Dicionário Histórico do Cinema Sul-Americano#32: Nelo Cosimi
COSIMI, NELO (Argentina, 1894-1945). O mais comercialmente (e à época, de crítica) bem sucedido diretor de cinema argentino do final do período silencioso, foi também um ator prolífico. Nascido em Macerata, Itália, emigrou para a Argentina com seus pais, aos quatro anos. Quando jovem, começou a atuar nos filmes dirigidos por José A. Ferreyra. O primeiro desses foi Venganza Gaucha (1917); para o segundo, El Tango de la Muerte (1917), recebeu o crédito principal. Cosimi apareceu em mais cinco filmes de Ferreyra nos sete anos seguintes. Passou a escrever roteiros em 1921, para Los Hijos de Naides, e durante o ano de 1922 dirigiu seu primeiro filme, Mi Alazán Tostao, que também estrelava. Sempre tido como perdido, uma cópia incompleta, em precária condição, foi descoberta em 2004. A cena de abertura apresenta Cosimi como gaúcho, envolvido em uma briga de bar por expor uma trapaça em um jogo de cartas, nada diversa de uma cena de um western. Um aspecto mais argentino da luta de classes se reflete em um triângulo amoroso: uma jovem, vivendo em pobreza numa fazenda é resgatada duas vezes pelo personagem de Cosimi, de cavalo, depois de um acidente de carruagem, e do charme desonesto de um vigarista da cidade, que reinvindica direitos sobre as terras de seus idosos pais. Mi Alazán Tostao efetua bom uso da montagem paralela e dos flashbacks, numa narrativa que talvez seja demasiado ambiciosa.
Cosimi dirigiu mais dois filmes em 1922 e outro em 1924, Carne de Presidio, um melodrama. Ele abordou uma diversidade de assuntos, incluindo dramas tanto urbanos quanto rurais, e após realizar um filme em 1926 e outro em 1927, sua companhia se aliou com a de Antonio Manzanera para formar a Sociedade Anónima Cinematográfica Hispano Argentina Manzanera (S.A.C.H.A Manzanera), deslanchando o período mais bem sucedido de sua carreira. Dirigiu dois filmes em 1928, La Mujer y la Bestia e La Quena de la Muerte, lançado em 1929. A "mulher" do primeiro título, esposa de um batedor - que abandonou a casa para bem longe, é molestada pela "besta", o senhorio. A descrição do enredo de La Mujer y la Bestia - um filme perdido - indica que contém elementos dos gêneros hollywoodianos combinados com elementos argentinos, incluindo luta de classes e sexualidade agressiva.
La Quena de la Muerte é o segundo filme de Cosimi a ter sobrevivido e é um interessante filme de temática completamente sul-americana. Filmado em locações, em Córdoba, La Quena (nome para uma flauta indígena) opõe um mestiço (Cosimi), de pai quíchua e mãe branca, e sua irmã, Cardo Azul (Leonor Alvear), contra o filho de um oligarca de Buenos Aires, Raúl (Florentino Delbene) e seu "amigo" Azucena (Chita Foras), que é "enfraquecido pela doença e uma vida dissoluta" (entretítulos traduzidos). O casal da cidade rica e decadente estão passando o verão na bela hacienda da família e um, de cada vez, tenta seduzir o "Mestiço", que nunca é chamado pelo nome, e Cardo Azul. Há um claro critério de duplo padrão na tela - Raúl chicoteia o irmão por sua audacidade de se tornar amigo de Azucena, enquanto a estatura de Raúl permite-lhe o poder de oprimir Cardo Azul. As simpatias do roteirista/diretor são claramente pelo povo aborígene - Cosimi também interpreta o herói "mestiço" - e ao final do filme retornam ao planalto boliviano juntos com uma velha ajuda de fazendeiro, seu padrinho. O "mestiço" ainda foge com o assassinato de Raúl, enquanto Azucena, que passou a compreender as condições do povo aborígene, morre com o coração pesado. Nesse filme, Cosimi continuou a fazer um bom uso da montagem paralela - para comparar e constrastar os universos dos ricos e dos pobres - e flashback e sequencias imaginárias, por exemplo, da fixação de Azucena pelas ruas apinhadas de Buenos Aires. Ambos os filmes foram muito bem sucedidos na Argentina.
Cosimi foi algo como um pioneiro do cinema sonoro argentino. Dirigiu um filme silencioso em 1929, Corazón Ante la Ley cujo som foi fracassadamente acrescentado posteriormente, e em 1930 realizou o primeiro filme argentino "completamente sonoro", Defiende tu Honor. Após dirigir mais um filme silencioso, passou a trabalhar em outro filme sonoro, La Canción de Fuego, mas este foi abandonado quando a companhia produtora, S.A.C.H.A. Manzenera, fechou suas portas. Cosimi então encontrou dificuldade para trabalhar em outros projetos. Ele não dirigiria novamente senão em 1936, com Juan Moreira, e não interpretaria novamente antes de 1940. Somente dirigiria mais dois filmes, ainda que tenha atuado regularmente até o final de sua vida. Morreu em Buenos Aires.
Texto: Rist, Peter H. The Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, 184-6.
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