecado por um assassinato ocorrido nos anos 70, o filme liderou os gráficos de bilheterias tanto da Espanha quanto da Argentina em 2009, e ganhou 13 Condores de Prata, incluindo Melhor Filme, Ator, Atriz, Ator Coadjuvante, Diretor e Roteirista. Também obteve grande sucesso comercial mundo à fora e muitos prêmios internacionais, notadamente o Oscar de Filme em Língua Estrangeira. Mesmo não sendo o mais inovador dos diretores, Campanella possui o dom de mesclar gêneros e discretos comentários políticos de forma prazeirosa ao público e tem conseguido manter o sucesso comercial doméstico e internacional sem precedentes para um realizador argentino.
Texto: Rist, Peter H. The Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 118-20.
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