Filme do Dia: Jogo das Decapitações (2013), Sérgio Bianchi
Jogo das Decapitações
(Brasil, 2013). Direção: Sérgio Bianchi. Rot. Original: Sabina Anzuategui,
Eduardo Benaim, Sérgio Bianchi, Aimar Labaki & Francis Vogner. Fotografia:
Rodolfo Sánchez. Música: Manuel Lima. Montagem: André Finotti. Dir. de arte:
Ana Rita Bueno. Figurinos: André Simonetti. Com: Fernando Alves Pinto, Clarissa
Kiste, Sílvio Guindane, Sérgio Mamberti,
Paulo César Pereio, Maria Manoella, Germano Haiout, Antônio Petrin, João Velho,
Renato Borghi.
Leandro
(Pinto) é um estudante de mestrado de 30 anos, sem emprego fixo e sustentado
pela mãe, Verônica (Kiste), ex-prisioneira política que aguarda sua indenização
do Estado. Leandro é próximo do sarcástico Rafael (Guindane) e, numa salada
perturbadora, observa tanto as cruéis mortes por decapitação de detentos nos presídios,
um atropelamento filmado por sua irmã, Vera (Manoella) e a morte do pai, Jairo
(Pereio). O próprio Leandro, no entanto, vem a se envolver com um episódio que
o faz sair de si.
Bianchi
com essa produção, infelizmente, ao mesmo tempo que acena para diversos
tributos à história do cinema brasileiro (sobretudo Gláuber Rocha, ao qual
inúmeras referências são feitas, a mais explícita delas, a de um Leandro que,
tal como um personagem de Terra emTranse, nada consegue verbalizar diante da câmera, mas também com a
presença de Pereio como figura “padroeira” e Mamberti, de grande trânsito
igualmente junto ao Cinema Marginal, além de trechos de filmes amadores, em que
o próprio Mamberti surge bem jovem) parece involuntariamente parodiar a si
próprio. Os temas recorrentes de sua filmografia, retornam aqui sem o mesmo
senso de timing de suas melhores
produções, em situações fragmentadas, previsíveis e com efeito final muitas
vezes constrangedor, como é o caso dentre muitas outras, do patético e grotesco
final. Enquanto voz da má consciência, sobretudo ao ironicamente se dirigir a
esquerda bem pensante, o personagem vivido por Guindane parece ser o que mais
se aproxima de uma espécie de porta-voz do ideário do realizador, sendo a
chatice representada pelo mesmo, sempre armado diante de tudo e de todos, já é
mais que indicativo do cansaço que o filme provoca, assim como o retorno de um
pacote completo de observações sobre o Brasil: alfinetadas na hipocrisia das
ONGs, chegando-se, inclusive, a soluções visuais muito próximas das
apresentadas em filmes como Cronicamente Inviável, como é o caso da pose para a foto coletiva, assim como a
disparidade entre o discurso de esquerda bem intencionado atropelado
sistematicamente pela massa “bruta”, como é o caso do momento em que a
exposição da mãe é vandalizada por um grupo da periferia ou o olhar de mofa de
membros da comunidade diante da apresentação bem intencionada de um cantor que
ainda utiliza métodos similares aos dos tempos dos CPCs. E igualmente um
acidente de carro, aqui associado ao final referido. É triste observar que o
filme parece ser menos um amadurecimento diante das questões postas por seu
longa mais célebre, de treze anos antes, que uma derivação também fragmentada,
mas longe do frescor daquele. As interpretações, como via de regra nos filmes
de Bianchi, não são das melhores, a começar pelo próprio Alves Pinto, com cara
de perdido e a beira do surto do início ao final -e não faltam sequencias de
sonhos do mesmo a demarcarem sua sanidade e nos quais mais de uma vez surge
semivestido. Agravo Prod. Cinematográficas/Persona Non Grata Pictures
Brasil/Persona Non Grata. 96 minutos.
Comentários
Postar um comentário