Filme do Dia: O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016), João Botelho
O Cinema, Manoel de
Oliveira e Eu (Portugal, 2016). Direção e Rot. Original: João Botelho.
Fotografia: João Ribeiro. Música: Nicholas McNair. Montagem: João Braz. Com:
Mariana Dias, Miguel Nunes, Antônio Durães, Ângela Marques, Maria João Pinho,
Leonor Silveira, Marcelo Urgeghe.
A partir de uma foto do
começo dos anos 80 tirada do momento de seus primeiros contatos com Manoel de
Oliveira, Botelho faz uma apreciação do estilo do realizador através das várias
décadas de sua produção. Observa-se ele se deter, por exemplo, na resposta de
Oliveira ao plano/contraplano filmando um longo plano em que um ator dirige seu
discurso a uma mulher fora do plano, que ocasionalmente reage a sua fala e
depois se observa novamente todo o diálogo observando a mulher a quem ele se
dirigia. Ou ainda o garoto que se apossa de uma boneca para aparecer à janela
da menina por quem se encontra apaixonado e após furtar-lhe um beijo despenca
telhado abaixo. As duas sequencias sintetizam, no primeiro, o interesse pelo
estilo nada convencional do realizador e, no segundo, uma poética trespassada
também por uma ideologia fortemente católica e complexa com relação à
sexualidade, no caso aqui de caráter punitivo, mas também de forte carga
simbólica. O melhor do filme, no entanto, encontra-se em sua terça parte final,
em que Botelho encena o que seria um argumento de Oliveira ao qual dá um
tratamento mais detalhado e o faz efetivando uma linda evocação do cinema mudo.
Uma garota (Dias), tornada prostituta, esconde as mãos vítimas da tortura
paterna com luvas, em conselho oferecido pela dona do bordel (Silveira), com
quem mantém um caso amoroso. Um belo e rico cliente se interessa por ela, porém
ao contrário do casamento esperado, negado pela família, eles encontram a
ignominia e, após um ano, ela própria decide voltar ao bordel para não arruinar
a vida do rapaz. Destaques para a beleza melancólica das composições em que
surge a lua, evocativas do pintor romântico Caspar David Friedrich, assim como
para um estilo que em tudo e por tudo é o de Botelho, e não uma tentativa de
mimetizar Oliveira e o que seria equivalente às cartelas do cinema mudo se
sobrepõe as imagens. Ar de Filmes. 80 minutos.
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