Filme do Dia: O Celulóide Secreto (1995), Rob Epstein & Jeffrey Friedman
O Celulóide Secreto (The Celluloid Closet, EUA, 1995).
Direção: Rob Epstein & Jeffrey Friedman. Rot. Adaptado: Rob Epstein,
Jeffrey Friedman & Sharon Wood, baseado no livro de Vito Russo. Fotografia:
Nancy Schreiber. Música: Carter Burwell. Montagem: Jeffrey Friedman &
Arnold Glassman. Dir. de arte: Scott Chambliss.
Documentário que aborda
como personagens homossexuais foram retratados no cinema norte-americano,
sobretudo no período áureo da censura e início da liberação. Conta com um prólogo em que apresenta rapidamente
como gays eram retratados no cinema mudo, em filmes como Dickson Experimental Sound Film (1894), Algie, o Mineiro(1912) e A
Florida Enchantment (1914). O quanto as referências mais abertas a
homossexualidade e a qualquer tema erótico mais acentuado se tornaram mais
difíceis após a implantação do que ficou conhecido como Código Hays, em
1933. Não se veriam mais cenas como a
orgia de Manslaughter (1922), de
DeMille, a ambigüidade erótica de Dietrich em Marrocos (1930), de Josef Von Sternberg e cenas eróticas como a
nudez presente em Tarzan e Sua Companheira (1934), de Ceddric Gibbons – a famosa cena de nudez de
Jane/Maureen O´Hara foi exlcuída do filme. Porém produtores e roteiristas se
tornaram mestres em incluir mensagens subliminares e olhares que poderiam ser
decifrados por espectadores capazes. Dentre casos célebres que o filme se detém, observa-se a relação de adoração que Mrs. Danvers nutria por sua ex-patroa,
chegando ao ponto de guardar como tesouro sua roupa íntima em Rebecca (1940), de Hitchcock, o personagem gay vivido por Peter Lorre em Relíquia Macabra (1941), de Huston, que
é anunciado com um cartão perfumado com gardênia, a cena em que Jane Russell
dança em uma academia repleta de homens musculosos que não lhe dão à mínima
atenção em Os Homens Preferem as Louras (1953), de Hawks, a
rebeldia e a falta de inserção social do
personagem de Platão em Juventude Transviada, que guardava uma foto de Alan Ladd em seu armário e os olhares
mais que denunciadore de Massala para Ben Hur, no filme homônimo de Wyler. Os problemas com a censura, que interditou
qualquer referência direta a homossexualidade nas adaptações de Tennessee
Williams como Gata em Teto de Zinco Quente (1958), de Richard Brooks e De
Repente, No Último Verão, de Mankiewicz, ambos roteirizados pr Gore Vidal.
A exclusão da cena da “banheira” entre Tony Curtis e Laurence Olivier em Spartacus (1960), de Kubrick. Curtis e
Gore Vidal, roteirista das duas adaptações de Williams comentam sobre a
censura. As primeiras referências diretas à homossexualidade no cinema inglês,
com Meu Passado Me Condena (1961) e
a ousadia de um astro internacional, Dirk Bogarde, viver um personagem gay. O
tema da chantagem a um homossexual não assumido é também abordado por Tempestade Sobre Washington (1962), de
Otto Preminger. O final sinistro vivido por quase todos os personagens
homossexuais retratados. A passagem de vítima a vilão, em filmes como O Fã – Obsessão Cega (1981). A homofobia
e o tratamento bárbaro em filmes como Detective
(1968), Na Solidão do Desejo (1968) e Corrida Contra o Destino (1971). A visão
“interna” de um grupo gay pela primeira vez em Os Rapazes da Banda (1970), de William Friedkin. A diversidade
reconhecida em filmes tão distantes quanto Poison
(1991), de Todd Solondz, Thelma &
Louise (1991), de Ridley Scott, EduardoII (1991), de Derek Jarman, The Hours
and Times (1991), de Christopher Münch, Garotos
de Programa (1991), de Gus Van Sant e Go
Fish (1994), entre outros. Praticamente apoiado em depoimentos (Quentin
Crisp, Richard Dyer, Shirley MacLaine, Susan Sarandon e Susie Bright entre os
mais expressivos) e imagens dos filmes, o documentário certamente parte do
ponto de vista “evolutivo” de um cinema que se aproxima, aos poucos, de um
ideal de representação “politicamente correto” e de “visibilidade”. Há um
evidente descaso com produções fora do eixo anglo-saxão, notadamente filmes
como Diferente dos Outros (1919), de
Richard Oswald e Mikael (1924),
mesmo curiosamente tendo sido fortemente co-financiado por produtoras
européias. Não deixa de enfatizar, ainda que superficialmente, a
ousadia do britânico Domingo Maldito (1971),
de John Schlesinger, que também chega a ser entrevistado. Brillstein-Grey
Ent./Channel Four/HBO/Sony Pictures Classic/Telling Pictures/ZDF/arte para Sony
Pictures Classics. 102 minutos.
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