Filme do Dia: Gente dell'Aria (1943), Esodo Pratelli



Gente dell’Aria (Itália, 1943). Direção: Esodo Pratelli. Rot. Original: Amadeo Castellazzi, Aldo De Benedetti, Giorgio Pastina, Esodo Pratelli, Renato Simoni, Gugliemo Usellini, sob argumento de Bruno Mussollini. Fotografia: Carlo Montouri. Música: Enzo Masetti. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte & Cenografia: Alfredo Montori. Figurinos: Marina Arcangeli & Luciana De Reutern. Com: Gino Cervi, Antonio Centa,  Antonio Gandusio, Paolo Stoppa, Adriana Benetti, Elisa Cegani, Aldo Silvani, Virgilio Riento.
Pietro Sandri (Cervi) é um admirado capitão da aeronáutica que se enamora de Maria Bossi (Benetti), também objeto de paixão de seu irmão, o playboy inconseqüente Raimondo (Centa). Ambos são filhos do industrial Francesco (Silvani). Raimondo ingressa na força aérea, pois se sente inferiorizado em relação a Pietro e também para conquistar as graças de Maria. Inconformado com a demora para conseguir pilotar um avião, ele voa sem nenhuma ordem superior e demonstra toda sua destreza. Pietro assume ter sido o autor da ordem de vôo e é punido. Franceso, quando sabe do caso, torna-se mais próximo do irmão e é chamado para sua equipe de batalha. O avião é atingido e cai no mar. Os dois e mais três homens enfrentam várias vicissitudes, inclusive a morte de um dos homens, mas são capturados. Ao voltarem para casa, são recepcionados com emoção pelo pai e...por Maria.
A produção contemporânea italiana de filmes de guerra tinha um fraco especial por aqueles envolvendo aviação e aviadores (Un Pilota Ritorna, Uomini e Cieli, Luciano Serra, Piloto), mesmo existindo graus de adesão diferenciados em termos de reprodução do ideário fascista. Esse, com certeza, trata-se dos mais próximos do tom eminentemente apologético, algo que não se pode exatamente dizer dos filmes de De Robertis (Uomini sul Fondo) e Rossellini (Un Pilota Ritorna). Aqui, tudo se constrói a partir da contraposição da rivalidade entre os dois irmãos. O mais imaturo, evidentemente, é associado como representante de uma juventude burguesa liberal, que anda mais preocupado com valores mundanos e fúteis. O outro é um exemplo de abnegação ao próprio país. Contraposição que também é evidenciada pelos tipos físicos. Enquanto o playboy é mais bonito e charmoso (chegando a ser até um pouco afetado, principalmente ao início, quando é mostrado de forma mais antipática) o outro é um tipo bem mais comum, fazendo uso de um recurso também empregado em outras produções de regimes autoritários que pretendiam enfatizar o valor moral da convicção patriótica sobre os interesses mundanos (como, por exemplo, A Queda de Berlim). A contraposição é construída até um determinado momento, quando o irmão playboy também decide ingressar na força aérea. Porém, ainda paira reservas quanto a seu ato, que mais parece ter sido um efeito para impressionar Maria, do que propriamente algo “que vem de dentro”. A situação muda de figura, quando com seu gesto polêmico de demonstrar sua habilidade como piloto galga mais rapidamente na carreira – seria de se esperar uma severa reprovação por seu individualismo e por desobedecer a corporação e a hierarquia. Mesmo então, sua imaturidade ainda é comprovada em alguns momentos, como quando pretende se entregar para os inimigos ou beber água do mar, e é nas duas vezes impedido pelo irmão mais consciente.  A cena da tentativa de se entregar é a mais patética do filme, com direito a proselitismo patriótico proveniente do herói praticamente moribundo. O final, inicialmente enganoso, parece apresentar a felicidade do pai, como forma de evitar o possível conflito entre os irmãos por conta de Maria (o difícil equilíbrio entre melodrama e propaganda aqui se faz mais aparente do que nas produções brasileiras contemporâneas equivalentes com o qual pode ser seguramente comparado), mas em seus últimos segundos apresenta o final convencional que se esperava. Destaque para o momento em que numa situação de conversa feminina em grupo se faz uso de uma montagem bastante picotada, demonstrando uma influência do cinema soviético ainda bem mais capilar do que a de Rossellini (La Nave Bianca).  A figura da mulher mais maternal ou infantilizada, como é o caso aqui, do que propriamente sexuada e autônoma, é habitual na produção italiana do período. Só a escolha de Cervi já sinaliza para o público italiano o perfil heroico do personagem, seja em filmes de época (tais como Ettore Fieramosca) ou contemporâneos como é o caso em questão.  Cines para ENIC. 78 minutos.


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