Filme do Dia: Kuxa Kanema - Episódio 7, Fernando Silva & Luís Costa


Kuxa Kanema - O Nascimento do Cinema (2003) - IMDb
Kuxa Kanema – Episódio 7 (Moçambique, ?). Direção: Fernando Silva & Luís Costa. Fotografia: João Costa & Luís Simão. Montagem: Enoque Mate & Ismael Vuvo.
É curioso como esse curta se diferencia da maior parte dos episódios aos quais se teve acesso. Inicia-se não com o formato cinejornalesco habitual, mas com uma matéria sobre uma multinacional de capital britânico que explora cana-de-açúcar no país e possui 14 mil empregados. Dispensa as vinhetas iniciais e a primeira imagem já é de um plano com zoom e áudio em andamento no local-tema único do cinejornal. O tom do narrador over é de aberta crítica, ouve-se um trabalhador ler uma carta da companhia – a presença de uma voz de trabalhador e não de autoridade inexiste na maior parte dos exemplares que se viu da série  - em uma reunião coletiva talvez sindical. Observa-se o abandono ao qual foi relegada à companhia, o pó e as teias de areia que invadem o equipamento, como afirma o locutor, são observados através de zooms. Todo o descaso, segundo o narrador, tem como fim obrigar a nacionalização pelo “nosso governo” do empreendimento, já previamente sabotado. Mesmo não sendo distante da pauta do governo, como a maior parte do material dos outros, inclusive com registro do “discurso oficial” da autoridade do regime para os trabalhadores, em um pátio apinhado, a coralidade de vozes que o compõe (ainda que todas se encaminhem obviamente para uma construção de sentido unívoca), assim como as técnicas de filmagem, trazem um frescor não percebido naqueles. Há uma associação entre capitalismo e racismo, apresentando como a caricatura disso era vivenciada pela política da companhia, em que quando do momento posterior à independência, a piscina que havia na área, passou a ser aberta para o uso dos africanos, os técnicos ingleses começaram a construir piscinas em suas próprias casas. E, também, na forma bem mais precária, de palhoça, que foram construídas as casas dos operários depois desse momento, observado antes as casas de cimento e bem mais espaçosas que eram reservadas a esses. O texto e uma das locuções pertencem a Luis Patraquim, que se tornaria nome relevante na cena audiovisual do país.  INC. 11 minutos e 30 segundos.


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