Filme do Dia: Bamako (2006), Abderrahmane Sissako



Bamako (film) - Wikipedia
Bamako (Mali/EUA/França, 2006). Direção e Rot. Original: Abderrahmane Sissako. Fotografia: Jacques Besse. Montagem: Nadia Ben Rachid & Pauline Casalis. Dir. de arte: Mahamadou. Figurinos: Maji-da Abdi. Com: Aïssa Maïga, Tiécoura Traoré, Maimouna Hélène Diarra, Habib Dembélé, Djénéba Koner, Hamadoun Kassogué, Mamadou Kanouté, William Bourdon, Gabriel Magma Konate.
Melé (Maïga) é uma cantora da noite. Seu marido, Chaka (Traoré), encontra-se desempregado e suspeito de furto em uma indústria na qual trabalhou. No terreno da residência que o casal divide com outras famílias, inclusive um senhor em estado grave de enfermidade, desenrola-se um julgamento em que a sociedade civil se posiciona contrária ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, a quem acusam de principais responsáveis pela miséria atual vivenciada no país.
Sissako, um dos poucos realizadores de carreira continuada no cinema africano, tal como Sembene, busca uma forma apropriada a cada projeto seu. Do lirismo excêntrico do curta de início de carreira Outubro ao realismo de Timbuktu. Aqui audaciosamente aposta numa chave em que o drama mais convencional e peculiar vivenciado pelo jovem casal e sua filha é, ao mesmo tempo, uma ilustração do que se encontra em discussão no tribunal improvisado e igualmente obscurecido pelo mesmo, tornando-se improvável o envolvimento emocional mesmo quando Melé chora ao cantar próximo do final. Sem dúvida, o maior feito do filme é representar seu tribunal, em um ajuste de contas cuja motivação maior é a dignidade e o sofrimento de um povo, distante do espaço impessoal das cortes, em meio ao cotidiano das pessoas, que escutam-no muitas vezes sem esboçar qualquer reação ou que simplesmente o ignoram e continuam a vivenciar seu cotidiano – sendo o exemplo mais óbvio disso a própria Melé, a cotidianamente pedir para que amarrem o laço de seu vestido antes de sair. Se no terreno impessoal do épico, representado pelas falas do julgamento, o filme consegue alguns momentos tocantes, como quando um homem interrompe o próprio, com seu canto de desabafo em bambara, o filme falha ao não ser igualmente criativo seja quando aborda o drama familiar – as cenas cotidianas ao redor e os fragmentos de situações e personagens do qual pouco sabemos sendo mais provocadores – ou quando até mesmo enfatiza o eurocentrismo em um faroeste de tv (com o próprio diretor, o ativista e ator norte-americano, produtor-executivo dessa produção Danny Glover e o realizador Elia Suleiman como atores) que evoca sagazmente o consumo de um entretenimento que os faz rir de seu próprio martírio e opressão, mas que não consegue minimamente parecer crível; talvez nem mesmo dentro da lógica do escanteamento ou negociação criativa com o real que o julgamento provoca. Enquanto expressão épica dos conflitos de um povo, inclusive com perspectiva histórica bem mais abrangente, Ceddo é de longe mas interessante. E, no plano dramático mais convencional, com um momento em que uma personagem transforma um comício político populista em tribuna moral, Guelwaar idem. Archipel 33/Chinguitty Films/Mali Images/Arte France Cinéma para Les Films du Losange. 115 minutos.


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