Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#33: Marko Zaror

 


ZAROR, Marko (Chile, 1978). Não se espera encontrar uma estrela de cinema de artes marciais na América do Sul, mas Marko Zaror, nascido em Santiago de Chile, com oito filmes sob seu cinturão em doze anos, se encaixa no perfil. Tendo aprendido karatê com sua mãe, mudou-se para o México aos 19 anos. Sua carreira no cinema iniciou no México, quando interpretou um pequeno papel em Juan Camaney en Acapulco (1998). Após decidir que queria forjar uma carreira no cinema, viajou para Los Angeles, onde trabalhou lavando pratos e como garçom antes de conseguir ensinar em uma escola de artes marciais. Em um filme em vídeo de baixo orçamento de Hollywood, Hard as Nails (2001), Zaror teve um pequeno papel de ação como guarda-costas russo, e em 2002 estrelaria em uma co-produção mexicana-americana, Into the Flames, dirigido por Carlos Victoria Reys. Também trabalhou como dublê, e em 2003 conseguiu uma virada real quando foi convidado a ser o duplo dublê de The Rock em The Rundown [Bem-Vindo à Selva]. Foi um dos quatro dublês a receber o Prêmio Taurus de Melhor Dublê Geral no World Stunt Awards de 2004. Porém, foi  seu primeiro filme chileno, Kiltro  (2006), que co-produziu e trabalhou, como coreográfo das lutas, assim como estrelou, que foi o maior divisor de águas, tanto local quanto internacionalmente. 

Com orçamento muito reduzido, Zaror e o diretor do filme, Ernesto Díaz Espinosa, foram capazes de elaboradas cenas de dublês auxiliados por simples equipamentos operados à mão, e conquistaram uma interessante mescla de influência de artes marciais asiáticas e western "spaghetti". Compreendido como o primeiro filme de artes marciais realizado no Chile, Kiltro foi bastante bem sucedido com o público local e foi exibido no Mercado de Cinema em Cannes, em 2007, assim como no maior festival de filmes do gênero, FantAsia, em Montreal. A estréia mundial do filme seguinte de Zaror e Díaz Espinosa, Mirageman, também ocorreu no FantAsia, em 2007. Zaror interpreta Maco Gutiérrez, um vigilante super-herói de cômodo cachê, cujo irmão mais jovem foi traumatizado por um ataque a família deles, no qual ambos os pais foram mortos. Não seria lançado no Chile senão em 2008, finalizando o ano como a segunda bilheteria local. Ganhou os prêmios de público de Melhor Filme no Fantastic Fest, de Austin, Texas em 2007 e de Melhor Filme Chileno no Festival de Valdivia, em 2008. A terceira colaboração entre Zaror e Díaz Espinosa foi Mandrill. Tipicamente farsesco, Zaror interpreta o personagem titular, como um James Bond do kong fu, e através de flashbacks e brilhantes inserções de trailers e flashes de uma série inventada de filmes dos anos 60 protagonizadas por "John Colt", temos notícia das influências de Mandrill quando criança, quando testemunhou o brutal assassinato de seus pais. O tio de Mandrill é um mulherengo que lhe ensina truqes de sedução. O sobrinho, que possui um contrato para matar um proprietário de cassino apelidado de Cyclops em Lima, Peru (que sabe ser o responsável por torná-lo órfão), tenta seduzir a filha do gângster (Celine Reymond), tentativa que não é bem sucedida após se beijarem e Mandrill assassinar Cyclops. Com mudanças deliberadas entre cômico e sério, Mandrill traz em primeiro plano as habilidades acrobáticas de Zaror, enfatizadas pela câmera lenta, simultaneamente demosntrando o quão seus chutes de mestre revelam uma habilidade muito maior da atuação física do astro, que a de outros atores do filme. 

Mandrill venceu Melhor Filme e Melhor Ator no Fantastic Fest em 2009. Ele então se casou com sua co-estrela, Reymond, e foi convidado a integrar o elenco em um papel principal (como Raul "Dolor" Quinones) em um filme hollywoodiano de ação, Undisputed III: Redemption [O Imbatível 3: Redenção] (2010). Também interpretou um papel secundário em um filme chileno de 2010. Com a popularidade da mescla de artes marciais e das lutas finais entre o público jovem masculino americano, Zaror continuará a conseguir bons papéis em filmes de Hollywood (como o ainda a ser lançado Machete Kills [Machete Mata], de Robert Rodríguez), mas se espera que continue a realizar seus filmes digitais de baixo orçamento no Chile, para que as plateia ao redor do mundo continuem a apreciar as artes marciais românticas e com sabor latino que Marko Zaror (e Ernesto Diáz Espinosa) podem invocar.

Texto: Rist, Peter H. The Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 613-4.

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