Filme do Dia: Os Esquecidos (1950), Luis Buñuel

 


Os Esquecidos (Los Olvidados, México, 1950). Direção: Luis Buñuel. Rot. Original: Luis Buñuel & Luís Alcoriza. Fotografia: Gabriel Figueroa. Música: Rodolfo Halffter & Gustavo Pittaluga. Montagem: Carlos Savage. Dir. de arte: Edward Fitzgerald & William W. Claridge. Com: Alfonso Mejía, Estela Inda, Miguel Inclán, Roberto Cobo, Alma Delia Fuentes, Francisco Jambrina, Jesús Navarro, Efraín Arauz, Mário Ramirez.

Em meio a pobreza que assola boa parte da população da Cidade do México, um grupo de delinqüentes faz da violência e dos furtos o seu mecanismo peculiar de sobrevivência. O garoto Pedro (Mejía), embora bem intencionado, acaba sempre levando a pior, devido a sua ligação com o perigoso marginal El Jaibo (Cobo), recém-saído da prisão e temido líder da marginalidade local. Encontrando-se ao lado de El Jaibo e tendo convidado o delator de Jaibo para uma conversa com o mesmo que resultará em sua morte, progressivamente se enreda em uma teia de infortúnios crescentes. Após ser enviado ao sistema correcional, entregue por sua própria mãe (Inda), que acredita que ele roubou uma faca de seu emprego, Pedro passa a conquistar a confiança do chefe da casa de correção. Porém, no momento em que irá demonstrar que é digno de confiança, novamente encontra El Jaibo, que mantém um relacionamento com sua mãe, em seu caminho. Pedro delata o crime de Jaibo, que foge. Igualmente foragido, Pedro reencontra Jaibo no esconderijo e é morto brutalmente por este que, logo a seguir, é igualmente morto pela polícia.

Esse cruento e chocante – mesmo mais de meio século após sua realização – filme, que se inicia com um prólogo em que o cineasta faz questão de afirmar que se inspirou em fatos reais sobre imagens documentais de cidades do porte de Nova York, Paris e Cidade do México, talvez seja o que mais se aproxime, na filmografia do cineasta, do Neorrealismo italiano, por quem não nutria grande admiração. Tal e qual os filmes da escola italiana, igualmente aqui se descreve uma situação de párias sociais com um realismo poético e um certo senso de inevitabilidade trágica decorrente do corrupto meio social, além do já referido tom documental de sua abertura. Esgarniçadamente naturalista – a assertiva final do cego, um personagem que praticamente comenta a história, sobre o fato da morte do marginal El Jaibo ser comemorada como “a de um a menos” é prototípica. Mesmo  que procure, por vezes, efeitos talvez incongruentes com um realismo mais tradicional – seja quando invoca, em um de seus melhores momentos, os delírios de Pedro ou ainda, em uma genial seqüência, quando esse revida sua fúria contra a câmera/expectadores, atirando-lhe (s) um ovo podre, como que a lhe(s) suscitar uma reação. Pode ser considerado um clássico no tema, que já produziu em épocas diversas, filmes como Beco sem Saída (1937), de Wyler, Juventude Transviada (1956) e Pixote (1980), de Babenco, sendo que o último compartilha o mesmo tom sociológico em seu prólogo. Seu lírico desencantamento e forte teor moral, associado ao imaginário cristão da culpa e redenção, assim como do caráter  profundamente edipiano de seu protagonista evoca as primeiras produções de Pasolini, Acattone e Mamma Roma, igualmente influenciadas pelo Neorrealismo. Prêmio de Direção no Festival de Cannes. Ultramar Films. 85 minutos.

 

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