Filme do Dia: My Brother's Wedding (1983), Charles Burnett
My
Brother’s Wedding (EUA/AL. Ocidental, 1983). Direção, Rot. Original e Fotografia:
Charles Burnett. Montagem: Thomas Penick. Cenografia: Penny Barrett. Figurinos:
Gaye Shannon-Burnett. Com: Everett Silas, Jessie Holmes, Gaye Shannon-Burnett,
Ronnie Bell, Denis Kemper, Sally Easter, Angela Burnett, Monte Easter.
Pierce Mundy (Silas) é tido como o irmão que “não deu
certo”, o contraponto de Wendell
(Kemper), que se tornou advogado e casará com Sonia Dubois (Shannon-Burnett), filha de uma família de
posses. O grande amigo de Pierce, “Soldier” (Bell) é solto da prisão. A mãe
dele (Easter) pede que Pierce o livre de voltar a se envolver em ações
criminais. Pierce tenta, sem sucesso, entre os conhecidos, um emprego para o
amigo. E também libera o espaço da loja de consertos de roupa da mãe (Holmes)
para que o amigo faça sexo com uma garota, sendo ambos flagrados pela mãe ao
retornar do culto. Em um jantar na casa dos Dubois, Pierce se torna
inconveniente com sua espontaneidade, afirmando que advogados e médicos são
ladrões. Soldier morre em um acidente de
carro e seu enterro é marcado justamente para as bodas do irmão, das quais
Pierce havia sido designado, um tanto contra sua vontade, enquanto padrinho.
Chama a atenção quase de imediato, além do longo hiato de
meia década que separa essa de sua primeira, e mais aclamada produção, Killer of Sheep, uma leitura que, mesmo
mantendo o tom de crônica do cotidiano de Watts, um subúrbio negro de Los Angeles, já se rende
a um roteiro mais convencional, ao maior centramento na figura de seu
protagonista e também a aproximação de leitmotifs
e mais arraigadamente da comédia; se do filme anterior, mais sóbrio e criativo
mesmo em suas tiradas de humor, podia se imaginar aproximações com Moonlight, aqui se parece adentrar um
terreno precursor de boa parte da obra de Spike Lee. Como no filme anterior, a
ambientação é de uma comunidade negra que não possui nenhum tipo de vínculo
social com brancos, tampouco observados, ainda quando extras. Filmado em cores
e com um orçamento aparentemente um pouco menos modesto que o anterior, e tendo
novamente talento na direção de atores, ou no nível de espontaneidade
conseguido destes, de perfil mais maciçamente amador ainda que o anterior, o
filme parece conscientemente tirar partido da caricatura que é a representação
da família negra elitizada, algo evidente já a partir do nome (Dubois) e nos
diálogos, em que os personagens dizem o que pensam e até mesmo nos gestos do
jantar, e no encantamento sintomático de Pierce pela empregada da família,
enquanto algo mais próximo de seu universo de contato. A tensão entre esses
dois mundos, e a pressão familiar sobre si, torna-se exponencial em sua tirada
interessante, e seguindo a linha desse esquematismo quase didático, de
contrapor dois eventos seminais do mundo de interesses de Pierce e do mundo de
interesses da família em um mesmo momento.
Embora a abundante comicidade arrefeça a dimensão de crítica social implícita,
alguns momentos reforçam essa, como o que Pierce afirma a Soldier apenas ter
sobrado os dois – quase como numa linha de continuidade imaginássemos, sem
grande dificuldade a primeira produção ocorrendo quando ambos eram crianças e
não praticamente contemporânea desta – de todos os amigos. E, mais uma vez,
mesmo que praticamente todos os personagens de destaque possuam seu revólver,
não se houve um tiro sendo disparado ou qualquer cena de violência que reforce
ainda mais os estereótipos que o cinema comercial e a mídia já exploravam a
rodo. Ao contrário de Killer of Sheep,
não se observa nem de longe o mesmo interesse por uma extensa e refinada
seleção de canções, essas se encontrando em bem menor número e, mais que isso,
possuem de longe relevância dramática que na produção anterior. Charles Burnett
Prod./ZDF. 115 minutos.
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