Filme do Dia: Amor e Raiva (1969), Carlo Lizzani, Bernardo Bertolucci, Pier Paolo Pasolini, Jean-Luc Godard, Marco Bellocchio & Elda Tattoli

 

 


Amor e Raiva (Amore e Rabbia, Itália/França, 1969). Direção: Carlo Lizzani (L´indifferenza). Bernardo Bertolucci (Agonia), Pier Paolo Pasolini (La Sequenza del Fiori di Carta), Jean-Luc Godard (L´Amore), Marco Bellocchio & Elda Tattoli (Discutiamo, Discutiamo). Rot. Adaptado: Carlo Lizzani, Bernardo Bertolucci, Pier Paolo Pasolini, baseado nos contos de Puccio Pucci & Piero Badalassi. Rot. Original: Jean-Luc Godard,  Marco Bellocchio, a partir de seus próprios argumentos. Fotografia: Alain Levant (L´Amore), Sandro Mancori (L´Indifferenza), Aiace Parolin (Discutiamo, Discutiamo), Ugo Piccone (Agonia), Giuseppe Ruzzolini (La Sequenza del Fiori di Carta). Música: Giovanni Fusco. Montagem: Nino Baragli (La Sequenza del Fiori di Carta), Franco Franticelli (L´indifferenza), Agnés Guillemot (L´Amore), Roberto Perpignani (Agonia, Discutiamo, Discutiamo). Dir. de arte: Mimmo Scavia. Com: Tom Baker (L´indifferenza), Julian Beck, Judith Malina, Adrinano Aprá (Agonia), Ninetto Davoli (La Sequenza del Fiori di Carta), Christine Guého, Nino Castelnuevo, Catherine Jourdan, Paolo Pozzesi (L´Amore), Marco Bellochio (Discutiamo, Discutiamo).

L´indifferenza. Uma moça é assaltada e violentada diante de um enorme condomínio de apartamentos em Nova York e ninguém esboça o menor sinal de reação. Um homem (Baker), consegue a muito custo e com auxílio de policiais fazer com que um carro pare para socorrer sua mulher gravemente ferida em acidente de automóvel. Agonia. Dois rituais distintos precedem e procedem a morte de um paciente terminal. La Sequenza del Fiori di Carta. Jovem (Davoli) passeia alegre da vida numa importante via romana, alheio a todo o peso da história, que acabará por lhe subtrair a vida. L´Amore. Casal (Jourdaun e Pozzesi) discute sobre o casal de um filme que está sendo realizado (Castelnuevo e Guého). Discutiamo, Discutiamo. Grupo de jovens rebeldes invade sala de aula em protesto político. Os alunos, no entanto, querem aula.

Num momento em que o cinema autoral começava a se desfazer da forma do filme em episódios que havia virado coqueluche na década, ainda que tenham surgido no panorama autoral na década anterior, esse filme apresenta virtudes e limites não apenas de tal compilação de curtas como do próprio cinema autoral. De longe o mais elegante de todos os curtas é o de Godard. Em sua fase de maior radicalização política, o realizador discute sexo, política e o próprio cinema. As belas imagens enquadradas de maneira virtuosa acabam de certa forma amenizando o que há de árido no modo como são dispostos os atores, seus diálogos, etc. Pasolini traz algumas das sobreimpressões mais lindas da história do cinema, que invadem a imagem a medida que seu recorrente Nineto Davoli faz o mesmo personagem apalermado e espontâneo de sempre. O efeito das imagens (históricas de eventos como bombardeios e cadáveres sendo enterrados em covas rasas) sobrepostas ganha prevalência sobre a própria dimensão alegórica buscada pelo filme. O episódio de Bertolucci é praticamente refém do Living Theater, grupo nova-iorquino de teatro que vivia seu auge. Todo o tratamento visual se encontra a serviço do grupo, que passeia entre o psicodrama e a catarse coletiva, tendo completo domínio de seus corpos. Por fim, restam os episódios mais anódinos que abrem e fecham o filme. No caso do primeiro, Lizzani tenta apresentar a indiferença moderna, mas sucumbe ao clichê, algo salientado pelos planos documentais que flagram pessoas dormindo ao léu nas calçadas de Nova York. Sua montagem extremamente dinâmica, apresentando um certo deleite visual com a cidade e com a ação típicos dos filmes de gênero aqui se mescla com o propósito de se trabalhar mais com um idéia do que propriamente com uma narrativa delineada. Ao final das contas, não se fica com nenhum nem outro e provavelmente se torna impossível não ficar indiferente ao seu curta maneirista e pretensioso em sua vacuidade. No caso do último, Bellocchio apenas apresenta um apanhado do movimento estudantil do período, justamente um ano após o Maio de 68. Sua dimensão farsesca, acentuada indevidamente quando o próprio professor não consegue dominar o riso em muitos momentos, tampouco suscita qualquer interesse. Castoro/Ital-Nollegio Cinematografico/Anouchka Films. 102 minutos.

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