The Film Handbook#67: Sam Peckinpah



Sam Peckinpah
Nascimento: 21/02/1925, Fresno, Califórnia, EUA
Morte: 28/12/1984, Inglewood, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1961-83

Ainda que menos da metade de seus filmes seja propriamente westerns, David Samuel Peckinpah é amplamente reconhecido como o realizador mais importante a trabalhar com o gênero nos anos 60. Infelizmente, suas explorações profundamente elegíacas dos valores da fronteira foram frequentemente ofuscados por seu controvertido uso gráfico da violência. Mais perturbador, no entanto, é o modo como sua visão da independência viril sitiada por uma sociedade industrial em mudança deu origem a uma exaltada misoginia.

Tendo crescido em um rancho, Peckinpah trabalhou em uma profusão de funções no teatro e na televisão antes de se tornar assistente de Don Siegel. Ao final dos anos 50 ele se estabeleceu como roteirista e diretor de séries clássicas de TV como Gunsmoke, O Homem do Rifle/The Rifleman e The Westerner, e em 1961 realizou sua estreia na direção com O Homem Que Eu Devia Odiar/The Deadly Companions, peculiar, ainda que nada notável western picaresco, a respeito da jornada de uma viúva com o caixão de seu filho, escoltada através do território apache por três pistoleiros nada respeitáveis. Bem melhor foi Pistoleiros ao Entardecer/Guns in the Afternoon (Ride the High Country)>1, no qual dois cowboys maduros, velhos amigos mas agora nos lados opostos da lei, redescobrem seu auto-respeito enquanto disputam um carregamento de ouro e defendem uma jovem de uma gangue criminosa. A trama permite a Peckinpah compor uma variação comovente e engenhosamente mítica sobre as tradicionais ideias do gênero a respeito de coragem, lealdade e dever em uma paisagem marcada pelo advento do mundo moderno. Ainda mais ambicioso, embora barbaramente mutilado pelo estúdio, Juramento de Vingança/Major Dundee>2 foi uma narrativa épica de um ataque surpresa punitivo por parte de relutantes criminosos confederados contra apaches, liderados por um oficial da União  movido pelo ódio racial e temor do fracasso. De fato, a força dos westerns de Peckinpah se encontra no reconhecimento das inseguranças psicóticas que geram violência (para com as quais possui uma atitude extremamente ambivalente, observando-as igualmente  como expressão da busca do homem por liberdade) e sua recusa de observar questões éticas em termos convencionalmente simplistas e polares.

Após o fracasso de Juramento de Vingança, a carreira de Peckinpah entrou em parafuso; somente cinco anos após ele completaria outro filme. Meu Ódio Será Tua Herança/The Wild Bunch>3, no entanto, foi uma soberba consumação de sua obra até então. Aqui, ele fez uso de condenados explorados por uma gangue de foras-da-lei, perseguidos por caçadores de recompensas e traídos por um implacável ditador mexicano para pintar um rico e brutal retrato de um grupo masculino conscientemente se encontrando com a morte em um último ato de desafio contra um mundo onde o dinheiro compra a honra e a metralhadora está substituindo o rifle. Criticado por seu clímax final, sangrento e em câmera lenta foi, no entanto, apenas o outro lado da moeda de A Morte Não Manda Recado/The Ballad of Cable Hogue, um terno e lírico western cômico no qual o herói finalmente  abandona o desejo de vingança, somente para morrer entre as rodas do carro no qual sua amante, que partira a bastante tempo, retorna. Sob o Domínio do Medo/Straw Dogs, no entanto, foi um retorno à violência, sua trama (um intelectual liberal  responde com ódio mortal ao estupro de sua esposa e a invasão de sua casa por simplórios cornualhenses) executada com uma meticulosa lógica narrativa que fracassa em conciliar tanto sua misoginia básica quanto seu júbilo em celebrar o triunfo do ódio primitivo sobre a racionalidade.

  Dez Segundos de Perigo/Junior Bonner foi suave novamente, ainda que seu pacífico retrato de um desenraízado peão de rodeio de meia-idade soe como uma atualização rasa de Paixão de Bravo/The Lusty Men, de Ray. Os Implacáveis, escrito por Walter Hill, foi um habilidoso filme de ação contemporâneo prejudicado por uma subtrama vulgar e semi-cômica, enquanto Pat Garrett e Billy the Kid/Pat Garrett & Billy the Kid (novamente remontado pelos produtores e o último western de Peckinpah) foi uma irregular e mal escrita elegia para uma amizade que foi um dia heroica e agora destinada a findar em morte e auto-desprezo. Bem mais original foi o gótico Tragan-me a Cabeça de Alfredo Garcia/Bring Me the Head of Alfredo Garcia>4, no qual um pianista errante americano no México (a paisagem favorita de Peckinpah, simbolizando a liberdade e a aceitação da morte) pago para caçar o sedutor de uma rica filha de um fazendeiro, lentamente e de forma dolorosa, redescobre tanto a auto-estima quanto um propósito na vida. Ainda que resolutamente machista, o filme se beneficia de sua caracterização durona, discreto simbolismo e o compromisso evidente do diretor com a redenção espiritual de seu herói.

Na última década de sua vida, no entanto, Peckinpah aparentemente perdeu interesse por seus temas (possivelmente devido ao declínio do western hollywoodiano). Elite de Assassinos/The Killer Elite foi um elegante e complexo, mas nada notável filme de ação da CIA, focando-se inicialmente nos temas da confiança, traição e vingança cedendo a poucos exigentes golpes de ação, soberbamente filmados; A Cruz de Ferro/Cross of Iron foi uma tentativa virtuosa mas confusa de analisar a coragem, crueldade e sofrimento da guerra. Comboio/Convoy, uma aventura grosseiramente cômica de radioamadores, com caminhoneiros contrários aos padrões sociais substituindo os cowboys existencialistas enquanto heróis; O Casal Osterman, sua última - e mais uma vez problemática - produção, um rotineiro filme de ação de espionagem, memorável somente por seu uso inventivo  do equipamento de vigilância para embelezar o, doutro modo, nada distinto estilo visual do filme.

Um realizador intransigente cujas batalhas com os estúdios frequentemente levaram que seus filmes surgissem em formas distintas das que planejara, Peckinpah conseguiu seu melhor quando analisou o sofrimento psicológico e espiritual de homens violentos em desacordo com o mundo "civilizado". Ao mesmo tempo rigoroso em sua avaliação da América e sentimental em sua nostalgia por tempos mais simples, foi um romântico paradoxalmente comprometido com um ideal de auto-expressão através da morte violenta.

Cronologia
O próprio Peckinpah admirava grandemente Ford, apesar de seus heróis solitários, brutais e problemáticos serem talvez mais próximos dos de Walsh, Siegel, Mann, Aldrich e Penn. Talvez seja frutífero compara-lo com Leone e Eastwood, enquanto pode ser observada sua influência em Hill

Leituras Futuras
1. Pistoleiros ao Entardecer, EUA, 1962 c/Joel McCrea, Randolph Scott, Mariette Hartley

2. Juramento de Vingança, EUA, 1965, c/Charlton Heston, Richard Harris, Jim Hutton

3. Meu Ódio Será Tua Herança, EUA, 1969, c/William Holden, Robert Ryan, Ernest Borgnine

4. Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia, EUA, 1974 c/Warren Oates, Gig Young, Isela Vega, Robert Webber

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 215-7.



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