Filme do Dia: Diferente dos Outros (1919), Richard Oswald


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Diferente dos Outros (Anders als die Andern, Alemanha, 1919). Direção: Richard Oswald. Rot. Original: Magnus Hirschfeld & Richard Oswald. Fotografia: Max Fassbender. Dir. de arte: Emil Linke. Com: Conrad Veidt, Fritz Schulz, Reinhold Schünzel, Leo Connard, Alexandra Willegh, Anita Berber, Wihelm Diegelmann, Clementine Plessner.
Paul Körner (Veidt) é um pianista famoso que se apaixona pelo jovem violinista Kurt Sivers (Schulz) e se torna vítima de chantagem do inescrupuloso Franz Bollek (Scünzel), que um dia levara para sua casa. Após uma invasão a sua casa por parte de Bollek, Körner e Kurt se engalfinham com o invasor, porém a ironia de Bollek sobre o fato de Körner sustentar a ambos, provoca a partida de Kurt. Körner processa Bollek por chantagem, porém a publicização em torno de seu caso o transforma em um pária social e põe um fim em sua carreira artística. Sozinho no mundo, ele se suicida.
Esse, que é tido como o primeiro filme da história do cinema a retratar um personagem abertamente homossexual, contou com a participação especial, para além do roteiro de Hirschfeld, um dos primeiros cientistas a se posicionar claramente positivo em relação à homossexualidade (tendo sido retratado em O Einstein do Sexo, de Rosa von Prauheim), ele próprio encarnando aqui o personagem do cientista e sexólogo Arzt. Sua defesa final, na tribuna científica, da diversidade sexual, sob o prisma científico, contando inclusive com a exposição de fotos, para além de um pioneiro teor semi-panfletário, casava-se perfeitamente à estratégia dos filmes de esclarecimento sexual sobre doenças venéreas, prostituição e sexualidade em geral que eram um gênero à parte na produção cinematográfica alemã da época. A referência ao parágrafo 175 feita pelo chantagista diz respeito a lei que punia a homossexualidade na Alemanha. Restam somente 50 minutos de sua versão original, sobreviventes da destruição de todas as suas cópias menos uma pelos nazistas nos anos 1930. Ao material desse filme foi acrescentado mais metragem para compor Gesetze der Liebe (1927), assinado pela dupla Hirschfeld-Oswald. Ainda que o final do protagonista vivido por Veidt, no mesmo ano em que interpretaria seu mais célebre papel, como Cesare em O Gabinete do Dr. Caligari, de Wiene, tenha sido bastante recorrente em sua negativadade ao longo da representação sobre a homossexualidade na história do cinema (tal como enfatizado pelo documentário O Celulóide Secreto), não há como negar o teor progressista do filme como um todo, sobretudo na referência quase “didática” de Hirschfeld de que Kurt não deveria seguir a mesma trilha de seu amado, mais antes provar a ele a possibilidade de realização afetiva, mesmo com todos os obstáculos. De todo modo, seria censurado um ano após seu lançamento. Destaques para a aberta vilanização da figura do delator, construída da forma mais repulsiva e mesquinha possível e para a suscetibilidade do personagem de Kurt, que abandona seu amado diante de uma simples menção ao fato de se aproveitar dele financeiramente. Não menos digno de nota é a presença de um longo flashback na narrativa, descrevendo todo o processo de repressão sobre a afetividade de Körner em sua juventude, recurso ainda recente na linguagem cinematográfica. Uma relação homo-erótica entre um “grande artista” e um discípulo mais jovem, também resultando na morte/sacrifício do artista seria igualmente o tema de Mikael (1924), de Dreyer, ainda que a relação seja mais velada. Fotos stills e legendas procuram preencher as várias lacunas do material perdido, nessa reconstituição efetuada pelo Museu do Cinema de Munique, em 2004. Richard-Oswald-Produktion. 50 minutos.

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