Filme do Dia: Sra. Dalloway (1997), Marleen Gorris

Sra. Dalloway Poster

Sra. Dalloway (Mrs.Dalloway, Reino Unido,1997) Direção: Marleen Gorris. Rot. Adaptado: Eileen Atkins, baseado no romance de Virginia Woolf. Fotografia: Sue Gibson. Música: Ilona Sekacz. Montagem: Michiel Reichwein . Com:Vanessa Redgrave, Natascha McElhone, Rupert Graves, Michael Kitchen, John Standing, Alan Cox, Lena Headey, Margaret Tyzack, Sarah Badel, Katie Carr, Oliver Ford Davies, Robert Portal.
      Inglaterra, pós I-Guerra Mundial. Clarissa Daloway, casada com um político da Câmara dos Comuns, Richard (Standing), prepara uma festa para à noite. À medida que o dia passa, no entanto, Clarissa volta a se lembrar dos verdes anos de sua juventude (McElhone), quando sua afetividade se encontrava dividida entre o sufocante Peter Walsh (Cox), que queria lhe retirar do maçante mundo aristocrático em que vivia e fazer viagens pelo mundo e a amiga Sally Seton(Headey). Ambos passam a compartilhar antipatia para com Richard Dalloway (Portal), a quem achavam extremamente maçante e pouco compatível com a sensibilidade de Clarissa. Quando vai comprar o vestido para a festa, Clarissa depara-se com o terror de um jovem, que permanece catatônico após uma descarga de carro lembrar-lhe os traumas da guerra, onde perdera o amigo Evans. O jovem Septimus (Graves), é auxiliado por sua mulher, que o leva a um parque. Enquanto isso, Clarissa se decepciona com o marido, que resolve ir jantar ao lado de Lady Bruton (Tyzack) e com a filha (Carr), que prefere sair com uma amiga ligada a organizações de caridade. Enquanto relembrava momentos de sua adolescência, Walsh (Kitchen) repentinamente reaparece, vindo da Índia. No jantar na casa de Lady Bruton, esta faz referência as aventuras errantes de Walsh na Índia e sobre seu retorno e provável aparição a noite na festa. Tanto Richard, com a consciência pesada, como Lady Bruton decidem ir à festa. Walsh vai ao parque e lá acaba cruzando com Septimus, que o confunde com Evans assustando - o . Sua esposa leva-o a mais um psiquiatra, Dr. Hugh Witbread (Davies), que prescreve a internação para repouso. Elizabeth, filha de Clarissa, abandona o projeto de ir para uma comemoração beneficente quando jantam e retorna para a casa de ônibus para a festa da mãe, sendo repreendida pela companheira que afirma que sua mãe só pensa em festas. O ônibus atravessa a rua em que Septimus se encontra com a esposa. Quando esta vai receber os enviados do hospital, Septimus joga-se sobre um gradil pontiagudo. Mrs.Dalloway recebe os convidados para sua festa. Inicialmente sente-se grandemente constrangida, principalmente por se encontrar consciente do papel que representa que não se identifica completamente a ela mesma, constrangimento que é reforçado pela inesperada presença de Peter Walsh e de Sally Seton (Badel), agora Lady Rosseter, que a observam. Após uma rápida conversa com o Dr. Hugh Whitbread e sua esposa, que explicam o caso do suicídio de Septimus, Clarissa profundamente abalada, pede licença e se retira para uma varanda onde passa a refletir sobre sua própria vida, todas as mentiras que teve que representar para si própria, sufocando suas próprias emoções, e levando adiante seu casamento com Richard e seu estilo de vida. Enquanto isso, Walsh e Sally Seton relembram na biblioteca sua amizade com Clarissa. Essa após um momento de hesitação no parapeito,em que muitos convidados já se retiram,  resolve não imitar o gesto desesperado de Septimus, e continuar a viver. Conversa com Walsh, e dança junto com este, enquanto Seton dança  com seu marido. No final, uma imagem dos três (Walsh, Seton e Clarissa) quando jovens, sentados no jardim.
Embora consiga ir um pouco além dos geralmente insípidos dramas de costumes de James Ivory, o filme não consegue fugir da difícil tarefa de se adaptar uma autora como Virginia Woolf para a tela. Seja procurando uma proposta mais criativa (como fez Sally Potter em Orlando) ou por esta via mais tradicional, o resultado sempre deixa a desejar. Ainda que com belos momentos, como o da reflexão de Clarissa sobre a vida, o resultado final é insatisfatório e destituído de vida. Gorris, que em certo momento quase descamba para os clichês feministas que saturaram A Excêntrica Família de Antônia, aqui consegue se afastar do tom panfletário e ir  além. Na cena em que Clarissa recebe os convidados procura apresentar um equivalente para o chamado fluxo de consciência de Woolf sem romper com as regras da dramaturgia cinematográfica clássica (utilizando-se da voz over), não indo além de um tosco arremedo. Também não faltam momentos de um involuntário ridículo - como o de Clarissa rodopiando e cantarolando com seu vestido, ainda que Redgrave realize uma sensível interpretação no geral, e os distúrbios psiquiátricos de Septimus ganhem interpretação visivelmente canhestra de Graves. Apesar de se inscrever numa linha de filmes que já foi explorada abusivamente pelo cinema nas duas últimas décadas, consegue ser superior à média, mesmo que Woolf ainda continue a esperar uma adaptação à altura. Paralelos podem ser traçados com Os Vivos e os Mortos (1987), de John Huston. First Look Pictures. 97 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar