Filme do Dia: 63 Up (2019), Michael Apted


Filmmaker Michael Apted: Leading Up to 63 UP | Cinema Citizen
63 Up (Reino Unido, 2019). Direção: Michael Apted. Fotografia: Ross Pimlott, Vince Martin, Steve Horrocks, Bernard Kelly, David Rose & Owen Scurfield. Montagem: Kim Horton.
Os últimos sete anos que separam as imagens aqui colhidas do último episódio (56 Up) dessa longeva série deixaram marcas indeléveis no rosto de Tony, que retornou da Espanha, continua como motorista de táxi, mas perdeu cerca de um terço de sua renda após a entrada dos aplicativos de transporte.  Apesar da queda na renda, eles moram próximo de um bosque em que Tony observa raposas enquanto corre e na sua propriedade há uma dupla de cavalos que são seu xodó. Debby continua a seu lado. E o rosto envelhecido também deve estar associado aos sérios problemas de saúde que acometeram Tony. Ele afirma que jamais votará nos Tory novamente, partido que votara ao longo de toda sua vida, mesmo sendo favorável ao Brexit e pensa que talvez vote no Partido Verde. Há entrada de vários momentos passados com os mesmos personagens. Com experiências de atuação em um passado já distante, Tony volta a participar de uma produção cinematográfica, 90 Minutes, e acompanhamos sua ida a estréia. Com relação a passagem do tempo, quase o mesmo pode ser dito de Andrew, agora de cabelos todo brancos e que atende ao documentário em sua casa de campo, com a esposa. Ele pratica jardinagem japonesa em sua relativamente grande propriedade. Sue continua unida ao mesmo homem nos últimos vinte anos, ainda sem planos de casar ela afirma rindo, mas quem sabe? Ele conquistou uma nova paixão que a deixa preocupada por ser essa paixão motos, mas, ao mesmo tempo, acha que ele a inclui nessa nova paixão. Sue gosta de cantar e atuar no palco como hobby, na universidade na qula trabalha como secretária. Não consegue imaginar como preencherá seu tempo quando se aposentar. Acredita fazer parte da última geração a ter um serviço nacional de saúde digno. Nickie, também com sinais de envelhecimento, confessa sérios problemas de saúde após ter tido um câncer na garganta e não pensa em fazer prognósticos de longa duração. Sua atuação no campo da física nuclear foi que lhe provocou a saúde debilitada. Quando indagado sobre Trump – vive nos Estados Unidos há décadas – ele disse que o que mais o perturba é não saber se ele de fato acredita no que fala ou se trata somente de uma performance e imediatamente afirma que Theresa May, então primeira-ministra britânica, havia estudado em Oxford no mesmo período que ele. Que as pessoas que estudaram nas escolas públicas “certas” continuam a dirigir o país, mas não necessariamente são as pessoas dotadas para tanto. Um dos poucos momentos verdadeiramente tocantes parte dele nesse episódio, quando afirma que ainda é a mesma criança indagando sobre as coisas que o primeiro episódio da série captou. Bruce vive crescentemente para a família, continua casado com a mesma mulher, Penny,  e possui dois rapazes de 19 e 17 anos respectivamente. Há imagens das férias da família em Nova York, que acreditam ser parte das últimas, pois provavelmente eles preferirão fazer suas próprias viagens a partir de então. Bruce teme por doenças degenerativas incapacitantes. Prefere, em seus próprios termos,  ser levado rapidamente. Bruce retorna a escola onde iniciou sua carreira profissional. Acredita que boa parte do que a Inglaterra se transformou já estava prenunciada nas turmas que ensinou. Jackie perdeu o ex-companheiro, que foi o verdadeiro pai de seus filhos, em um estúpido atropelamento. Ela continua a apontar uma postura crítica a postura que Apted representou as mulheres da série, aqui destacando as perguntas que eram endereçadas às mulheres serem completamente distintas as das feitas aos homens, no caso das mulheres referindo-se a homens e questões domésticas. Jackie recebeu ajuda governamental por bastante tempo por conta de sua artrite, mas o corte sobreveio após certo tempo, e ela teve sorte de possuir uma família que a sustentasse. Peter, que havia abandonado a partir do 28 Up, segundo ele porque havia sido um alvo fácil da ira dos defensores do Thatcherismo, decide voltar para promover sua banda com 56 Up, banda que se tornou um duo após a morte do terceiro componente, sendo a outra participante, sua parceira conjugal. Peter possui uma versão otimista em relação ao mundo contemporâneo que havia no passado, com a legalização da vida gay, do aborto e menos preconceitos contra irlandeses e negros. Ele acha que o país hoje é mais inclusivo. E o mundo é mais pacífico do que dantes. E, tal como Tony em relação a sua longa fidelidade aos Tory, Peter afirma não mais pertencer ao Partido Trabalhista. Sua companheira disse que filtrou os comentários menos insultuosos nas redes sociais sobre sua participação.   