Filme do Dia: Relatório de um Homem Casado (1974), Flávio Tambellini
Relatório de um Homem Casado
(Brasil, 1974). Direção: Flávio Tambellini. Rot. Adaptado: Flávio Tambellini
& Rubem Fonseca, a partir do conto O
Relatório de Carlos, de Fonseca. Fotografia: Fernando Amaral & Carlos
Egberto. Música: Luiz Eça. Montagem: Leon Cassidy. Com: Nery Vitor, Françoise
Forton, José Lewgoy, Cláudia Fontenele, Fábio Sabag, Paulo César Pereio, Otávio
Augusto, Haydée Miranda, Fernando Amaral, Lícia Magna.
Carlos
(Vitor), advogado bem sucedido, é um homem casado que leva um vida
relativamente normal com a esposa, até que é procurado por uma jovem, Norma
(Forton), que ao ganhar sua causa, convida-o para almoçar e passam a viver um
tórrido relacionamento. Ela o abandona a partir do momento que ele não se
separa da esposa, e vai viver com um rico homem na Bahia. Ele entra em crise,
buscando outras amantes e até prostituas, sem conseguir se satisfazer. Busca os
conselhos de seu amigo e colega de escritório (Augusto), que afirma que ela
voltará para ele em seis meses. Ela retorna. Carlos entra com o processo de
desquite com a esposa. Norma, que inicialmente decidira viver com ele, afirma
que só se mudará quando todo o processo de separação houver acabado. Eles passam a viver juntos, mas como o amigo
avisara, não são felizes. No processo de separação, Carlos deixou quase tudo
com a esposa e sua situação financeira agora se encontra longe da anterior,
ainda agravada pela constante compra de artigos de luxo por Norma. Carlos
afunda-se na bebida e o tiro de misericórdia ocorre quando flagra Norma e seu
amigo conselheiro.
Tambellini,
cineasta de apenas 5 filmes, todos eles invariavelmente relacionados ao
universo das relações amorosas de uma elite decadente e vazia, exploradas com
uma mescla de pretensa profundidade pseudo-existencial (na linha do Khouri de Noite Vazia), embora longe do ocasional
talento visual daquele, e o puro e
simples sensacionalismo sexual. Essa produção, sua penúltima (Tambellini morre
dois anos após) não é exceção à regra. Se a maior parte dos filmes europeus de
viés ou verniz existencial acabam se enredando nos próprios tropeços e miséria
espiritual de seus personagens, tornando-se via de regra cansativos exercícios
de autocomplacência o que não dizer de um que, somado a tudo isso, conta com
péssima direção de atores, diálogos sofríveis
e situações grandemente previsíveis? Nem mesmo uma potencial
possibilidade de ganho narrativo, a da narrativa interna que Carlos realiza
para um gravador – muito similar, mas efetivamente utilizada como efeito
dramático consistente por Jabor em Toda Nudez Será Castigada – chega a ser explorada de forma minimamente
consistente. Resta a inocuidade de situações e personagens que, longe de
interessantes, atravessam os ambientes como zumbis a ditarem seus esquemáticos
diálogos. Mesmo que longe de um cineasta de talento, Tambellini já havia
realizado filmes um pouco menos canhestros que esse (Até que o Casamento nos Separe, O Beijo, ambos da década anterior). seu título parece tirar partido dos então recentes filmes políticos italianos de cineastas como Francesco Rosi ou Elio Petri. Flávio Tambellini Prod.
Cinematográficas para UCB. 85 minutos.
Comentários
Postar um comentário