Filme do Dia: O Sabor da Melancia (2005), Tsai Ming-liang


O Sabor da Melancia Poster


O Sabor da Melancia (Tian Bian Yi Duo Yun, 2005, França/Taiwan). Direção e Rot. Original: Tsai Ming-Liang. Fotografia: Liao Peng-Jung. Montagem: Chen Sheng-Chang. Dir. de arte: Timmy Yip & Tian Jue Lee. Cenografia: Mei Ching Huang. Figurinos: Huey Mei Sun. Com: Lee Kang-Sheng, Chen Shiang-Chyi, Lu Yi-Ching, Yang Kuei-Mei, Sumomo Yozakura, Hsiao Huan-Wen, Lin Hui-Xun, Jao Kuo-Xuan.
Em um tórrido verão em Taiwan onde as melancias se tornam mais comuns e baratas que a própria água, a jovem dona de locadora de vídeo Shiang-Chyi (Shiang-Chyi) somente recupera sua chave com a ajuda de um ex-amante, Hsiao Kang (Kang-Sheng), que volta a se relacionar com Shiang-Chyi. Hsiao descobre que no andar de cima do apartamento da namorada são produzidos filmes pornôs e se torna astro dos mesmos. Quando procura ajudar uma mulher que encontra sem sentidos no elevador e levá-la para seu apartamento, Shiang descobre se tratar de uma atriz pornô japonesa (Yozakura). Porém, a sua maior surpresa será descobrir que é o par que fará sexo com a atriz mesmo desacordada.
Há momentos em que uma estética do deboche, do escracho total e de um certo cinismo escatológico que sugerem paralelos com  Almodóvar, assim como as cores fortes e a obsessão pelo sexo, porém a construção narrativa dos filmes de Ming-Liang é bastante diversa. Entre suas peculiaridades está a de forjar um estranhamento ao mesclar momentos hilários com planos longos e uma atmosfera que transpira um certo niilismo e cansaço com relação à vida que nada tem de leves. Sua alusão sempre debochada ao universo pornô não deixa de trair um senso crítico implícito com relação à exploração literal e absurda dos corpos, levada ao caricato na cena final. Ao mesmo tempo, existem inserções de números musicais que procuram traduzir as fantasias do casal protagonista. Com exceção desses momentos musicais, que ainda podem ser considerados como obscura tentativa de traçar algum comentário sobre os sentimentos dos personagens, o filme abre mão de qualquer tentativa de psicologização dos mesmos, que são apreciados apenas em suas ações cotidianas e externas. Sim, chega a existir momentos de ternura como o do almoço do casal (evocativos de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa de Allen) mas ainda assim eles não deixam de ser notadamente personagens, completamente chapados e sem qualquer mimetismo que pretenda esboçar profundidade, em viés semelhante, por exemplo, ao do casal de Acossado (1959), de Godard. Foi apresentado na Mostra de São Paulo como Nuvens Carregadas.  Arena Films/Homegreen Films/arte France Cinéma. 114 minutos.



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