O Dicionário Biográfico de Cinema#70: James Whale

 

James Whale (1896-1957), n. Dudley, Inglaterra

1930: Journey's End. 1931: Waterloo Bridge [A Ponte de Waterloo]; Frankenstein. 1932: The Impatient Maiden [A Donzela Impaciente]; The Old Dark House [A Casa Sinistra]. 1933: The Kiss Before the Mirror [O Beijo Diante do Espelho]; The Invisible Man [O Homem Invisível]; By Candlelight [Quando a Luz Se Apaga]. 1934: One More River [Estigma Libertador]; 1935: The Bride of Frankenstein [A Noiva de Frankenstein]; Remember Last Night? [A Caravana da Morte]. 1936: Show Boat [Magnólia: O Barco das Ilusões]. 1937: The Road Back; The Great Garrick [O Grande Garrick]. 1938: Sinners in Paradise [Pecadores no Paraíso]; Wives Under Suspicion [Esposas Sob Suspeita]; The Port of Seven Seas [O Porto dos Sete Mares]. 1939: The Man in Iron Mask [O Homem da Máscara de Ferro]. 1940: Green Hell [Inferno Verde]. 1941: They Dare Not Love [Proibidos de Amar]. 1949: Hello Out There (nunca lançado).

Whale é uma figura notável em uma linhagem limitada, mais rica: dos ingleses que foram dirigir filmes na América. A despeito de sua "respeitável" formação teatral, envolveu-se em diversos dos gêneros menos sofisticados. E, muito frequentemente, há uma tensão absorvente entre seu desejo de não ser levado a sério e a capacidade de encontrar inesperadas profundidades no nonsense. Seus filmes oscilavam descontroladamente, e é bastante evidente que algumas sequencias o absorviam, enquanto para outras ele não dava a mínima. Nunca se sabe com Whale quando a imaginação vai se definir; ele próprio não devia estar seguro quanto.

Desenhista de revistas, foi prisioneiro alemão durante a I Guerra Mundial, e foi no cativeiro que atuou pela primeira vez. Em tempos de paz ingressou no teatro profissionalmente, primeiro como ator e depois produtor. Foi uma produção bem sucedida de Journey's End, de R.C. Sheriff, que o levou a Nova York. Auxiliou nos diálogos para Hell's Angels [Anjos do Inferno], dirigiu o filme de Journey's End, e o seguiu com uma versão do romance piegas de Robert E. Sherwood, A Ponte de Waterloo, com Bette Davis em um pequeno papel. Por essa época, a Universal estava se preparando para filmar Frankenstein, com Robert Florey dirigindo Bela Lugosi. O ator desistiu do papel e Whale foi designado para isso. Ele ofereceu o papel do monstro ao amigo Boris Karloff. 

Frankenstein não é o maior filme de horror, mas histórica e artisticamente foi um marco. E é mais assustador quando lida com as pessoas "comuns". Quando trata do monstro de Karloff é surpreendente, lírico e solenemente tolerante. Seu temor do fogo é de longe o "horror" mais convincente no filme; seu desejo por luz sua imagem mais espiritual. Na cena do monstro e da garotinha jogando flores numa lagoa, o equilíbrio entre esperança e ameaça é tão exato que a cena ainda possui o efeito convincente do melhor Hithcock. Mais que tudo, Whale e Karloff criaram um novo herói, um pária indefeso bem mais nobre que os homenzinhos da Universal ao início do filme, que tagarelam sobre o quão assustados ficaremos. 

O filme foi um enorme sucesso e Whale se tornou um herói do estúdio. Ele nunca foi completamente feliz em meio ao sensacionalismo do horror, tão distante da seriedade desajeitada de Journey's End e pode ser que seus próprios sentimentos confusos tenham se somado ao sabor misantrópico de seus outros filmes de horror. De qualquer modo, contratou bons roteiristas e atores e, de uma maneira geral, ampliou o alcance da forma. A Casa Sinistra é um pastiche gótico sobre uma família inglesa em declínio, estrelando Karloff, Ernest Thesiger e Charles Laughton. O Homem Invisível é uma sucessão de truques fotográficos, adornado pela voz de Claude Rains. Mas A Noiva de Frankenstein é talvez o maior dos filmes de horror. Foi planejado para superar a ansiedade da Universal sobre uma sequencia, ao recriar uma Mary Shelley disposta a continuar a história, e tendo a mesma atriz - Elsa Lanchester - vivendo tanto Mary quanto a noiva do monstro. Uma vez mais, a preocupação real de Whale é com a vida emocional de seus monstros. As sequencias nas quais Karloff  é "escolarizado" e domesticado são bastante divertidas e tocantes, como se Whale entendesse apenas pela metade o significado que estava transmitindo, de um nobre selvagem vivendo em uma sociedade deformada. 

Mas Whale então abandonou o horror por filmes mais teatrais. Raramente conseguiu recapturar a consistente inventidade desses quatro filmes. Magnólia: O Barco das Ilusões nada traz de sentimento e existe toda uma sugestão, na última vista de Ol' Man River, que o Mississippi consiste somente de lágrimas. Porém entre esses momentos mal cozidos, as cenas de "entretenimento" são bastante estimulantes e vívidas. Há um sentimento carinhoso de energia nas cenas no barco, particularmente quando Charles Winniger explica um melodrama interrompido; primeiros planos suntuosamente tremeluzentes de Helen Morgan enquanto canta "Bill"; momentos reministescentes de French Can Can nas sequencias de music hall, e um caminho fútil, mas lindo, quando Paul Robeson canta "Ol' Man River". Uma vez mais, O Barco das Ilusões surpreende por sua vivacidade e igual destreza tanto em externas quanto em frente de cenários pintados. Nunca será tão arrojado ou influente quanto seus filmes de Frankenstein, mas sugere uma versatilidade verdadeira, somada a uma mistura de sofisticação e desavergonhado sentimento. 

Sua obra posterior é bastante variada e não destituída de interesse: Tom Milne tem escrito sobre o frescor de A Caravana da Morte e Brian Aherne como Garrick; O Porto dos Sete Mares é uma reelaboração de Fanny, com Frank Morgan, John Beal, e Maureen O'Sullivan; Louis Hayward foi O Homem da Máscara de Ferro; Inferno Verde foi um melodrama de aventura que George Sanders e Vincent Price dificilmente poderiam interpretar sem rir. Em 1941 Whale se aposentou, e tornou-se um pintor, somente para realizar uma desastrosa tentativa de retorno, em 1949, com uma versão de 40 minutos de uma peça de Saroyan filmada em um cenário desenhado por Whale. Foi uma figura enigmática, nunca à vontade em Hollywood, que morreu por fim, como em um roteiro da Universal - "em sua piscina, em circunstâncias misteriosas." Essa história foi bem contada em Gods and Monsters [Deuses e Monstros] (98, Bill Condon), que é um retrato surpreendentemente amplo da vida ímpar e pungente de Whale.

Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2824-6.

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