Filme do Dia: Kuxa Kanema - Episódio 7, Fernando Silva & Luís Costa
Kuxa Kanema – Episódio 7 (Moçambique, ?). Direção: Fernando
Silva & Luís Costa. Fotografia: João Costa & Luís Simão. Montagem:
Enoque Mate & Ismael Vuvo.
É curioso como esse curta se diferencia da maior parte dos
episódios aos quais se teve acesso. Inicia-se não com o formato cinejornalesco
habitual, mas com uma matéria sobre uma multinacional de capital britânico que
explora cana-de-açúcar no país e possui 14 mil empregados. Dispensa as vinhetas
iniciais e a primeira imagem já é de um plano com zoom e áudio em andamento no
local-tema único do cinejornal. O tom do narrador over é de aberta crítica,
ouve-se um trabalhador ler uma carta da companhia – a presença de uma voz de
trabalhador e não de autoridade inexiste na maior parte dos exemplares que se
viu da série - em uma reunião coletiva
talvez sindical. Observa-se o abandono ao qual foi relegada à companhia, o pó e
as teias de areia que invadem o equipamento, como afirma o locutor, são observados
através de zooms. Todo o descaso, segundo o narrador, tem como fim obrigar a
nacionalização pelo “nosso governo” do empreendimento, já previamente sabotado.
Mesmo não sendo distante da pauta do governo, como a maior parte do material
dos outros, inclusive com registro do “discurso oficial” da autoridade do
regime para os trabalhadores, em um pátio apinhado, a coralidade de vozes que o
compõe (ainda que todas se encaminhem obviamente para uma construção de sentido
unívoca), assim como as técnicas de filmagem, trazem um frescor não percebido
naqueles. Há uma associação entre capitalismo e racismo, apresentando como a
caricatura disso era vivenciada pela política da companhia, em que quando do
momento posterior à independência, a piscina que havia na área, passou a ser
aberta para o uso dos africanos, os técnicos ingleses começaram a construir
piscinas em suas próprias casas. E, também, na forma bem mais precária, de
palhoça, que foram construídas as casas dos operários depois desse momento,
observado antes as casas de cimento e bem mais espaçosas que eram reservadas a
esses. O texto e uma das locuções pertencem a Luis Patraquim, que se tornaria
nome relevante na cena audiovisual do país.
INC. 11 minutos e 30 segundos.
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