The Film Handbook#130: Satyajit Ray
Satyajit Ray
Nascimento: 02/05/1921, Calcutá, Índia
Morte: 23/04/1992
Carreira (como diretor): 1951-1991
Quase sozinho, Satyajit Ray, levou que o cinema indiano chamasse a atenção do Ocidente. Ao adotar um estilo realista, quase literário, demasiado distante das exóticas fantasias musicais que tem sido a dieta básica das plateias indianas, ele estabeleceu a si próprio como a liderança no cinema de Bengali e enquanto artista de grande estatura internacional, sua habilidade para tocar as emoções humanas complexas tem sido rivalizada por poucos.
Nascido em uma proeminente família de artistas em Bengali, Ray trabalhou como ilustrador comercial depois de estudar economia e pintura. Ao mesmo tempo, no entanto, desenvolveu um forte interesse pelo cinema e, apos uma visita a Londres, durante a qual ia frequentemente ao cinema, começou a filmar A Canção da Estrada/Pather Panchali, o primeiro do que viria a se tornar a Trilogia de Apu>1. O filme, realizado ao longo de quatro anos, retrata a dura existência de uma família rural, sendo sua figura central um pequeno garoto. Basicamente realista em seu tom, com os eventos cotidianos encenados em locações autênticas por um elenco grandemente não profissional, trancendeu a mera observação através de um uso soberbo de motivos simbólicos (trens, água, olhos), composição, música e gestual. O resultado ofereceu uma narrativa grandemente comovente e poética da passagem de um rapaz de uma infância marcada pela pobreza e mortes familiares. As partes seguintes da trilogia (O Invencível/Aparajito, O Mundo de Apu/Apur Sensar) acompanham o heroi da adolescência ao casamento, paternidade e morte de sua esposa, foram não menos notáveis ou tocantes.
Ray evitou, no entanto, ser rotulado de cronista realista da vida camponesa com a fantasia/sátira The Philosopher's Stone/Parash Patar e A Sala de Música/Jalsaghar>2, retrato vívido e imaculadamente detalhado do envelhecimento de um aristocrata que, desafiando o declínio de sua família, reabre o salão outrora magnífico para uma última soirée de dança e canto; novamente as personagens e o ambiente suprem a riqueza de resonancia social, mas a maior façanha de Ray reside na relutância em julgar o seu protagonista, membro condenado de uma elite opressora. Da mesma forma, após analisar a obsessão religiosa fanática em A Deusa/Devi, e demonstrar seu talento para a comédia e o horror em Três Mulheres/Teen Kanya, Ray revelou sua simpatia equilibrada por não menos que dez personagens em seu primeiro filme em cores, Kanchenjungha>3 que, mapeando padrões de insatisfação conjugal que afetam uma família em férias no Himalaia, observa sem grande esforço as unidades clássicas, utilizando uma única locação e descrevendo 100 minutos em tempo real em igual tempo fílmico.
Os olhos do
infante Apu estão abertos para os hábitos do mundo adulto, na aclamada estréia
como diretor de Satyajit Ray, A Canção da Estrada |
Nos últimos anos, o realizador tem trabalhado de forma menos frutífera. Seu primeiro filme hindu, Os Jogadores do Fracasso/Shatranj Ke Khilari casava duas histórias sobre os perigos de se tornar fatalmente obcecado (seja com o xadrez ou com a arte) como forma de articular uma parabóla simplista sobre o colonialismo; enquanto Sadgati, produzido para a TV foi uma crítica a sociedade, antes de tudo, previsível e grosseira, mesmo profundamente sentida, de uma sociedade que permite que homens sejam designados como intocáveis. Felizmente, A Casa e o Mundo/Home and the World>7, adaptado de um romance que há muito tempo inspirara Ray, de Rabindranath Tagore, foi um retorno à forma, mesclando o político e o pessoal quando, em 1908, uma mulher é seduzida tanto pela paixão como pelos sentimentos revolucionários anti-britânicos de um amigo de seu marido: o tratamento dado aos personagens por Ray foi equilibrado, lúcido e caloroso como em sua obra anterior, e o ritmo do filme marcado e elegante.
Desde que sofreu um ataque cardíaco, Ray virtualmente se aposentou, retornando somente para dirigir uma versão em estúdio do Inimigo do Povo de Ibsen. Sua reputação, no entanto, permanece firme em seu humanismo imparcial e não sentimental, e na sua habilidade de extrair sutis nuances emocionais e ironias de uma simples ordenação de interpretação, diálogo, cenário e composição. Ele tem sido seu próprio roteirista, cenógrafo, compositor e cinegrafista de muitos de seus filmes; um consumado artista cuja fé no cinema como um meio a ser considerado entre outras artes permanece resoluta.
Cronologia
Ray pode ser comparado com Renoir (com quem se encontrou durante as filmagens de O Rio/The River), e mesmo Welles, Bergman e Visconti; ele próprio reivindicava Ladrões de Bicicleta de De Sica, assim como a obra de Tagore, enquanto inspirações maiores. Sua própria influência nos realizadores indianos mais jovens tais como Shyam Benegal e Mrinal Sen é inestimável.
Leituras Futuras
A Trilogia de Apu (Londres, 1972), de Robin Wood, Directors and Directions (Londres, 1975), de John Russell Taylor e Portrait of a Director (Bloomington, 1970), de Marie Seton
Destaques
1 A Trilogia de Apu (A Canção da Estrada; O Invencível; O Mundo de Apu, Índia, 1955/56/59 com Karuna Bannerjee, Kanu Bannerjee,Soumitra Chaterjee
2 A Sala de Música, Índia, 1958 c/Chabbi Biswas, Ganga Pada Basu, Kali Sarkar
3 Kanchenjunga, Índia, 1962 c/Chabbi Biswas, Alakananda Ray, Anuba Gupta
4 A Esposa Solitária, Índia, 1964 c/Madhabi Mukkerjee, Soumitra Chatterjee, Sailen Mukherjee
5 Dias e Noites na Floresta, Índia, 1969 c/Soumitra Chatterjee, Sharmila Tagore, Samit Bhanja
6 Trovão Distante, Índia, 1973 c/Soumitra Chatterjee, Babita, Sandhya Roy
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, pp. 232-4.
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