Filme do Dia: India Song (1975), Marguerite Duras
India Song (França, 1975). Direção e Rot. Original: Marguerite Duras. Fotografia: Bruno Nuytten. Música: Carlos D´Alessio. Montagem: Solange Leprince. Com: Delphine Seyrig, Michael Londsale, Matthieu Carriére, Claude Mann, Vernon Dohtcheff, Didier Flemand, Claude Juan.
Os amores da esposa do embaixador francês na Índia, Anne-Marie Stretten (Seyrig) são um mero pretexto para a expressão de uma estética bastante afinada com o noveau roman, cuja transposição mais célebre para o cinema é O Ano Passado em Marienbad, com o qual compartilha dos mesmos vícios e virtudes. Ao mesmo tempo em que elabora uma relação de rara complexidade, por exemplo, entre som e imagem, com narradores que comentam a ação de personagens ou mesmo eventos que se situam in off, há um interminável desfile dos atores enquanto verdadeiros semi-autômatos, que fazem questão de enfatizar a desdramatização buscada, ainda que sob o peso de contaminar o próprio filme com sua anemia. Nesse sentido, até mesmo os raros diálogos entre os personagens são efetuados em voz over, sem que seja necessário que nenhum dos atores sequer abra a boca. E, suprema ironia, o único momento de completa desmesura – quando o vice-consul de Sahon (Londsale) é expulso da residência de Stretten, sob juras violentamente apaixonadas, suas ações passam a ser imaginadas pelo que duas narradoras comentam do episódio, já que apenas se ouve seus gritos. Numa estrutura dramática tão minimalisticamente elaborada, sem deixar nenhuma sombra de dúvida que seu interesse maior se encontra antes no próprio modo narrativo que no que é narrado, não falta à presença da hipnótica e bela trilha musical que, como o próprio filme, parece ser uma variação sobre o mesmo tema, motivo explorado de maneira ainda mais obsessiva no filme de Resnais. Embora João César Monteiro tenha demonstrado um semelhante desprezo pelo cinema em detrimento da expressão oral, com Branca de Neve, aonde praticamente escutamos somente a voz dos atores ao longo de quase todo o filme, o resultado final ainda soa, em termos narrativos, mais convencional que o de Duras. Les Films Armorial/Sunchild Productions. 120 minutos.
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