Filme do Dia: Pizza, Cerveja, Cigarro (1998), Adrián Caetano & Bruno Stagnaro


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Pizza, Cerveja, Cigarro (Pizza, Birra, Faso, Argentina, 1998). Direção e Rot. Original: Adrián Caetano & Bruno Stagnaro. Fotografia: Marcelo Lavintman. Música: Leo Sujatovich. Montagem: Andrés Tambornino. Dir. de arte: Sebastián Roses. Com: Héctor Anglada, Jorge Sesán, Pamela Jordán, Adrián Yospe, Daniel Di Biase, Walter Díaz, Martín Adjemían, Elena Cánepa, Alejandro Pous.
Grupo de jovens comete pequenos delitos como forma de sobrevivência em Buenos Aires. O grupo é composto pelo rude Cordobés (Anglada) e sua namorada grávida Sandra (Jordán), Pablo (Sesán), Frula (Díaz) e Megabom (Pous). Eles ocasionalmente contam com o apoio de um taxista (Adjemián), que finge nada saber quando leva os passageiros. Insatisfeitos com o tratamento dispensado pelo taxista, eles efetivam uma ação no qual assaltam o próprio taxista e contam com certo apoio da vítima, uma senhora cordobesa (Cánepa), que se dirigia ao aeroporto, quando o grupo adentrou o táxi. Eles a deixam próximo do aeroporto, porém ela liga imediatamente à polícia quando se vê sozinha. Uma ação mais ambiciosa é a do assalto a um restaurante chique, porém a maior parte do conseguido fica nas mãos do único dono de uma arma, Rubén. Sandra se afasta de Cordobés, pois o momento de ter a criança se aproxima, e ela vai morar com o pai. Cansados de tantos insucessos, o grupo se envolve em uma ação armada na qual Megabom é morto e Cordobés, que pretende voltar a viver com Sandra, é ferido mortalmente. Ainda consegue se aproximar da embarcação na qual partirá Sandra, mas morre antes mesmo que a polícia o prenda.
Essa produção, tida como iniciadora do Nuevo Cine Argentino, é, no entanto, bastante distante do estilo visualmente mais sofisticado e reflexivo que tornaria internacionalmente reconhecido o movimento, nos filmes de realizadores como Lucrecia Martel ou Pablo Trapero. Aqui se apela, mesmo com as “inovações” em termos da aproximação de um realismo chão, em relação às produções que possuíam maior destaque na cinematografia portenha então, para um quadro já bastante explorado pelo cinema ao longo de sua história, dos dramas realistas norte-americanos dos anos 30 a Os Esquecidos (1950), de Buñuel – com o qual, por sinal, compartilha a cena de um ataque a um inválido por parte do grupo em busca de dinheiro, mas que acaba, no geral, resvalando para um maior paternalismo sentimental na observação do grupo - de Desajuste Social (1961), de Pasolini ao Pixote (1980), de Babenco. Observa-se, com um olhar cumplice, uma trajetória de lumpem-proletariado que, invariavelmente, acabará como tragédia. Com toda a violência que ocasionalmente fazem uso, inicialmente centrada mais numa mise en scene, que propriamente efetiva, o grupo é igualmente observado como dotado de uma ingenuidade que esbarra seja com os que se aproveitam de seus próprios atos, seja o taxista ou o policial que lhes cobra propina, seja com a “falta de caráter” ou “dissimulação” que acompanha algumas de suas vítimas – como é o caso da velha senhora, que não se deixa abalar pelas ações nos quais se vê envolvida, dirigindo  o carro para a quadrilha e oferecendo remédio para um dos participantes do grupo, mas que logo posta em liberdade, não pensa duas vezes em denunciá-los. Visualmente bem menos “luxuoso” que filmes como O Pântano (2001), a estreia de Martel ou mesmo A Liberdade (2001), de Lisandro Alonso, algo que se adequa a sua proposta, essa colaboração de estreia dos realizadores, recém-saídos de um curso de cinema, tampouco está destituída de um ritmo algo oscilante, ao sabor de seu roteiro irregular, que crescentemente torna o grupo secundarizado em relação sobretudo ao casal Cordobês-Sandra – as promessas de recuperação de um marginal para sua amada repete clichês imemoriais, presentes igualmente numa produção como a brasileira Lucio Flávio – O Passageiro da Agonia. Um dos poucos filmes do movimento a retratar de forma mais direta os efeitos da crise econômica que grassava o país, torna-se em grande parte refém da falta de sutileza com que dispõe sua trama. Palo e la Bolsa Cine. 76 minutos.


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