Apenas após um tempo dedicado a Lynn é que se descobre que ela faleceu. Suas filhas e Russ falam sobre como se deu a morte. A biblioteca infantil ao qual dedicou 35 anos de sua vida ganha uma placa ao qual a sala é dedicada a ela. Paul e Symon foram, de certa forma, agregados em um bloco único. Conhecidos desde criança em um reformatório, um deles pelo fato de ser filho de mãe solteira, agora visitam-se com certa frequência. A visita da vez, registrada nesse episódio, é a primeira de Symon, com sua respectiva esposa a Paul e sua companheira, na Austrália. Paul leva Symon a casa onde ficou a primeira vez que veio a Austrália, que pertencia a seu pai. Quando indagado por Apted pelo motivo dele não ter vivido com o pai, Paul prefere afirmar motivações ligadas a sua profissão vinculadas a realização de uma marca de roupas, afirmando ser ele uma pessoa tranquila, apesar de reservada, e escanteando qualquer sombra de rejeição do modo que formulou tudo, ao menos para o documentário. A dupla parece ter a sintonia mais fina de todos os contatos de amizade descritos ao longo da série – entre participantes da mesma, bem entendido; assim Symon não apenas afirma sobre a timidez de ambos e o realizador afirma sobre a falta de confiança que ambas as mulheres afirmam eles possuírem, e  Symon acredita que muitas vezes um fica esperando pelo que o outro responda, pois sabe mais ou menos qual resposta se seguirá. John afirma algo contrariado, mas tranquilo, que apesar de ser considerado como um esquilo Tory pelos jornais, retruca que nunca revelou antes que após a morte precoce de seu pai, houve uma queda de renda considerável da família, sua mãe teve que trabalhar. E também que começou a sair de sua “torre de marfim” quando serviu o Exército e percebeu que o mundo era bem mais amplo do que até então conhecia.  Por outro lado, ao comentar sobre a selvageria dos tempos contemporâneos no que se refere ao emprego e ausência de preocupação com  seus estofos prévios, sugerindo uma minimização dos preceitos de alguém da elite. E, indagado sobre a mudança importante acontecida nos últimos sete anos, refere-se jocosamente que está com menos cabelo agora. Suzy que mais de uma vez já alertara sobre a falta de propósito de participar desse programa mas que em sua última edição dissera que não sabia o motivo mas se encontrava de algum modo sempre fiel a ele, decidiu não participar dessa edição. Neil surpreendentemente fala de sua união por cerca de quatro anos com uma mulher que o conhecera numa pantomima, embora raramente no período em que foi produzido o documentário ainda se vejam. Após a moarte da mãe, com o dinheiro da herança, Neill comprou uma segunda residência, na França, onde viveu com sua então esposa. Certa divisão entre campo e cidade parece ainda pesar sobre Neill, que sempre tem palavras elogiosas ao campo, em que viveu a maior parte de sua vida e onde diz que as pessoas se preocupam mais com as outras, mas, ao mesmo tempo, afirma sentir saudades de Londres. E, não menos surpreendentemente, Nell foi ministro sacerdotal (imagens de 56 Up). Sua fé cristã, segundo ele, ajuda-lhe na imprevisibilidade de seu próprio futuro e não saber onde estará morando daqui a seis meses ou um ano. E revela que antes do casamento tivera uma relação com uma garota australiana que acredita ter sido a única mulher que verdadeiramente amou e foi amado.   Apted pergunta a todos sobre a premissa da série “dê-me uma criança e você verá o adulto de amanhã”. Parece um melancólico canto do cisne da própria série, como se Apted implicitamente concordasse que não teria mais idade para realizar um próximo. E  também indaga sobre o eventual valor dos filmes da série. No caso da primeira indagação, a melhor resposta parece ser a de Neill, que retorna ao realizador a questão, afirmando que ele e seu público talvez tivessem melhores instrumentos para responde-la. Os participantes também são indagados sobre a questão da classe social. Sue e Nick se emocionam lembrando o último do pai já morto, e a primeira da provável morte próxima de ambos os pais, ainda vivos, mas com idade já bastante avançada. Trata-se de algo que mesmo os que conseguiram dominar a emoção, como Peter e Paul ou não leva-la ao extremo, como Jackie, também relatam. Outro dos pontos altos desse episódio é o que retoma toda a trajetória de um discurso assistencial na figura de Bruce, desde a mais tenra infância, passando por suas experiências de ensino na Índia até o momento contemporâneo a esta produção, em que não atingiu os píncaros de sua profissão, mas também não os desejou, pois significaria o afastamento da sala de aula. Esse episódio da série foi subdividido em três, prática que se iniciou com 56 Up.  Albert + Sustainable Prod./ITV Studios/Shiver. 145 minutos.

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