Filme do Dia: Os Homens Preferem as Louras (1953), Howard Hawks
Os Homens Preferem
as Louras (The Gentlemen Prefer the
Blondes,EUA, 1953). Direção: Howard Hawks. Rot. Adaptado: Charles Lederer,
a partir da comédia musical de Anita Loos & Joseph Field. Fotografia: Harry
J. Wild. Música: Leigh Harline, Lionel Newman, Hal Schaefer & Herbert W.
Spencer. Montagem: Hugh S. Fowler. Dir. de arte: Lyle R. Wheeler & Joseph C.
Wright. Cenografia: Claude E. Carpenter. Figurinos: Travilla. Com: Marilyn
Monroe, Jane Russell, Charles Coburn, Elliot Reid, Tommy Noonan, George
Winslow, Marcel Dalio, Taylor Holmes.
A dupla
Lorelei (Monroe) e Dorothy (Russell) se apresenta em cabarés e sonha em encontrar
o verdadeiro amor (Dorothy) ou um homem rico (Lorelei). Lorelei se encontra no
caminho certo, pois o filho do magnata Esmond (Holmes), Gus (Noonan),
encontra-se completamente apaixonado por seus “dotes” naturais. Lorelei decide
viajar para Paris, acompanhada da amiga. No navio encontra-se também o detetive
particular Ernie Malone (Reid), que apaixona-se por Dorothy, mas cujo principal
objetivo é desmascarar Lorelei e seu suspeito vício em jóias. No navio Lorelei
se torna íntima do velho milionário Frances “Piggy” Beekman (Coburn), sendo
ambos flagrados na cabine pelas fotografias tiradas secretamente por Ernie.
Dorothy, no entanto, percebe tudo. Lorelei encontra as fotos na cabine do
detetive e, ela própria, as utiliza para chantagear o velho Piggy, fazendo com
que ele lhe dê a tiara de diamantes que havia sido apresentada por sua esposa.
A situação se complica quando, pressionado pela esposa, Piggy alerta à polícia
sobre Lorelei.
Essa
adaptação de um musical da célebre roteirista do cinema mudo Anita Loos,
curiosamente não é exatamente um apanhado de diálogos engenhosos, marca que era
associada a autora. De alguma forma se merece ser lembrado isso talvez se deva
menos ao célebre número musical no qual Marilyn canta Diamonds are the Girl’s Best Friends, pelo qual usualmente é, do
que pelas habituais representações “ao
avesso” que eram associadas a boa parte da produção de Hawks. Assim são os
homens que se tornam objetos e motivos de coreografias coletivas, o que mesmo
não sendo exatamente incomum na Hollywood da época, raramente com tal
ostensividade – como a presente no número da academia de ginástica comandado
por Russell. O tribunal do júri torna-se palco para uma apresentação de cabaré
por uma Russell travestida de Monroe e imitando igualmente os gestos que a
qualificariam como “loura burra” e sensual até mesmo muito tempo após ela
tentar se desvincular de tal persona, já próximo ao final de sua carreira.
Outra contrafação é o fato justamente da persona de Monroe, a ingênua, ter sido
criada para um personagem que espertamente alicia todos os homens tendo como
fim apenas seu dinheiro, enquanto uma bem mais calculista e fria Russell ser a
que busca um “verdadeiro amor”, sem dispensar os atributos físicos dos homens
pelos quais se aproxima. Tais contrafações possuem seus limites bem demarcados,
no entanto. Apesar de Lorelei (e o número musical da academia de ginástica
explicitar) afirmar sobre a queda da amiga por homens “de porte físico”
avantajado, o personagem pelo qual acaba se apaixonando é bastante distinto
daqueles entrevistos na Academia. E, em última instância, o protagonismo dado a
figura feminina – todos os personagens masculinos do filme não são mais que um
arremedo perto da dupla principal – tampouco se encontra dissociado do chavão
misógino do interesse feminino sobretudo pela carteira dos homens. De toda
forma, o modo como os homens reagem ao apelo sexual de Monroe se encontra
distante do aberto cinismo de um Billy Wilder (O Pecado Mora ao Lado, de dois anos após). O fato de Russell
caricaturar a extrema limitação de caras e bocas deixada a cargo de Monroe,
satirizando o mito já em seu próprio lançamento – esse foi o filme que levou a
atriz ao estrelato – não espera que outras beldades louras venham fazê-lo em
sua cola, como Anita Ekberg ou – e principalmente – Jayne Mansfield. Talvez o
único momento efetivamente divertido seja o que Marilyn simula se encontrar de
pé com a ajuda de um garoto quando, na verdade, encontra-se presa na escotilha
da cabine do detetive. Por mais anêmico que possa parecer enquanto musical, daí
o apelo da comédia vir em primeiro plano, deve-se destacar a bem mais modesta e
interessante abertura com A Little Girl
from Little Rock. Aparentemente a queda de Russell na piscina no número da
Academia não havia sido planejada. A semelhança do navio em que viajam com o
Titanic não é mera coincidência, já que o modelo utilizado é o mesmo do filme
de Jean Negulesco de mesmo nome e lançado no mesmo ano. Originalmente o papel
de Monroe havia sido para a diva do estúdio na década anterior, Betty Grable. A
relativa atemporalidade no qual a narrativa se desenvolve é ainda mais
fortificada pela presença da filmagem sobretudo em estúdio e trai a origem do
texto original, década de 1920, ainda que aparentemente o filme se passa na
época no qual foi produzido. 20th Century Fox Film Corp. 91 minutos.
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