Filme do Dia: Juventude Transviada (1955), Nicholas Ray
Juventude
Transviada (Rebel Without a Cause,
EUA,1955). Direção: Nicholas Ray. Rot.Original: Irving Shulman & Stewart Stern, baseado no argumento de Ray. Ernest Haller. Música: Leonard Rosenman. Montagem:
William H. Ziegler. Dir. de arte: Malcolm C. Bert. Cenografia: William Wallace.
Figurinos: Moss Mabry. Com: James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo, Jim Backus,
Ann Doran, Corey Allen, Rochelle Hudson, William Hopper, Dennis Hopper, Edward
Platt, Marietta Canty.
Jim Stark (Dean) é um adolescente problemático que
vive com uma família que ainda lhe deixa mais confuso e inconformado, já que
não suporta ver a fraqueza do pai (Backus) diante da mãe (Doran), que sempre
usa como subterfúgio os problemas do filho para constantemente se mudar de
cidade. Morando agora em Los Angeles, Jim se interessa pela vizinha Judy
(Wood), que vira na delegacia, quando se encontrava embriagado. Porém Judy, que
também estuda na mesma escola que ele, faz parte da gangue comandada por Buzz
(Allen), que após uma aula no planetário, provoca Jim e parte para um conflito,
armados de navalhas. Buzz leva a pior e convida Jim para uma prova de fogo em
um perigoso despenhadeiro. Um garoto mais jovem conhecido como Plato (Mineo), é
o único amigo de Jim. Tendo que provar que não é um covarde como o pai, pede sugestões a este para como sair da situação sem perder a honra e, cheio das
evasivas paternas, sai e vai se encontrar
com a pequena multidão que veio assistir a prova. A prova consiste em ir com o carro até o mais próximo
possível do despenhadeiro e se jogar apenas no último momento. Judy é quem dá a
partida. Jim consegue pular a tempo, mas Buzz não tem a mesma sorte, e morre no
desastre. Triste com o ocorrido dá uma carona a Judy e Plato. Esses dois também vivem problemas com a família. A primeira sofre com a rejeição do pai
(Hopper), enquanto o segundo vive assistido apenas pela empregada (Canty), já
que a mãe, divorciada, constantemente viaja. Quando conta sobre a prova e a tragédia resultante dessa aos pais, Jim afirma
que também sente necessidade de falar tudo à polícia, decisão que não é aceita
pelos pais. Quando vai até a delegacia, é ignorado pelos policiais e não
reencontra Ray (Platt), que o atendera da outra vez, de modo
bastante simpático. Porém cruza com a gangue, agora lidarada por Goon (Hopper). Eles decidem se vingar de
Jim, que se refugia com Judy e Plato em uma mansão abandonada. Lá vive sua
primeira noite de amor com Judy, enquanto Plato sente-se feliz como se houvesse
encontrado uma família. Logo a gangue os encontra. Plato atira em um dos
rapazes e fere um dos policias que chega após, refugiando-se no prédio do
observatório. Várias viaturas policiais chegam ao local. Jim entra com Judy
para tentar negociar a saída de Plato. Esse decide sair, mas é morto pela
polícia ao se assustar com os refletores. Jim, ainda chocado com a morte de
Plato, apresenta aos pais Judy e todos voltam para suas casas. O dia já
amanhece.
Nesse
drama, que é a melhor expressão nas telas da delinquência juvenil americana em
voga na década de 50, o cineasta se afasta o quanto pode de um moralismo
ligeiro e pouco crítico de filmes como Sementes da Violência (1955), de Brooks, deixando patente que a maior fonte de
turbulência dos jovens são suas próprias famílias – e famílias de classe média
típicas, por sinal, ao contrário das famílias proletárias de onde provém os
jovens problemáticos do filme de Brooks. Ainda que também idealista, o herói
aqui não apenas visualiza o conflito como algo externo a si mesmo e sobre o
qual ele tem um papel regulador, como em Brooks, já que ele próprio é a
expressão mais pura desse conflito em que se chocam valores sociais e pessoais,
e cuja expressão máxima será o filme seguinte de Ray, Delírio de Loucura. Mesmo que compartilhe com outras produções da
época de algumas fraquezas que se acentuam com o passar dos anos, como a de um
psicologismo rasteiro (mesmo que não tão rasteiro quanto o de Hitchcock, por
exemplo) como na “justificação” da falta de controle de Jim quando é chamado de
covarde, como uma forma de exorcizar a fraqueza paterna. A escolha do trio
principal é bem acertada, menos por qualquer extraordinário dote artístico que
pelo carisma com que os atores vivem seus personagens, particularmente Dean,
que principalmente deve a esse filme o seu status
de mito. Mineo também se destaca na personagem do sensível Plato, que se
projeta no amigo como seu ídolo e pai, numa ambivalência de contornos
homossexuais (incluído na galeria de O Celulóide Secreto, documentário que apresenta uma compilação de personagens
homossexuais na história do cinema). Ray trabalha com maestria os ângulos e
enquadramentos, com destaque para a seqüência em que Jim observa e é observado
pela gangue do alto do observatório, que curiosamente chama-se Griffith. Também
parece extrair a rapidez com que tudo acontece – na verdade a narrativa se
desenvolve quase que integralmente em um único dia, sendo os três protagonistas
apresentados logo de início no mesmo espaço, mesmo sem ainda sem se conhecerem
– do mesmo espírito de urgência que leva Jim a considerar dez anos como uma
eternidade. Em Cinemascope. National Film Registry em 1990. Warner Bros. 111
minutos.
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