Filme do Dia: Tempestade Sobre Washington (1962), Otto Preminger
Tempestade Sobre Washington (Advise and Consent, EUA, 1962). Direção:
Otto Preminger. Roteiro Adaptado: Allen
Drury, baseado no romance de Wendell Mayes. Fotografia: Sam Leavitt. Música:
Jerry Fielding. Montagem: Louis R. Loeffler. Dir. de arte: Lyle R. Wheeler.
Cenografia: Eli Benneche. Com: Franchot Tone, Lew Ayres, Henry Fonda, Walter
Pidgeon, Charles Laughton, Don Murray, Peter Lawford, Gene Tierney, Burguess
Meredith, Eddie Hodges, Paul Ford, Inga Swenson, Paul McGrath George Grizzard,
John Granger.
O presidente americano (Tone) pretende
nomear, a todo custo, como secretário de Estado, Robert Leffingwell (Fonda),
que possui uma posição moderada sobre o conflito com o bloco soviético. Para o
conservador e sagaz senador Seabright Cooley (Laughton), esse é o maior insulto
possível. Em conluio com outro ardoroso crítico de Leffingwell, o senador
Brigham Anderson (Murray), assim como com o lider da maioria no Congresso
(Pidgeon) eles irão desenterrar um passado obscuro do mesmo como simpatizante
comunista, através do testemunho de Herbert Gelman (Meredith), que por saber
desse episódio fora despedido por Leffingwell. Porém, Leffingwell defende-se,
deixando Anderson confuso e o último confessa que mentira quando testemunhara,
ao afirmar que estivera internado num asilo para tuberculosos, quando se
tratava de um hospital psiquiátrico. Fred Van Ackerman (Grizzard) é um dos mais
entusiasmados defensores de Leffingwell, além do próprio presidente.
Desacreditando seus adversários, mesmo assim Leffingwell pede ao presidente que
desista de sua indicação, já que mentira em seu testemunho, sendo verdadeira a
história narrada por Gelman. Enquanto o ardiloso Cooley pressiona Hardiman
Fletcher (McGrath), amigo pessoal de Leffingwell, que também compartilhou de
uma célula comunista, Brigham Anderson passa a ser vítima de chantagem: sua
mulher Ellen (Swenson) passa a receber mensagens pelo telefone sobre um
episódio no passado de Anderson que o compromete. Crescentemente pressionado
pela esposa, Anderson parte para Nova York, onde procura por Ray Shaff
(Granger), com quem vivera uma relação homossexual e não aceita o pedido de
desculpas do mesmo. Na viagem de volta, Anderson encontra Harley Hudson
(Ayres), vice-presidente e considerado virtuoso, embora sem a necessária
energia para assumir caso o presidente, vitimado por câncer, morra de um
momento para outro. Fotos de ambos e uma carta para Shaff chegam para Ellen, enquanto Anderson corta a própria
garganta e morre. Descobre-se que Van Ackerman
fora o autor da chantagem e no dia D, ocorre um empate entre os
votantes. Seguindo as regras da casa, cabe o vice-presidente decidir. Porém,
para surpresa de todos ele não decide, porque acabara de saber do falecimento
do presidente. Cooley passa a assumir a presidência do Senado, enquanto Hudson
pretende escolher seu próprio secretário de Estado.
Inserindo-se num momento em que a
cinematografia americana produziu inspirados dramas e comédias políticas, o
filme é mais sutil e menos sarcástico que a comédia de Wilder Cupido Não Tem Bandeira (1961) e menos
original e mais realista, tanto em seu estilo visual quanto nas idéias, que Sob o Domínio do Mal (1962) de Frankenheimer. Entre seus pontos
fortes encontra-se a interpretação de Laughton (a última de sua carreira,
morrendo ele no mesmo ano) e a descrição dos bastidores políticos em que, no
final das contas, todos possuem algo para esconder no armário: o líder do congresso
um caso secreto com uma dama da alta sociedade; Anderson, o passado homossexual
e Leffingwell seu envolvimento com o comunismo. Entre os negativos a banal
trilha sonora e a ruptura brusca na narrativa que abandona Leffingwell e passa a seguir os passos de Anderson. Mais
uma vez repete-se a marca registrada de Preminger por temas polêmicos como o
vício em drogas (O Homem do Braço deOuro) e o estupro (Anatomia de um Crime), característica que pode ser identificada tanto como uma saudável
liberação da hipocrisia e das amarras do Código Hays, como um menos nobre
interesse para um certo sensacionalismo de apelo popular. Sua tematização da
homossexualidade, mesmo que ousada para os padrões da época – chegando a
apresentar rapidamente um bar gay – não chega a ser tratada de forma tão
incisiva quanto um filme inglês da mesma época, Meu Passado Me Condena, que também lida com um tema de chantagem a
um político de renome. Ambos foram incluídos no documentário que faz uma
arqueologia sobre o tema no cinema de língua inglesa, O Celulóide Secreto. Embora aparentemente nutra uma certa simpatia
pela esquerda, na figura da grandeza moral representada por Leffingwell/Fonda,
as fraquezas e trapaças de ambos os lados, assim como o próprio centramento no
processo eleitoral e funcionamento da máquina política, mais que em suas
conseqüências, acabam apontando para o distanciamento de uma moralidade
ideologicamente engajada. Sigma/Columbia Pictures. 142 minutos.
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