Filme do Dia: O Cachorro (2004), Carlos Sorin


O Cachorro Poster


O Cachorro (Bombon, el Perro, Argentina/Espanha, 2004). Direção: Carlos Sorin. Rot. Original: Santiago Calori, Salvador Roselli & Carlos Sorin. Fotografia: Hugo Colace. Música: Nicolas Sorin. Montagem: Mohamed Rajid. Dir. de arte: Margarita Jusid. Figurinos: Ruth Fischerman. Com: Juan Villegas, Walter Donado, Gregorio, Micol Estévez, Kita Ca, Pascual Condito, Claudina Fazzini, Carlos Rossi, Mariela Díaz.
Juan “Coco” Villegas (Villegas), mecânico desempregado, vive numa situação precária com a filha (Díaz), marido e neto na Patagônia. Terno e afetuoso, não consegue se fazer impor nos bicos que consegue para faturar algum dinheiro. Certo dia, no entanto, ao ajudar uma jovem com problemas em seu automóvel e rebocá-lo até ao sítio em que mora com sua mãe (Ka), a velha senhora presenteia-o com Bonbon (Gregorio), um dog argentino filho de um famoso campeão que era de seu falecido marido. O cachorro chama a atenção do gerente de um banco (Rossi) que indica que Villegas deve ir atrás do treinador Walter Donado (Donado). Esse se apaixona a primeira vista pelo cachorro e se inicia uma pareceria em que Donado pretende introduzir Bonbon no circuito das exposições caninas tendo como objetivo final o mercado internacional. Terceiro prêmio na primeira exposição que concorre, a carreira do trio, no entanto, vê-se prejudicada pela truculência de Donado em uma festa e, principalmente, pelo desinteresse de Bonbon, o cachorro, de dar cobertura às cadelas de raça, principal forma de ganhar dinheiro no meio. Na festa, Coco Villegas se interessa pela cantora de canções árabes. Donado, decepcionado e bem mais astuto que o ingênuo Coco, decide ficar com o cão em sua casa. Coco, no entanto, se arrepende e retorna para ver o cachorro, mas fica sabendo que ele fugira da casa de Donado. Procura-o um longo tempo até encontrá-lo, cruzando com uma vira-lata e o leva consigo.
Sorin persiste no estilo que já havia demonstrado com seu Histórias Mínimas, com seus retratos em humor discreto de pessoas humildes numa Argentina bastante ressentida com as dificuldades econômicas e falta de emprego – seu longa anterior, inclusive, possuía em uma de suas três tramas principais, a história de um aposentado em busca do cão que se tornara a sua única razão de existir . Seu retrato humanista, digno e não isento de um sentimentalismo que não chega a ser excessivo desses personagens menores, assim como seu interesse pelos excluídos sociais e por uma representação do próprio país, através do recurso às relações transitórias proporcionadas pelo deslocamento e pelas paisagens inóspitas é bastante devedor do Neo-Realismo. Para não comentar de seu interesse por situações do cotidiano, enquanto possibilidades de expressão de uma realidade sócio-cultural, mais que pelas artimanhas dos filmes de gênero. Seus personagens, ainda quando demonstrações das limitações econômicas e culturais, representados sobretudo aqui na figura da cantora pela qual o protagonista se interessa, não deixam de ser observados com carinho. Contribuem grandemente para o filme as boas  interpretações naturalistas do elenco predominantemente amador e semi-amador, com destaque especial para Juan Villegas, admirável como encarnação de uma certa bonomia contida e tímida com relação aos seus próprios interesses, nunca resvalando para o território da mesquinhez. Romikin S.A./Guacamole Films/OK Films./Wanda Visión S.A. 97 minutos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng