Filme do Dia: Carandiru (2003), Hector Babenco
Carandiru (Brasil, 2003). Direção: Hector Babenco. Rot. Adaptado:Victor Navas, Fernando Bonassi & Hector Babenco. Fotografia: Walter Carvalho. Música: André Abujamra. Montagem: Mauro Alice. Dir. de arte: Clóvis Bueno. Cenografia: Vera Hamburguer. Figurinos: Cris Camargo. Com: Luís Carlos Vasconcelos, Milton Gonçalves, Maria Luisa Mendonça, Aílton Graça, Aída Leiner, Rodrigo Santoro, Gero Camilo, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Caio Blat, Floriano Peixoto.
Médico (Vasconcelos) passa a trabalhar no presídio de Carandiru e começa a escutar as narrativas mais diferentes que levaram os criminosos ao cárcere. Após um período de adaptação, tanto do médico com relação ao presídio como dos prisioneiros com relação ao médico, o médico consegue implantar algumas medidas mínimas de higiene, tendo como foco principal deter a disseminação do HIV em seu elevado índice junto a população do presídio. Após uma partida de futebol, o enfrentamento entre grupos rivais põe em risco cotidiano da prisão e se transforma numa rebelião, tendo como reação o massacre que resulta em 116 mortes.
Embora em boa parte da primeira metade do filme prevaleça o mesmo clima anedótico e superficial que busca empatia com a plateia, a partir de expressões e situações pitorescas de marginalizados sociais, na mesma linha de Domésticas, o filme de Babenco consegue ir além, criando uma dimensão humana mais complexa e menos restrita que a presente nos filmes de Meirelles. Particularmente serve bem aos propósitos do filme, centrar seu foco em personagens que, mesmo tendo cometidos crimes graves como homicídios, nada possuem de verdadeiramente glamuroso, defrontando-se com os mais banais dilemas e sentimentos afastando-se, nesse sentido, de uma caracterização mais próxima dos filmes de gênero como a presente em Cidade de Deus. Ao construir psicologicamente seus personagens, de modo semelhante, ainda que mais rarefeito ao de Madame Satã, o cineasta consegue provocar a empatia com os personagens que só tende a crescer com o final, que descreve a desigualdade entre as forças da polícia e os rebelados, já mesmos sem suas toscas armas, como que refletindo a própria situação social extramuros que caracteriza o país. Porém tal construção dramatúrgica, que inverte os polos da perspectiva em que bandidos e policiais são geralmente retratados no cinema, tão pouco consegue aprofundar algum teor de crítica social que o filme tenda a apresentar, sendo selada a sua conclusão pacificadora com a implosão do próprio presídio, catártica o suficiente para amenizar o impacto de tudo que se viu pouco antes e que, contraditoriamente, acaba seguindo a mesma linha do irônico comentário sobre a lavagem do sangue da carnificina, como forma de apagar os vestígios do mesmo da consciência dos que o sofreram. Seus momentos de humanismo poético, presente sobretudo na sequência em que os prisioneiros cantam respeitosos o hino nacional numa, mais uma vez irônica demonstração de civilidade por parte de quem menos dela se beneficia, evocam igualmente a mescla entre brutalidade e humanismo no mundo marginal já presentes no mais interessante Pixote. HB Filmes/Sony Pictures Classics/Columbia Tristar/Globo Filmes/BR Petrobrás. 145 minutos.
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