Filme do Dia: Georgy, a Feiticeira (1966), Silvio Narizzano
Georgy, a Feitiçeira (Georgy Girl,Reino Unido, 1966). Direção:
Silvio Narizzano. Rot. Adaptado: Margaret Forster & Peter Nichols, baseado
em romance de Forster. Fotografia: Kenneth Higgins. Música: Alexander Faris.
Montagem: John Bloom. Dir. de arte: Tony Wollard. Figurinos: Mary Quant. Com:
Lynn Redgrave, Alan Bates, James Mason, Charlotte Rampling, Bill Owen, Clare
Kelly, Rachel Kempson, Denise Coffey.
Georgy
(Redgrave), acima do peso e nao exatamente um modelo de beleza, divide o
apartamento com a bela e moderna Meredith (Rampling), assediada por vários
homens e que tem como amante o canalha simpático Jos (Bates), incorrigível
mulherengo. Georgy é assediada para se tornar amante do magnata James (Mason).
Meredith engravida e tem uma filha com Jos, porém o bêbe, Sara, é completamente
negligenciado pelos pais e Georgy, que inicialmente cuida dele com o pai, de
quem é amante, finalmente encontra melhores condições ao decidir se unir com James.
Talvez
o que mais chame a atenção nesse filme que foi grande sucesso bilheteria à
época de seu lançamento seja a mescla entre seu tom de comédia leve e
adolescente, representado sobretudo pela faixa-título e a forma relativamente desinibida com que lida,
não sem uma certa dose de cinismo, com temas como a sexualidade ou a ausência
de “instinto maternal”, ficando a meio caminho entre o drama realista social kitchen
sink do início da década e a comédia de costumes mais convencional. O
destaque para a ousadia deve ressaltar o modo interessante com que retrata o
desejo feminino. Mesmo que os trajes
vestidos por Rampling, em seu terceiro filme, tenham sido desenhados por Mary
Quant, algo praticamente inédito na carreira da estilista, não se pode dizer que
o filme possua uma atmosfera swinging
London, pelo menos não tão abertamente quanto filmes contemporâneos tais
como Blow-Up (1966), de Antonioni ou Darling (1965), de John Schelsinger.
Mesmo que inicialmente se possa pensar numa contraposição esquemática entre as
duas garotas, tal se encontra longe de se efetivar, já que Georgy, vivida
admiravelmente por Redgrave num dos papéis que a marcariam pelo restante de sua
carreira recém-iniciada, encontra-se longe de ser a vítima que vive à sombra de
sua amiga mais calculista, sensual e libertina. O elenco como um todo se sai
bem, ainda que o histrionismo do Jos de Bates talvez pareça por demais over quando não possui como moldura algo
tão extravagante como foi o caso de Oliver Reed em Tommy (1975). Certamente muito de sua dinâmica montagem se deve ao
sucesso de As Aventuras de Tom Jones
e talvez deva mais a este do que propriamente aos filmes que Lester dirigiria
com os Beatles. Mason, bem envelhecido pela maquiagem, faz com habitual galhardia
o seu tipo sisudo e sofisticado, parecendo sempre sussurar os seus diálogos. Ele representa o oposto de
tudo àquilo que o inconseqüente trio juvenil parece aspirar para si. O fato da
protagonista se render (assim como sua emancipação) ao final a ele é não apenas
mais uma ambigüidade do filme como, de certo modo, parece antecipar o que em
poucos anos se veria igualmente com toda a juventude ”rebelde” e inconformista,
quando teve de se defrontar com as urgências práticas da vida. Columbia
Pictures Corp./Everglades para Columbia Pictures Corp. 99 minutos.
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